Casa Sacerdotal abraça projeto intergeracional

Manuel, António e Aida têm 82, 77 e 84 anos respetivamente e são utentes da Casa Sacerdotal da Diocese de Viana do Castelo, em Darque. Por de trás de um vidro e com máscara, contaram a sua experiência no projeto “U BAGGHIU, Espaço de Reuniões e Experiências”, que visa “oferecer aos jovens um caminho de crescimento”. O convite surgiu da Escola Básica de Cabedelo e, de acordo com a animadora sociocultural, Rosália Peixoto, veio na altura “certa”, tornando-se “uma mais valia a todos os níveis”.

Notícias de Viana
21 Mai. 2021 6 mins
Casa Sacerdotal abraça projeto intergeracional

“U BAGGHIU” é “um lugar real e virtual” capaz de conter e dar vida a uma interação alternativa, que permite conter a distância e a solidão dos avós, através de um criativo e de uma comunicação digital com as crianças. “Infelizmente, devido à pandemia, vivemos num ambiente fechado, mas temos muita sorte em ter um espaço grande, exterior, que nos ajuda bastante. Contudo, há pouco contacto humano, e este projeto tornou-se numa janela para o exterior, embora nestes moldes, marcado pela distância. “Há sempre o contacto com o outro”, afirmou a animadora sociocultural Rosália Peixoto, explicando que aceitaram a parceria porque “havia uma lacuna no trabalho com os idosos”, nomeadamente, no contacto intergeracional. “Permitiu que eles se mobilizassem mais em tarefas que acreditavam que não tinham capacidade para desempenhar ou até que, anteriormente, já nem lhes interessavam ou porque não iam gostar, ou não valia a pena”, considerou.

O projeto intergeracional, que decorrerá durante este ano letivo, engloba 140 alunos e cerca de 110 idosos de Itália, Portugal, Espanha, Arménia e Roménia. Em Viana do Castelo, a turma do 2º ano da Escola Básica do Cabedelo associou-se ao projeto e tornou-se um dos cofundadores. “Desde o princípio que achámos interessante a ligação entre estas duas gerações. Sentimos que as crianças têm muito a aprender com os idosos, assim como os idosos com as crianças, porque as suas realidades são completamente opostas. A vida mudou muito nas últimas décadas”, afirmou José Moreno, professor do 1º ciclo e coordenador do projeto. 

Até ao momento, as crianças e os idosos participaram num conjunto de tarefas sob os temas: os meios de comunicação antigos, as máscaras de Carnaval e o Dia da Mãe. Atualmente, têm em mãos os trabalhos da Páscoa e da Primavera. O feedback tem sido “muito positivo”. “As crianças estão muito recetivas e todas as semanas perguntam pelos idosos, e se vamos ter mais atividades em conjunto. Sinto até que ficam muito curiosas com aquilo que acontece no lar deles”, contou, admitindo: “Ao mesmo tempo, este projeto tem sido interessante porque as crianças levam os trabalhos para sua casa e, consequentemente, têm um envolvimento maior com os seus avós. Ou seja, conseguimos criar um espaço quase mágico, em que promovemos uma aproximação enorme entre estas duas gerações. Está a ser um sucesso.” 

“Fiquei agradavelmente surpreendida com o envolvimento deles”

Dos entre doze a dez idosos que participam no projeto, estão incluídos os padres Manuel Domingues e António Torre, e Aida da Rocha. “Fiquei agradavelmente surpreendida com o envolvimento deles. Inicialmente só perguntavam pelas crianças quando abordava o projeto, mas, como já sabem que consiste numa partilha, envolvem-se de imediato e perguntam por eles”, contou a animadora, admitindo: “Pensava que seria complicado, mas temos conseguido gerir bem o tempo dentro da rotina deles, até porque já utilizo o tempo mais livre para estas atividades. A planificação é mais exaustiva, para garantir que mais gente participe nas atividades e não seja destinada a pequenos grupos. Tem sido agradável ver, e fácil ultrapassar essa dificuldade. Aliás, tento organizar as tarefas para que possam contribuir no projeto, nem que seja com uma mais simples.” 

“As nossas crianças precisam dos idosos e os idosos das crianças”

“Naturalmente, tudo o que sabemos aprendemos com alguém. Às vezes, temos a mania de dizer que ensinamos muito, mas aprendemos muito mais e, em particular, com as crianças. Tudo o que seja criar laços intergeracionais é fundamental, nos tempos de hoje. As nossas crianças precisam dos idosos e os idosos das crianças. Só assim temos uma sociedade equilibrada, porque só crianças, seria demasiada verdura, e só idosos, seria velhice. Assim, temos uma verdadeira comunicação”, considerou Manuel Domingues. “Todos os projetos que permitam o contacto com as crianças e idosos são muito importantes e interessantes, a todos os níveis. São iniciativas que mostram que todos fazemos falta”, acrescentou António Torre.

Aida Rocha também partilha a mesma opinião. “O projeto é bom. Tenho trabalhado juntamente com a animadora. Fiz postais, participei num vídeo e, mais recentemente, partilhei algumas receitas antigas com as crianças”, contou, frisando que “aprender nunca é demais”. “Este projeto tem-me ensinado muita coisa. Não somos só nós a ensinar”, disse, entre risos.

“A experiência é fixe, embora seja à distância”

Maria, Rafael e João Pedro, têm sete e oito anos e são alunos do 2º ano na Escola Básica de Cabedelo, em Viana do Castelo. São três dos mais de 20 alunos que têm participado no projeto e, apesar do conceito “fazer amigos” incluir o encontro presencial, garantem que conheceram “muito meninos” de outros países através do inglês. “Estou a gostar muito. Conhecemos os meios de comunicação antigos, fizemos máscaras para o Carnaval, celebrámos o Dia da Mãe e estamos agora a preparar os trabalhos sobre a Primavera e a Páscoa. Tudo isto é partilhado com os velhinhos e com os meninos de outros países, através de vídeos. Além disso, já fizemos uma videochamada na sala, numa tela gigante”, contou Maria Paço, acrescentando: “Não conheci meninos por causa da pandemia. Só os vejo pela Internet e, como não sabemos falar inglês, pedimos ajuda ao professor e ao nosso amigo Rafael, que fala muito bem. Ele é o nosso porta-voz, e diz tudo o que queremos dizer aos outros meninos.” 

Rafael Simões, de sete anos, afirmou também “adorar” o projeto. “Nasci em Portugal, mas depois fui para Inglaterra, onde fiquei durante quatro anos”, contou, admitindo que foi “muito fácil” aprender inglês. “A experiência é fixe, embora seja à distância. Os meninos falam mais ou menos inglês, mas estou a gostar muito”, garantiu. 

Já João Pedro Gomes, de oito anos, é do ensino especial e, apesar de mostrar alguma timidez, afirmou gostar “muito” do projeto. “Tenho gostado muito de conhecer os meninos de outros países. O professor e o Rafael têm ajudado a comunicar com os outros meninos”, referiu. 

Para o futuro, o professor e coordenador José Moreno pretende alargar o projeto “U BAGGHIU, Espaço de Reuniões e Experiências” a outras escolas e incluir novos parceiros.

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