Chamado ao Consultório: As constipações e as malditas correntes de ar

Maria Luís Cambão
1 Out. 2024 3 mins
Maria Cambão

Se, tal como eu, cresceu a ouvir recomendações como “Fecha a janela, olha que ainda apanhas uma pneumonia!”, certamente faz parte da grande massa populacional a quem sempre fizeram crer no perigo do frio e, sobretudo, das temíveis correntes de ar. Pois bem, este mês somos Chamados ao Consultório para, mais uma vez, abrir guerra com as avós e desfazer mais um mito.

Embora esta ideia esteja demasiado enraizada na nossa população, teimando em passar de geração em geração, acredito que não será difícil compreendermos o racional sobre este assunto.

Quando falamos de correntes de ar, no fundo, falamos de um fluxo de ar, o mesmo que respiramos, mas que, de forma simplista, circula com maior velocidade. Todas as infeções respiratórias, sejam constipações, gripes, otites ou pneumonias, são provocadas por microrganismos (como vírus ou bactérias), que entram no nosso organismo através do nariz ou da boca, após o contacto com partículas infetadas. Ou seja, apesar das correntes de ar poderem ser desagradáveis, causando algum frio, elas, por si só, não provocam qualquer tipo de infeção. E quem fala de correntes de ar, fala, também, por exemplo, de andar descalço ou de sair de casa com o cabelo molhado. Qualquer uma destas situações pode ser desconfortável por provocar frio, mas não irá contrair nenhuma infeção só por sentir frio. Resumindo, para termos alguma infeção respiratória, é necessário que haja um contacto das nossas vias respiratórias com os microrganismos, e isso, em nada tem a ver com estar frio ou não. Dando um exemplo prático, pode ficar doente por um colega de trabalho estar a tossir enquanto conversa consigo, mas não ficará doente por ele ter deixado a janela aberta.

Uma das coisas que poderá estar por trás da existência deste mito é o facto de existirem, efetivamente, mais infeções respiratórias nos meses frios de inverno. O que acontece, na verdade, é que a maioria dos agentes infeciosos, sobretudo alguns vírus, gostam mais de ambientes mais frios, onde se conseguem replicar melhor, e, consequentemente, circular em maior número. Além disso, o facto de no inverno frequentarmos mais espaços fechados, com menos ventilação, condiciona-nos uma maior probabilidade de contactarmos com estes microrganismos.

Assim, o meu conselho para se proteger das infeções respiratórias é que procure manter uma boa higiene das mãos, evite o contacto com pessoas doentes e utilize máscara sempre que estiver com sintomas respiratórios. Tirando isso, pode andar descalço à vontade ou sair de casa com o cabelo molhado e, se estiver com frio, vá fechar a janela, mas apenas para ficar mais confortável.

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