Natural de Vila Nova de Anha, a família Maciel partiu, em 2015, de Viana do Castelo até Santiago de Compostela. Com a mãe a ocupar o cargo de vice-presidente da Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Viana do Castelo (AACS), Carolina, a mais nova da família, deixou-se levar pelo “bichinho”.
Durante o caminho, a família apercebeu-se que muitos “peregrinos se perdiam ou não tinham local onde pernoitar” e, em 2017, criaram, em conjunto com a AACS, um ponto de acolhimento e de informação na capela da Senhora do Porto, em Darque para “ajudá-los”.
“O facto de estarmos todos os dias no posto de informação, em Darque, alertou-nos para outro problema, a falta de albergues”, começou por explicar Carolina, acrescentando que os contactos que tinham dos espaços na cidade, muitos deles, “já não tinham capacidade de acolher mais peregrinos”.
“Infelizmente, muitas vezes, chegamos a colocar peregrinos a dormir no chão, na sede dos escuteiros de Darque, porque não tinham mais soluções”, adianta.
Confrontada com as dificuldades enfrentadas pelos peregrinos, a família Maciel procurou dar uma “maior resposta”, em particular, ao descanso de quem, diariamente, experimenta o esforço físico da caminhada.
“Este ano, começamos a pensar e a falar entre todos de que a garagem poderia ser transformada num albergue e, em vez de procurarmos edifícios fora do nosso núcleo, porque não incluí-lo na nossa casa?”, referiu Carolina.
A jovem de Vila Nova de Anha foi escolhida pela família para ficar à frente do projeto batizado com o nome de Casa da Carolina.
A facilidade em comunicação em diversas línguas “ajuda na comunicação com os peregrinos”, e permite-lhe “conciliar outros trabalhos que lhe possam surgir no futuro como freelancer”.
“A minha formação superior em tradução o vem facilitar muito este projeto, porque, hoje em dia, apesar de o inglês falar-se muito, são poucas as pessoas que o fazem. A minha irmã também fala, mas o facto de conseguir falar outras línguas, como é exemplo, o alemão vem facilitar muito mais o processo de comunicação com os peregrinos que vêm de vários cantos do mundo”, disse.
A Casa da Carolina foi pensada “ao pormenor” pela família Maciel e inclui “tudo aquilo” que enquanto peregrinos, sentiram que faltava noutros espaços por onde passaram.
“Temos uma cozinha equipada que pode ser transformada em salão de jogos; uma camarata com 16 camas/beliches com uma cortina individual para criar mais privacidade, têm ainda uma ficha individual para carregarem os telemóveis e cacifos para guardarem os pertences; balneários e um espaço exterior”, explicou Carolina.
Os beliches não foram escolhidos ao acaso. São “maiores do que o normal” para que um alemão, por exemplo, normalmente de estatura elevada, possa estar “completamente à vontade na cama”.
A irmã de Carolina, Maria, explicou que o conceito pensado para este projeto assenta no princípio “um albergue de peregrinos para peregrinos”.
Aquela premissa junta-se o “ambiente familiar” e que marca a diferença da Casa da Carolina relativamente a outros espaços.
“Quando recebemos os peregrinos apresentamo-nos como a irmã da Carolina, a mãe da Carolina, o pai da Carolina, a avó da Carolina e a Carolina e, por isso, eles sentem-se logo em família e, mais tarde, já se apresentam como os amigos ou primos emprestados da Carolina”, contou em risos.
Carolina realçou ainda que o processo de criação do albergue “foi muito natural”, porque também viveram a experiencia de ser peregrino de Santiago de Compostela.
“Da nossa parte existe outra sensibilidade para os acolher, informar e ajudar, porque além de sermos uma família, somos também peregrinos”, afirmou Carolina, garantindo que sabem o que gostavam de receber e, por isso, sabem o que querem “dar aos peregrinos”.
A Casa da Carolina, na Avenida 9 de Julho de 1985, nº1590 em Vila Nova de Anha – a 500 metros do caminho -, está aberta desde o dia 1 de julho.
Já acolheu vários peregrinos, de diversas nacionalidades, com uma faixa etária entre os sete e os 70 anos.
O albergue, que informa sobre horários dos transportes púbicos e privados; disponibiliza mapas do caminho, entre outros informações uteis para quem percorre o itinerário religioso tem um custo de 15 euros para “ajudar nas despesas”.
“A Casa da Carolina não surgiu com o intuito de gerar receita, até porque desde sempre estamos ligadas ao caminho e, por isso, o nosso objetivo é acolher e cuidar dos peregrinos”, remata.
As reservas são, preferencialmente, feitas por telemóvel ou por “indicação de pessoas que conhecem” a família Maciel ou pelos “responsáveis de outros espaços” da cidade.
“Ainda não estamos em nenhuma plataforma oficial, devido às burocracias necessárias e à publicidade, mas funcionamos muito pelo passa a palavra e pelo Facebook”, referiu Maria Maciel.
As expectativas da família Maciel é que, até ao final do ano, a Casa da Carolina seja uma “referência” na cidade de Viana do Castelo e que o número de peregrinos que por ela passa, venha a aumentar”.
“O feedback dos peregrinos tem sido bastante positivo. Temos a certeza que quem por aqui passou se sentiu acolhido e que nos indicará aos outros que virão a seguir”, finaliza.
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