A eleição presidencial dos Estados Unidos da América (EUA) de 2024, que ocorrerá no próximo dia 5 de novembro, será a 60ª eleição presidencial quadrienal norte-americana. Num ciclo eleitoral marcado por debates acalorados, protestos e campanhas sobre as questões do aborto, ecnomia, imigração, crime e política externa, a questão que se coloca é se o resultado vai significar um segundo mandato de Donald Trump ou será eleita a primeira mulher presidente dos EUA.
Inicialmente, os candidatos eram Joe Biden e Donald Trump. Mas, em julho, tudo mudou quando, no encerramento da sua campanha, o atual presidente americano retirou a sua candidatura e apoiou a da sua vice, Kamala Harris. No dia 21 de outubro, a sondagem Washington Post-Schar School, realizada nos chamados “swing states”, mostra que os dois candidatos estão empatados nos sete estados decisivos.
De acordo com a notícia d’ O Público, uma sondagem do Washington Post-Schar School, que junta mais de cinco mil eleitores registados, realizada na primeira quinzena de outubro, indicava que Donald Trump e Kamala Harris “estão praticamente empatados nos sete estados decisivos – os “swing states” – entre uma parte crítica do eleitorado”. “47% dos inquiridos afirmam que apoiarão definitiva ou provavelmente Harris, enquanto 47% afirmam que apoiarão definitiva ou provavelmente Trump. Entre os prováveis eleitores, 49% apoiam Harris e 48% apoiam Trump”, especifica a notícia.
“Os EUA é um país cheio de oportunidades”
Michael J. Silva e Alberto Coutinho são filhos de pais portugueses e pertencem a uma comunidade portuguesa em New Jersey.
Michael J . Silva tem 56 anos e é vereador em Newark, New Jersey. “Uma coisa que não faço é dizer às pessoas como votar porque não é o meu trabalho, especialmente, na comunidade portuguesa”, começou por dizer, contando que incentiva as pessoas a verem, ouvirem e pensarem por si. “No canal português, onde faço algumas participações, convido as pessoas a refletirem sobre o que é importante para elas e para as suas famílias e, no final, possam votar de forma consciente e informada”, explicou, assegurando que a comunidade portuguesa envolve-se nas eleições. “Podiam envolver-se mais. Ainda assim, mostram a sua voz quando vão votar”, salientou, afirmando que “os portugueses que nasceram e vivem nos EUA têm uma participação ativa na vida política”.
Já Alberto Coutinho, de 55 anos, é consultor financeiro e, face à sua experiência, chegou a ser deputado. Atualmente, presta apoio governamental e é analista político.
Nascido e criado nos EUA, reconhece os sacrifícios que foram feitos pelos milhares de imigrantes que procuraram o “espírito americano” e “melhores oportunidades económicas”. “Os meus pais, como tantos outros milhões de pessoas, vieram à procura de uma melhor qualidade de vida”, contou. E, neste sentido, o Partido Democrata é o partido com que mais se identifica porque “tem uma visão mais abrangente para todas as pessoas”, ao contrário do Partido Republicano moderno. “Quando fui deputado, pelo Partido Democrata, e embora as minhas ideias económicas sejam conservadoras e alinham-se bastante com o Partido Republicano, mas mais moderado, nunca pude apoiar o Partido Republicano formalmente devido a um certo antagonismo que existia contra os imigrantes”, esclareceu, considerando que as diferentes comunidades estão representadas, “principalmente”, pelo Partido Democrata pela sua “diversificação” de candidatos e deputados.
Michael J . Silva recordou que os pais são democratas porque “sempre trabalharam” e reconhecem o que os EUA lhes ofereceu para conseguirem o que era necessário para eles e seus filhos. “Durante toda a nossa vida, nunca nos faltou nada”, assegurou, frisando que “os EUA é um país cheio de oportunidades”.
“Será uma eleição bastante renhida”
Enquanto apoiante do Partido Democrata, as expectativas de Alberto Coutinho são que Kamala Harrison vença as eleições frente a Donald Trump, muito embora “não consiga fazer prognósticos”. “Será uma eleição bastante renhida”, considerou, numa altura em que havia um empate técnico. “Tudo indica que quem ganhar a Pensilvânia vai ganhar as eleições”, disse, lembrando que, muito republicanos, estão a apoiar a Kamala não por apoiarem as suas políticas, “mas porque acreditam que Donald Trump é um risco para a democracia dos EUA”. “Eu acredito que este país tem pessoas suficientes para evitar que o senhor Trump entre novamente. E, apesar de respeitar as pessoas que apoiam o sentimento republicano, o ex-presidente não tem condições para voltar a assumir o cargo. Por isso, acredito que os votantes independentes, fora das grandes cidades, podem dar a vitória à Kamala”, argumentou, sublinhando que o senso comum entende que “Donald Trump nem deveria estar em cena”.
Face à questão da imigração ilegal, o consultor defende que, a nível federal, é necessário haver “uma solução nacional”. “Infelizmente, a nossa comunidade, aproximadamente 50% da população, não é documentada. São residentes vindos do Equador, Brasil e Portugal”, disse, acusando o Partido Republicano em “não querer uma solução” para este caso, mas “só procura fazer política”. “A fronteira tem de ser fechada seja qual for a política. Nenhum país pode ter as suas fronteiras abertas sem saber quem é que quer entrar. Já sabemos que, depois do 11 de setembro, há pessoas que querem fazer mal aos EUA e, portanto, não se pode ter uma porta completamente aberta”, argumentou, apoiando uma “fronteira segura”. “Esta realidade não é sustentável porque sobrecarrega os governos estaduais e locais, com despesas de ensino e saúde, por exemplo. Ou seja, os impactos económicos e sociais são muitos”, referiu, lembrando ainda “as pessoas que estão na economia clandestina, onde não pagam impostos e etc”. Neste sentido, sugere uma maior fiscalização para “legalizar quem está no país, quem trabalha e quem paga impostos” e “permitir a entrada de outros que querem vir para os EUA trabalhar e não conseguem” devido a “algumas injustiças”. “Há famílias portuguesas que querem vir para os EUA de forma legal e não conseguem. Em contrapartida, outros conseguem entrar de qualquer maneira”, exemplificou.
Sem indicar medidas concretas, Michael J . Silva garante que os imigrantes, como por exemplo, de Portugal, Brasil, Equador, México, Peru e Colômbia vão para os EUA para trabalhar e procurar uma melhor qualidade de vida para si e suas famílias que tentem viver “o sonho americano”. “E, enquanto vereador, procuro ajudar todos”, frisou, defendendo que, para estas eleições, “o importante é que as pessoas votem com responsabilidade”. “Os EUA é um país poderoso com impacto nas guerras que estão a acontecer no mundo, como por exemplo, entre a Rússia e a Ucrânia, e no Médio Oriente. Neste sentido, tem de promover a paz e o respeito porque, no final do dia, temos que nos respeitar uns aos outros”, referiu.
“Os hackers são muito ativos e estão a espalhar notícias falsas”
Nos EUA, quem elege o presidente é o Conselho Eleitoral e esta é, talvez, de acordo com Alberto Coutinho, uma das maiores dúvidas para quem vive fora dos EUA. Aliado a isso, há “algumas questões constitucionais” que podem gerar “estranheza” porque dão direito, por exemplo, a Donald Trump de ser candidato, “apesar dos crimes que estão dependentes do tribunal”. “Para quem não vive aqui, pode parecer estranho”, vincou, alertando para a desinformação e fake news. “Em toda a sua história política, o senhor Trump tem grandes responsabilidades nesta realidade que, hoje, temos de enfrentar. Ele tem feito tudo para descredibilizar os órgãos de comunicação formais através das suas redes sociais, espalhando informação falsa”, criticou, afirmando: “Enquanto analítico político, nunca tinha visto uma campanha, onde o pressuposto é unir as pessoas, a estratégia é dividir e tentar ganhar aparecendo. É uma coisa inédita.”
O consultor financeiro de 55 anos considerou ainda que há países como a Rússia e a China que querem “desestabilizar” os EUA. “Os hackers são muito ativos e estão a espalhar notícias falsas, incentivando movimentos racistas para se mobilizarem e participarem”, acrescentou.
Já Michael J . Silva afirma que “os portugueses são bastante espertos e sabem diferenciar o que e o que não é verdade”. “As pessoas informam-se através da televisão e jornais. A maioria dos portugueses que estão aqui falam e entendem inglês e, por isso, estão atentas”, considerou, sublinhando que “sabem o que está a acontecer no mundo da política dos EUA”. “A comunidade portuguesa está envolvida na vida política. Há muitos portugueses que são deputados e ocupam posições de influência”, exemplificou.
“Nas eleições presenciais, a participação é maciça”
Relativamente a números na participação nas eleições, Alberto Coutinho sublinha que difere consoante a eleição (federal, estadual e local). “Nas eleições presenciais, a participação é maciça. Deve atingir uma percentagem entre os 70% a 75% dos eleitores”, disse, apontando: “Aproximadamente, a participação seria 75% nas eleições federais, 50% nas eleições estaduais e, infelizmente, nas municipais, nem atingem os 25%. Já no que diz respeito à abstenção serão 25% federais, 50% estaduais e 75% locais.”
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