De acordo com o relatório de junho sobre a situação mundial de álcool, saúde e o tratamento de transtornos por uso de substâncias, realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de três milhões de pessoas morrem, por ano, devido ao consumo de álcool e de drogas psicoativas. Em Portugal, é ao Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências (ICAD, I.P.) que cabe a responsabilidade da prevenção, tratamento e reinserção de pessoas com comportamentos aditivos e dependência. E, neste sentido, o Notícias de Viana foi conhecer o Centro de Respostas Integradas de Viana do Castelo.
Os dados da OMS, referentes a 2019, revelam que 2,6 milhões de mortes por ano estão relacionadas ao consumo de álcool, representando 4,7% de todas as mortes, e 0,6 milhão de mortes por uso de drogas psicoativas. A maioria das mortes ocorreram entre os homens.
Em Portugal, segundo os dados do ICAD, em 2022, registaram-se 891 novos utentes que iniciaram o tratamento, tendo como substância principal a cannabis e, no tratamento por consumo de álcool (ambulatório na rede pública), o número de utentes foi de 13 827. E, o total de casos de VIH associados à toxicodependência foi de 20.
Mais concretamente, no Alto Minho, através do Centro de Respostas Integradas de Viana do Castelo, que surgiu em 2007, “não tem havido uma grande evolução”. Quem o afirma é o coordenador Augusto Martins que contou que, durante o período pandémico, “existiram recaídas de doentes” que já não estavam no CRI e “voltaram a pedir ajuda”.
Desde 2007 para cá, o sociólogo de formação explicou ainda que “há uma inversão nos cuidados prestados”. “Temos mais doentes ligados ao consumo de álcool do que doentes ligados a outras substâncias ilícitas”, revelou, indicando que “cerca de 52% da população, em tratamento, corresponde ao consumo de álcool e 48% de outras substâncias”. “Há mais homens do que mulheres”, assegurou, acrescentando que “os doentes das ilícitas são uma população mais envelhecida, com problemas orgânicos, que surgiram com o avançar da idade”. “Nos alcoólicos, temos uma população mais heterogênea (jovens e adultos)”, referiu.
Dos 884 doentes ativos, o CRI tem 438 dizem respeito ao consumo do álcool e os restantes estão distribuídos por outras substâncias, desde heroína, cocaína, entre outras. Para justificar esta diferença, Augusto Martins lamenta a facilidade no acesso, apesar da lei proibir a venda a menores, e critica a aceitação cultural. “Não fazemos uma festa em nossa casa sem celebrarmos com o álcool. E, acabamos por promover esta ideia dentro da nossa família, passando de geração em geração. Isto confere ao álcool uma capacidade de maior atração comparativamente a outras substâncias”, argumenta.
Dos dez concelhos, “só três” (Melgaço, Monção e Valença) é que não registam o maior número de utentes no tratamento do consumo do álcool. “O resto dos concelhos é prevalente, com algum destaque para Viana do Castelo, mas é uma questão de proximidade à sede”, especificou, assegurando que “não há falta de respostas” porque “estão a ser dadas de acordo com aquilo que o país pode dar”. “Em alguns concelhos mais distantes, para permitir acessos facilitados, celebramos protocolos com as autarquias de Arcos de Valdevez, Monção, Ponte da Barca e Valença que fornecem o transporte a doentes com carências económicas”, exemplificou, salientando que, “se for necessário e se comprovar a incapacidade econômica”, o CRI arranja transporte não urgente para alguns dos utentes. E, recentemente, criaram uma consulta descentralizada em Arcos de Valdevez.
O CRI, que integra o Serviço Nacional de Saúde (SNS), tem quatro áreas de intervenção que vão desde a prevenção, a redução de riscos, a reinserção social até ao tratamento. “Entendemos que tratar e reinserir estão interligados porque sem cuidar, em primeiro lugar, das necessidades básicas, não é possível tratar. Já a redução de riscos tem a ver com uma intervenção naqueles doentes que, não tendo critério para estarem em tratamento porque não querem ou estão extremamente desestruturados para assumir uma regra mais restrita no tratamento, recebem alguns cuidados para, se quiserem consumir, que o façam com maior segurança e com menos riscos para a sua saúde”, salientou.
Atualmente, a equipa integra dois médicos, três enfermeiros, um sociólogo, três assistentes sociais, dois psicólogos e três administrativas. “Temos uma lista de espera e o tempo máximo passou para 14 dias e o CRI de Viana do Castelo tem respondido em menos desses dias, portanto, temos os recursos suficientes para dar as respostas necessárias”, garantiu o coordenador, explicando que os utentes são referenciados pelos médicos de família, cuidados hospitalares, tribunais, Direção Geral da Reinserção, Núcleos de reinserção ou redes sociais da autarquia, Comissões de Proteção de Crianças e Jovens, família ou pelo próprio. No entanto, “o doente tem de dar sempre o seu consentimento”.
O tratamento é “completamente gratuito” e ambulatório. “Na nossa área é difícil de caracterizar um caso de sucesso. Para nós, será sempre o doente ter alta clínica e ter a sua vida estabilizada em termos sociais e familiares”, confidenciou, reforçando que o CRI quer “agir em todas as áreas da vida do utente”. “Também temos doentes para a vida, permitindo-lhes uma vida “normal”, com a sua integração socioprofissional, familiar e pessoal e controlados em termos de saúde na sua patologia aditiva”, concluiu.
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