Chamado ao Consultório: Colocar manteiga ou pasta de dentes nas queimaduras – sim ou não?

Maria Luís Cambão
1 Jul. 2024 3 mins
Maria Cambão

Este mês, é Chamado ao Consultório para falar sobre queimaduras, ou, para ser mais correta, sobre como agir quando elas acontecem. Certamente já todos fomos aconselhados com alguma mezinha, como “vai pôr manteiga” ou “põe pasta de dentes”. Mas será que existe algum fundamento nestas recomendações? De facto, não. Apesar de ser uma ideia enraizada em muitas gerações, a verdade é que a utilização de manteiga ou de pasta de dentes para tratar queimaduras, não só não é benéfica, como ainda prolonga a dor associada às mesmas e dificulta a avaliação médica.

A ideia de utilizar manteiga nas queimaduras provém de um dos primeiros manuais de primeiros socorros, escrito por Friedrich Von Esmarch, cirurgião do exército da Prússia, no século XIX. Nessa altura, o objetivo da utilização de manteiga nos campos de batalha era fechar feridas dos soldados, impedindo que estas entrassem em contacto com a terra e a sujidade e ficassem infetadas. No entanto, com a evolução da Medicina, percebeu-se que a lesão provocada por uma queimadura deve permanecer aberta, para que o calor seja libertado, pois caso contrário, o dano aos tecidos agravar-se-á. Assim, fica percetível que, ao colocar manteiga na queimadura, a gordura irá derreter, impedindo a libertação de calor, fazendo com que mais tecidos fiquem queimados. Além disso, o facto de fechar a ferida aumenta, por si só, o risco de infeção. O mesmo se poderá dizer em relação à pasta de dentes, que, embora possa causar um alívio momentâneo “pelo fresquinho” provocado pelo mentol, acaba por agravar a inflamação, tendo um efeito irritativo, e, não sendo algo estéril, podendo promover a infeção da queimadura.

As queimaduras são, de facto, acidentes muito frequentes, existindo vários graus, de acordo com a profundidade com que atingem a pele. As de primeiro grau são as mais superficiais, atingindo apenas a epiderme. Nestas, a pele habitualmente fica vermelha, com sensação de calor e dor. As de segundo grau atingem a derme, ficando a pele mais vermelha, com edema, podendo surgir bolhas, que não devem ser furadas. Nestes casos, habitualmente a dor é intensa. Já as de terceiro grau são as mais profundas, havendo destruição da pele e de outros tecidos. Apesar de mais graves, estas podem não causar dor, uma vez que as terminações nervosas responsáveis pela sensibilidade à dor, foram também queimadas.

Como devemos então proceder perante uma queimadura? Em primeiro lugar, e garantindo que estão reunidas as condições de segurança, devemos afastar o agente que está a provocar a queimadura. De seguida, a região queimada deve ser arrefecida com água fria corrente, até haver um alívio da dor. Isto vai diminuir a temperatura da pele e interromper o processo de queimadura, limitando a sua extensão. Outra alternativa é cobrir as áreas queimadas com compressas humedecidas com soro fisiológico ou água. Não utilize gelo. No caso de existirem roupas coladas ao corpo queimado, estas não devem ser removidas até ter ajuda médica.

Em suma, o mais importante a reter é que, em caso de queimadura, deve utilizar água fria corrente e nunca gelo, pasta de dentes, manteiga, azeite ou outro tipo de produtos para a arrefecer ou hidratar, pois poderão agravar as lesões.

 

Tags Opinião

Em Destaque

Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

Opinião

Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

Explore outras categorias