Chamado ao consultório: Natural é melhor do que químico – será mesmo assim?

Todos nós temos um amigo que se recusa a tomar produtos químicos “porque os produtos naturais são melhores e não fazem mal”. Mas será mesmo assim? Este mês é Chamado ao Consultório para refletirmos sobre este assunto.

Desde que nascemos, somos ensinados a associar a palavra “natural” ao que é bom e faz bem. Se pensarmos na essência da palavra, um produto natural, no fundo, é aquele que existe sem que haja intervenção humana. Mas será que um produto natural é necessariamente seguro? A resposta é simples – não. Dou um exemplo: os cogumelos selvagens, apesar de naturais, muitos deles são altamente venenosos e, por isso, perigosos.

Quando falamos de produtos químicos, a maior parte das vezes, queremos referir-nos a produtos artificiais ou sintetizados por humanos. E é aqui que está uma das grandes confusões a propósito deste tema. No sentido literal, um químico é um conjunto de átomos ou moléculas e não há nada na natureza que não seja constituído por átomos ou moléculas, ou seja, químicos. Por isso, a ideia de que os medicamentos à base de plantas são considerados tratamentos naturais, por não conterem químicos, é uma ideia falsa. Além disso, estes são produzidos sem qualquer teste de segurança ou eficácia e, muitas vezes, o rótulo não corresponde ao conteúdo e o próprio nome engana. Por outro lado, todos os medicamentos sintetizados em laboratório são submetidos a uma série de testes, num processo longo, rigoroso e complexo, demorando vários anos até serem aprovados pela autoridade do medicamento, o que só por si já nos leva a concluir que, à partida, serão mais seguros.

Como percebemos, tanto os medicamentos, como os produtos ditos naturais têm princípios ativos, isto é, substâncias químicas, que provocam determinado efeito no organismo, e que em doses elevadas podem ser tóxicas. Além do mais, esses produtos, por via das moléculas presentes na sua constituição, podem interagir com os medicamentos que está a tomar, potenciando, minimizando ou até anulando o efeito dos mesmos. Por esse motivo, é fundamental informar sempre o seu médico de qualquer produto que esteja a tomar, inclusive chás ou infusões.

E se isto ainda não foi suficiente para o convencer de que a “química” não é o bicho de sete cabeças que sempre lhe pintaram, lembre-se que é graças a ela que hoje temos produtos que permitem salvar vidas, sejam eles quimioterapia, insulinas ou vacinas.

Bem sei que o marketing faz com que, todos os dias, entre em nossas casas a ideia de que os produtos naturais são melhores que os artificiais, mas espero que, depois de hoje, pense melhor nisso.