Alto Minho regista 464 incêndios rurais, dos quais 220 ocorreram em Arcos de Valdevez

Apesar dos números de fogos rurais indicarem que é o mais reduzido desde 2014, o Alto Minho continua a ser uma das regiões da Europa onde a recorrência do fogo é maior. Este ano, é a região com mais área ardida. Arcos de Valdevez é o concelho com maior número de incêndios rurais entre os 278 municípios do território continental.

Micaela Barbosa
11 Set. 2024 4 mins

De acordo com o 5.º Relatório Provisório de Incêndios Rurais de 2024, realizado pela Direção Nacional de Gestão do Programa de Fogos Rurais, entre 1 de janeiro e 31 de agosto, registou-se “um total de 4 457 incêndios rurais que resultaram em 10 294 hectares de área ardida, entre povoamentos (3 655 ha), matos (5 126 ha) e agricultura (1 513 ha)”. No entanto, comparando estes valores com o histórico dos 10 anos anteriores, “menos 53% de incêndios rurais e menos 86% de área ardida relativamente à média anual do período”. “O ano de 2024 apresenta, até ao dia 31 de agosto, o valor mais reduzido em número de incêndios e o valor mais reduzido de área ardida, desde 2014”, refere o relatório.

Relativamente à região do Alto Minho, entre 1 de janeiro e 31 de agosto, já “arderam 1 637 hectares, cerca de 16% da área total ardida”. 

Na lista dos 20 maiores incêndios rurais, estão o de Taião (Valença), Geraz do Lima (Viana do Castelo), São Jorge (Arcos de Valdevez), Cabreiro (Arcos de Valdevez) e Montaria (Viana do Castelo).

Em termos regionais, os distritos de Porto (845), Viana do Castelo (464) e Braga (372) são aqueles que registam maior número de incêndios rurais em 2024. Contudo, ao nível de área ardida, destaca-se o distrito de Bragança, com 2 857 hectares, seguido de Viana do Castelo (1 637 ha) e de Beja (837 ha).

Entre os 20 concelhos, Arcos de Valdevez lidera a lista com 220 incêndios rurais, seguido de Penafiel (111) e Gondomar (104).

“Não é igualmente aceitável que se continue a aceitar que o nível de investimento público seja tão escasso em matéria de combate”

Este mês, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez enviou uma nota à imprensa, referindo que o número elevado de fogos no concelho é uma “falha grave” a debater. “Ano após ano, Arcos de Valdevez continua a ser destacadamente o concelho com o maior número de incêndios a nível nacional. É raro falhar a medalha de ouro nesta trágica estatística. Há assim uma falha grave que tem de ser objeto de reflexão por todos os que constituem a Proteção Civil, principalmente a nível municipal”, afirma Germano Amorim, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Arcos de Valdevez.

Segundo o responsável, “não é tolerável que se aceite esta realidade como normal e sem que essencialmente se lance um debate alargado entre todos os que constituem este complexo edifício”. “Não é igualmente aceitável que se continue a aceitar que o nível de investimento público seja tão escasso em matéria de combate, já que a prevenção e a organização territorial são evidentemente uma falha terrível”, acrescenta.

Germano Amorim defende um “reforço significativo do financiamento, a montante e a jusante, em Arcos de Valdevez, que se encontra em pleno Parque Nacional Peneda Gerês (PNPG)”. “Cada vez que ocorre um incêndio estão em risco a integridade das pessoas, seus animais e bens. Está em causa a natureza, a biodiversidade, o bem-estar das populações, a sua riqueza, a sua economia, o turismo, entre outros. Quem quer continuar a tapar o sol com a peneira que o faça, que em dias de fogo, torna-se bastante mais fácil”, avançou.

O 5º Relatório Provisório de Incêndios Rurais de 2024 indica ainda que, do total de 4 457 incêndios rurais verificados, 3 129 foram investigados e têm o processo de averiguação de causas concluído (70% do número total de incêndios – responsáveis por 62% da área total ardida). “Destes, a investigação permitiu a atribuição de uma causa para 2 329 incêndios (74% dos incêndios investigados – responsáveis por 49% da área total ardida)”, específica, referindo que as causas mais frequentes são o incendiarismo – imputáveis (31%) e queimadas de sobrantes florestais ou agrícolas (13%). 

Agregando os diferentes tipos de queimadas e usos do fogo, alcança-se um total de 33% nas causas de incêndios. “Os reacendimentos representam 5% do total das causas apuradas, um valor inferior face à média dos 10 anos anteriores (11%)”, conclui.

Tags Economia

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