Abraçar a Quaresma

Pe. José Lima
17 Mar. 2025 3 mins
Padre José Lima

Com o coração vive-se de modo diferente este período de quarenta dias que iniciámos em Quarta-Feira de Cinzas, a Quaresma: tempo favorável para renovar a vida, à luz do mistério pascal de Jesus, que entrega a todos tal possibilidade. Não ficar a olhar de fora como quem vê passar um desfile carnavalesco, mas entrar no mistério, abraçando-o com um coração cheio de amor e vibrante de entusiasmo. Importa olhar este tempo, com atenção vigilante, altruísta e afetuosa.

Abraçar a Quaresma é ter o olhar na Páscoa, sem atitudes doentias, sem restrições de qualquer espécie, sem condições prévias, mas saborear este tempo com otimismo, com cordialidade, com espírito de entreajuda, com alegria por ter sido salvo pelo Senhor. Olhar a entrega do Senhor Jesus como um ato de amor imenso por toda a humanidade, e, portanto, por cada pessoa, mulher ou homem. Preparar, caminhando na Esperança: “Se repartires o teu pão com o faminto, e matares a fome do pobre, a tua luz brilhará na escuridão” (Isaías 58, 10).

Abraçar a Quaresma é decidir-se a colocar os entraves e os pontos negros da vida no universo da Misericórdia divina e abeirar-se, quando possível, dos seus dons também no sacramento da Penitência, desempoeirando a alma e despertando para uma nova vida com Cristo, mergulhando no seu excelso amor, o amor de Deus para com o género humano, numa doação sem limites e olhando cada um como pessoa singular, capaz de todo o bem que a Páscoa oferece.

Abraçar a Quaresma quer dizer estar disponível neste tempo para uma forma de viver nova, longe das dissonâncias de alguns dias, longe de cegueiras que entorpecem as ações, longe de irreflexões de caminho, longe de azedumes e de malquerenças sem sentido, longe de pressas que desnorteiam. É adquirir uma forma nova de viver, sem obstáculos de maldade, sem riscos de imponderação, sem ditos de maldizer, sem arrogâncias de solipsismo. Abraçar a Cruz, sendo esperançoso: ser amistoso, cordial, compassivo, benevolente, misericordioso, bem falante, ativo na partilha com os outros, sábio porque participante na sabedoria que Deus oferece. “Dá glória a Deus com generosidade e não regateies as primícias das tuas mãos ( …). Dá de ânimo generoso” (Sir. 35, 7-9).

Abraçar a Quaresma significa apertar com amor as crianças que pedem carinho, dar a mão a muitos jovens ou adultos que arriscam os seus sonhos, apoiar e cuidar de tantos nossos vizinhos que almejam dias felizes ou esperam sozinhos um beijo ou uma mão que os ajude, construir com encanto uma civilização onde todos se inscrevam no rol dos redimidos/revitalizados pela Páscoa, que está a escassas seis semanas.

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Nesta Ano Santo, primeiro ano de preparação para o nosso 50ºJubileu Diocesano de Viana do Castelo (novembro 2027), os fiéis cristãos sejam esmerados em colocar todas as suas forças, o seu vigor renovado, ao serviço de uma forma de viver que anuncie a Páscoa, Acontecimento de Salvação, na paz e na concórdia.

Que o ano seja santo no coração de cada um, abraçando este tempo de Quaresma!

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