Cláudia Santos é professora de inglês na Escola Secundária de Santa Maria Maior, em Viana do Castelo, e venceu, recentemente, o Prémio Professor Bibliotecário. Não tinha intenção de participar, mas foi com “muito orgulho” que viu o seu trabalho ser reconhecido quer pelo Agrupamento, que pela mão da diretora que fez a candidatura, quer pela Rede de Bibliotecas Escolares (RBE). Julga que se destacou pelos projetos “contínuos” sobre a literacia dos média, como é exemplo a TVnaMaior. Um projeto “muito acarinhado” por todos.
Tem 49 anos e é de Viana do Castelo. Chegou à Biblioteca em 2007 na Escola Básica de Távora, em Arcos de Valdevez, onde ocupou o cargo de coordenadora. Em 2009, quando surgiu a lei de professor bibliotecário, concorreu a um concurso para o Agrupamento de Escolas de Santa Maria Maior e conseguiu o lugar que ocupa hoje: professora bibliotecária. Contudo, tem ainda componente letiva, dando aulas de inglês a uma turma, como é estipulado por lei.
Desde então, tem desenvolvido vários projetos com os alunos sobre a literacia da informação, da leitura e dos média. “O feedback dos alunos é muito bom. Eles são muito recetivos a estas sessões de trabalho. Conseguem ver o uso prático daquilo que vêm fazer comigo à biblioteca, e conseguem perceber que são ferramentas que os vão ajudar a ser melhores alunos, mas também a ser melhores cidadãos, porque vão estar mais bem preparados para enfrentar os desafios de uma sociedade que é muito volátil e dominada pela informação e muita desinformação”, confidenciou, referindo que têm apostado “muito” em projetos sobre a literacia dos média, que visam “confrontar os alunos com os meios de comunicação social e os conteúdos mediáticos. “Fico muito preocupada quando os alunos chegam às sessões comigo e dizem que estão muito bem informados porque se informam nas redes sociais. As redes sociais não nos dão a realidade toda e, muitas vezes, eles não têm consciência. E, por isso, o trabalho de um bibliotecário também é consciencializá-los para que percebam que podem ser manipulados pelas redes sociais”, contou, reconhecendo que os alunos percebem que “é importante comparar fontes de informação, tanto quando estão a fazer um trabalho para uma disciplina, como no momento em que estão, por exemplo, a ler notícias”. “Temos alguns projetos que implicam e envolvem os alunos na leitura de jornais e revistas, que é uma coisa que habitualmente não fazem, porque, para eles, é quase como um objeto estranho. Eles não vêm ler por ler. Eles têm sempre de produzir alguma coisa depois. Um produto criativo, original e pessoal a partir daquilo que leem, mas, quando vêm o jornal “Público” ou a revista ‘Visão’, vêm-me dizer que, afinal, o jornal tem coisas igualmente interessantes. Isto já diz muito”, exemplificou, salientando: “Temos de lhes mostrar que estes meios de comunicação também são credíveis.”
A professora confidencia ainda que as novas tecnologias trouxeram desafios às bibliotecas. No entanto, tem trabalhado juntamente com a professora Nelma Nunes, bibliotecária da Escola EB23 Frei Bartolomeu dos Mártires, para “encontrar um equilíbrio entre o que é mais tradicional e o mais atual” para que os alunos possam utilizá-los de forma ética e responsável, respeitando os direitos de autor e desenvolvendo o espírito crítico. “Os livros continuam a ser importantes. Se calhar agora mais, no sentido de contrariar a superficialidade da internet e das redes sociais. Esse é o maior desafio, assim como motivar/incentivar os alunos à leitura, desenvolvendo neles competências de leitura que lhes permitam ter, depois, o prazer de ler”, considerou, enaltecendo o trabalho desenvolvido sobre a literacia de informação, que “envolve diferentes ações ao longo do ano com os alunos”. “Pretendemos capacitá-los a ser melhores utilizadores da informação”, afirmou, especificando: “Quando falo em capacitações, são das mais diversas como saber distinguir a informação da internet credível da não credível, saber identificar as fake news para se defenderem contra a desinformação, mas também, por exemplo, saberem distinguir os algoritmos das redes sociais, que lhes mostram apenas uma parcela da realidade e que acabam por manipular a sua forma de ver a realidade e as suas opiniões. Ou seja, capacitar os alunos para os ajudar no seu desenvolvimento escolar, melhorando os seus resultados.”
Para Cláudia Santos, uma das mais-valias das Bibliotecas Escolares é que “o professor bibliotecário nunca trabalha sozinho”, contando com o apoio dos professores. “Os projetos que faço aqui na biblioteca são em articulação, ou com determinado curso, ou determinado departamento curricular. Também trabalho muito em articulação com os diretores de turma”, explicou, frisando que os alunos reconhecem a importância dos vários projetos desenvolvidos em sala de aula para as suas aprendizagens.
Entre junho e julho, a Escola desenvolveu uma auscultação e a Biblioteca teve uma média diária de 400 utilizadores, essencialmente alunos, mas também professores. “Vêm autonomamente e procuram este espaço para ler, estudar ou fazer os seus trabalhos escolares. Muitas vezes, vêm individualmente. No entanto, também procuram trabalhar em grupo. E, portanto, é um dia-a-dia de muito trabalho, mas muito recompensador. É a sensação de dever comprido”, disse, garantindo que os alunos valorizam aquele espaço para ler, estudar e fazer os seus trabalhos. “Estou cada vez mais ciente de que quem lê é melhor aluno. Há muitos estudos que o confirmam e falo disso, muitas vezes, com os alunos com quem trabalho”, defendeu, dando nota que têm muitos projetos dedicados à leitura. “As três bibliotecas do Agrupamento têm o selo Ler + por causa das dinâmicas desenvolvidas em prol da promoção da leitura. Alguns dos projetos são completamente livres. Os alunos escolhem um livro para ler. Podem ler um da biblioteca, ou um de casa. É ler pelo prazer de ler. A ideia é que desenvolvam gosto pela leitura”, afirmou, salientando a iniciativa em que os alunos, nas salas, leem 10 minutos antes de começar as aulas. “Estas iniciativas têm efeitos extraordinários aqui na escola, porque se verifica, nos alunos que assumem que nunca leram um livro, que, após a primeira leitura, vêm orgulhosos. Acham piada e percebem que tiram alguma coisa dali”, afirmou.
Outra das iniciativas de leitura desafia os alunos a criar um produto final e original, implicando criatividade e espírito crítico. “No âmbito do concurso nacional ‘Miúdos a voto’, temos realizado vídeos promocionais de livros, podcasts sobre um livro, debates sobre livros, e cartazes promocionais, em que o produto é o livro”, acrescentou, reconhecendo a “complexidade”, uma vez que “exige uma aprendizagem com as ferramentas digitais e equipamentos audiovisuais”. “Implica um trabalho que ajuda os alunos no seu desenvolvimento, enquanto estudantes e enquanto cidadãos”, salientou.
Este ano, a diretora Sílvia Vidinha inscreveu Cláudia Santos no Prémio Professor Bibliotecário e venceu, arrecadando 2.500 euros para as três bibliotecas do Agrupamento. “Quando soube que venci, foi motivo de grande orgulho. É o reconhecimento de muitos anos de dedicação”, admitiu, frisando que “há muitos professores bibliotecários a trabalhar bem”. “O que poderá ter sido diferenciador, em relação ao meu trabalho, é o que tenho feito na literacia dos média, nomeadamente, a criação da rádio (Maior FM) e da televisão online (TVnaMaior). “São projetos de continuidade que contam com apoios internos e externos, em que participam várias turmas e professores”, afirmou.
A TVnaMaior é, de acordo com a professora de inglês, “muito conhecida e acarinhada” pelo Agrupamento porque “promove um encontro de interesses entre alunos de cursos diferentes” e pela RBE. “É um projeto financiado pela RBE e decorre em parceria com o curso de audiovisuais”, explicou, contando que tem uma equipa de jornalistas e de técnicos audiovisuais. “Felizmente, temos muito feedback, principalmente dos pais dos alunos que estão envolvidos nas atividades. Eles apreciam muito as atividades desenvolvidas com a biblioteca”, referiu, revelando que, quando publicam alguma coisa nova na página de Facebook sobre as três escolas, “os likes caem às dezenas”.
Quanto aos 2.500 euros, são para livros. “Temos muitos projetos no âmbito da leitura a decorrer e, por isso, temos de ter uma oferta cada vez maior; é uma preocupação nossa: variada, atual, diversificada, que vá ao encontro dos interesses dos alunos e das questões sociais que estão na ordem do dia”, salientou, enaltecendo a dinâmica de trabalho com a professora Nelma Nunes. “Agarramos todas as oportunidades/ candidaturas para financiamento. Quase todos os anos, ou através do Plano Nacional de Leitura ou da RBE, conseguimos uma verba considerável, conseguindo atualizar todos os anos a coleção com um número considerável de títulos novos”, garantiu, revelando que estão a preparar novos projetos “muito originais” e que agradarão aos alunos. “Manter os projetos exige muito trabalho constante, para desenvolver ideias novas. O segredo é nunca parar, mas sem a RBE seria mais difícil. Na minha opinião, é um dos elementos fundamentais do nosso contexto educativo em Portugal. Está ali para trazer inovação, criatividade e ideias novas às escolas. Ajuda-nos muito ao promover candidaturas, porque nos lança novos desafios e dá impulso para que estejamos sempre a mexer”, afirmou.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.