Se para muitos a palavra Natal se associa a mesa cheia, família reunida e um pinheirinho recheado de presentes, para tantos outros ela não passará de solidão, ansiedade ou depressão. Porque será?
De facto, nesta altura do ano, somos bombardeados, diariamente, através da televisão, cartazes publicitários ou anúncios de rádio, com imagens que nos vendem uma realidade perfeita: famílias de relações ideias, empregos justos e onde todos se dão bem, jantares de Natal nas empresas com abraços e prendas para todos, já para não falar de todo o apelo ao consumismo desmedido. Infelizmente, para a maioria de nós, a realidade é bem mais imperfeita. O resultado? A criação de expectativas que nunca são atingidas. O presente que não se pôde dar. O amigo que continua chateado e sem falar para mim. A consoada sem o pai discutir com o tio porque naquele lance o penalti foi mal assinalado e quem devia ter ganho era o Benfica. Os tios da França que voltaram a não conseguir vir cá no Natal… enfim. Esta sim, é a verdadeira causa de o Natal significar, para muitos, tristeza e depressão. E para aqueles que já se sentem tristes, esta época pode trazer um sofrimento redobrado. A nossa mente pode tornar-se um verdadeiro Grinch*, que todos os anos teima em estragar o Natal.
Mas será esta tristeza a única saída, mesmo quando a realidade é assim tão imperfeita e diferente da que nos vendem? Este mês, é Chamado ao Consultório para lhe tentar mostrar que pode ser possível minimizar esse sentimento e viver um Natal um pouco mais feliz.
Apesar de todo o marketing que existe nesta época festiva, é, também, nesta altura do ano que mais somos chamados a ser solidários. Quando partilhamos algo ou praticamos boas ações, sentimos que estamos a ajudar os outros e a fazê-los mais felizes. Mas será só mesmo assim? Na verdade, vários estudos comprovam que ajudar os outros regularmente faz bem à saúde física e mental. E isto não será novidade. Apesar de estudar cientificamente a bondade ser algo difícil e com muitos vieses, todos já nos sentimos melhor depois de ouvir um amigo que estava em baixo ou de ceder o lugar no autocarro a um idoso. E, de facto, cada vez temos mais evidência que explica porque é que as boas ações nos fazem sentir bem.
A noção de que somos úteis e ajudamos alguém leva à libertação de oxitocina e serotonina, duas hormonas que nos fazem sentir prazer e felicidade e, ainda, reduzir os níveis de stress, fator de risco conhecido para várias doenças, como, por exemplo, a hipertensão. Há, ainda, estudos que mostram que as ações de voluntariado ajudam não só os outros, como o próprio, provocando uma melhoria da satisfação pessoal, da autoestima e da coesão social. Outro ponto positivo, é que a bondade parece ser contagiosa. Se alguém praticar uma boa ação comigo, é mais provável que eu sinta que o meu dia está a correr bem e tenha predisposição para ser mais generoso e bondoso para com os próximos com quem me cruzar durante o dia.
É verdade, realmente podem existir motivos para estarmos tristes e achar que, simplesmente por ser Natal, é errado sentirmo-nos assim, também não é correto, nem justo. Assim, o meu conselho de saúde para este Natal é que esteja atento ao que os rodeiam. Seja generoso, lembre-se dos outros, cuide deles, esteja presente. Não custa dinheiro e está a cuidar da sua própria saúde mental e da dos outros.
P.S. Aproveite a quadra festiva, mas beba com moderação. Um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!
*Grinch – personagem popularizada num filme de animação; é uma criatura verde rabugenta que odeia o espírito natalício e faz tudo para acabar com o Natal.
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