Não vou recomendar um desses muitos remédios milagrosos, que nos invadem diariamente o correio eletrónico, e curam tudo.
Falo de algo mais simples e, em princípio, mais acessível e que se for bem escolhido pode potenciar a saúde.
Falo de uma Carta recente (17 de julho) do Papa Francisco sobre “O papel da literatura na educação”. Transcrevo apenas alguns parágrafos … para fomentar a leitura e não a dispensar!
Advirto que o Papa, ainda que pense de modo imediato em destinatários dentro da Igreja, nomeadamente candidatos ao sacerdócio, refere-se, no seu todo, “ao valor da leitura de romances e poemas no caminho do amadurecimento pessoal”, para qualquer pessoa. Não tropece, por isso, nessa circunstância. A súmula da Carta vale para todas as pessoas e circunstâncias.
Ainda que o tempo oficioso de férias vá caminhando para o fim, são sempre válidas estas considerações introdutórias da Carta:
“Muitas vezes, escreve o Papa, no tédio das férias, no calor e na solidão dos bairros desertos, encontrar um bom livro para ler torna-se um oásis, afastando-nos de outras escolhas que são nocivas. Na verdade, não faltam momentos de cansaço, irritação, desilusão, fracasso e, quando nem sequer na oração conseguimos encontrar o sossego da alma, pelo menos um bom livro ajuda-nos a enfrentar a tempestade, até que possamos ter um pouco mais de serenidade. Talvez essa leitura abra novos espaços interiores, capazes de evitar o encerramento naquelas poucas ideias obsessivas que nos enredam inexoravelmente. Antes da omnipresença dos media, das redes sociais, dos telemóveis e de outros dispositivos, esta era uma experiência frequente, e quem a viveu sabe bem do que estou a falar. Não se trata de algo ultrapassado”.
Depois, lá mais para o fim, entre outras sugestões e citações literárias que ficaram pelo caminho, ajuda a fazer a melhor digestão do alimento que nos é oferecido pelos autores. Assim, “quando se lê uma história, graças à visão do autor, cada um imagina, à sua maneira, o choro de uma jovem abandonada, a idosa que cobre o corpo do neto adormecido, a paixão de um pequeno empreendedor que tenta ir para diante apesar das dificuldades, a humilhação de alguém que se sente criticado por todos, o rapaz que encontra no sonho a única saída para a dor de uma vida miserável e violenta. À medida que sentimos vestígios do nosso mundo interior no meio dessas histórias, tornamo-nos mais sensíveis às experiências dos outros, saímos de nós próprios para entrar nas suas profundezas, conseguimos compreender um pouco mais as suas lutas e desejos, vemos a realidade com os seus olhos e acabamos por nos tornar companheiros de viagem. Assim, mergulhamos na existência concreta e interior do vendedor de fruta, da prostituta, da criança que cresce sem pais, da mulher do pedreiro, da idosa que ainda acredita que vai encontrar o seu príncipe. E podemos fazê-lo com empatia e, por vezes, com tolerância e compreensão”.
Anime-se à leitura (e às leituras!), que vale a pena. Este é um bom remédio para quase todos os males.
Nota: pode encontrar o texto integral da Carta, por exemplo, em Vatican News.
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