Artistas alertam para novas formas de censura e exigem proteção da liberdade artística

Num momento em que casos de censura e ingerência política se multiplicam pela Europa, o debate realizado em Viana do Castelo, no âmbito do  Festival de Teatro, lançou um alerta: a liberdade artística está novamente sob ameaça e defendê-la exige vigilância, coragem e uma cultura democrática ativa.

Micaela Barbosa
19 Nov. 2025 3 mins
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Créditos fotográficos: João Grisantes

O encontro, intitulado “Interferência Política nas Artes: Pela Liberdade Artística Contra a Censura”, decorreu na Sala Experimental do Teatro Municipal Sá de Miranda, e foi moderado pela jornalista Anabela Mota Ribeiro, que abriu a sessão lendo um texto escrito por Sophia de Mello Breyner Andresen há 50 anos, sublinhando que as questões da censura continuam atuais. 

Entre os convidados esteve o encenador suíço Milo Rau, diretor do Wiener Festwochen, que interveio a partir de Viena. 

Milo Rau apresentou a iniciativa Resistance Now! Together, uma aliança de mais de 200 instituições culturais europeias pela defesa do direito à livre criação e pela reivindicação de legislação comum de proteção dos artistas na União Europeia e recordou que a sua peça “O Julgamento Pelicot” foi recentemente banida do festival BITEF, em Belgrado, por imposição governamental, um ato que levou à demissão da direção artística do certame e à criação de um festival alternativo, o “BITEF de Guerrilha”. 

Para o encenador, este é apenas um exemplo de um fenómeno crescente. “A ingerência política está a deslocar-se de leste para oeste na Europa”, alertou, citando casos na Eslováquia, Hungria, Bielorrússia e Geórgia.

A programadora cultural Paula Mota Garcia, que liderou a candidatura vencedora de Évora a Capital Europeia da Cultura 2027, refletiu sobre os efeitos da iliteracia cultural e da crescente politização das estruturas culturais.

A oradora partilhou o seu próprio processo de demissão, juntamente com a sua equipa, após aquilo que classificou como um percurso “altamente politizado” que inviabilizou a continuidade do projeto. “A participação das comunidades e a autonomia artística tornam-se frágeis quando falta cultura crítica e quando a política instrumentaliza a cultura”, afirmou.

Já a atriz, dramaturga e diretora artística Sara Barros Leitão centrou a sua intervenção no tema da autocensura, que considera a forma “mais insidiosa de condicionamento”. “O mais difícil de combater é aquilo que nos impomos a nós próprios, o receio de sermos prejudicados por órgãos políticos ou direções de teatros”, referiu, abordando ainda o que chama o seu “currículo negativo”, um conjunto de projetos recusados ou cancelados por sentir interferências indevidas. “Tenho orgulho nesse currículo baseado na recusa”, garantiu, relatando um caso concreto que a levou a cancelar o seu próprio espetáculo num teatro público português.

O debate, segundo Anabela Mota Ribeiro, foi, acima de tudo, o exercício de um direito constitucional que importa preservar: o direito à livre associação, ao debate, ao confronto de ideias com curiosidade e respeito.

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