Abílio Silva: “A nossa prioridade é celebrar o 50º aniversário”

Abílio Silva tem 47 anos e é de Vila Nova de Muía (Ponte da Barca). É gerente de uma serralharia e, desde 2012, é chefe do Agrupamento dos Escuteiros de Vila Nova de Muía. Não conhece outra forma de vida pelos anos que é escuteiro e pela família (mulher e dois filhos) que, à exceção da filha mais nova, Sara, de três anos, está lá toda.

Micaela Barbosa
20 Out. 2022 9 mins
Abílio Silva: “A nossa prioridade é celebrar o 50º aniversário”

Este ano, o Agrupamento está a celebrar o 50º aniversário e o dirigente desvendou que estão a preparar um programa “especial”, com várias iniciativas, que juntará atuais e antigos escuteiros. 

Há mais de 20 anos nos escuteiros, Abílio Silva entrou no movimento “porque era fixe”. “Entrei nos escuteiros com 15/16 anos. Fiz as promessas todas porque as coisas não funcionam com o rigor de hoje”, contou, referindo que o Agrupamento tinha “muita” gente e uma fanfarra com “muito” crédito. “As pessoas não andavam pelo escutismo em si, mas os pais não criavam grandes entraves. Tínhamos ensaio da fanfarra à terça e quinta-feira, e reunião geral à sexta-feira à noite. Era uma reunião onde estava toda a gente, mas que não tinha o rigor que tem hoje”, especificou. 

Ainda sem idade para ser explorador, Abílio frequentava a secção com o irmão porque iam e vinham com um vizinho. Um trato que tinham com a mãe. “O compromisso que o vizinho tinha com a minha mãe é que nos levava para os escuteiros e, no final, trazia-nos para casa. Buscar ia sempre a horas, mas trazer nem sempre correspondia ao final da reunião. Era um pouco mais”, recordou, entre risos.

Escutismo 396 Vila Nova de Muía

“Os guias tinham de estudar para ensinar os elementos”

Com a criação da secção dos Lobitos, foi “obrigado” a frequentar as reuniões, mas como “não despertaram interesse”, deixou o escutismo. Anos mais tarde, já com idade de Pioneiro, voltou ao movimento e por lá ficou até aos dias de hoje. “Passei por vários cargos, inclusive de guia”, disse, considerando que, naquela altura, “a vivência escutista era muito diferente do que é agora”. “Era mais alinhada com aquilo que eram os ensinamentos de Baden-Powell”, disse, exemplificando: “Não tínhamos chefes nas reuniões. Só nas atividades. Eram os guias tinham a chave da sede, e marcavam e orientavam as reuniões. Além disso, os guias tinham de estudar para ensinar os elementos.”

O dirigente admitiu que a forma de fazer escutismo, naquela altura, era “esquisita”, mas “muito mais rica em termos de desenvolvimento pessoal”, reconhecendo a lacuna na vertente educativa. 

“Comecei a assumir responsabilidades”

Para além de Pioneiro, foi também Caminheiro e, “sem contar”, chegou a dirigente. “Não estava nos meus planos ser dirigente. Acabou por ser uma consequência. Aconteceu”, contou, acrescentando que recebeu o convite quando ainda estava na universidade. “Quando fui estudar, desliguei-me um pouco daquela rotina de ir ao café. Sim porque as nossas reuniões eram feitas no café, que era uma das fontes de rendimento do Agrupamento. O café era embaixo da sede e era lá que nos reuníamos lá”, recordou, referindo que o convite lhe pareceu “óbvio”. “Não tinha razões para dizer que não. Fui fazer a formação em Monção com mais alguns dirigentes e a partir dali, comecei a assumir responsabilidades dentro do Agrupamento. Durante dois anos, fui chefe da III, estive na III e tive uma passagem pela IV, mas rapidamente voltei à III”, especificou.

Abílio confidenciou que também não imaginava ocupar o cargo de chefe de Agrupamento. “Se me perguntassem, de Caminheiro, se gostava de ser dirigente, provavelmente, diria que sim, mas ser chefe de agrupamento, não sabia”, admitiu, contando que chegou a chefe de Agrupamento porque o antigo chefe demitiu-se a meio do mandato. Como chefe adjunto, assumiu o barco. “Em 2013, candidatei-me e aqui estou”, atirou, considerando que “há uma resistência muito grande em assumir um papel importante nas associações”. “O que me preocupa é que daqui a dois anos vou deixar de ser chefe de Agrupamento. Não posso candidatar-me porque excedi o número de mandatos e, por isso, o meu objetivo é preparar o Agrupamento a ser independente. Se conseguir, saio feliz, mas de chefe de Agrupamento porque vão continuar a poder contar comigo para o que precisarem”, frisou.

“Somos um Agrupamento que funciona bastante bem”

Sem ser exceção à regra, o Agrupamento dos Escuteiros de Vila Nova de Muía viveu momentos altos e baixos. “Chegamos a ter muita gente, mas a aplicação do método não era a mais correta. Desde há 20 anos para cá, há um cuidado maior e hoje, temos provas dadas que somos um Agrupamento que funciona bastante bem”, assegurou, especificando que têm “cerca de 60 elementos”, dos quais nove são dirigentes. “Neste momento, temos o efetivo que queremos. Podíamos ser mais, mas não queremos porque não temos dirigentes para garantir a relação educativa nas secções”, disse. Contudo, estão a estudar a possibilidade de formar um terceiro bando. “Quando precisamos de aumentar o efetivo, apostamos na divulgação. Nós só queremos Lobitos e Exploradores porque eles são as sementes. No entanto, se aparecer um rapaz ou rapariga para entrar nos Pioneiros, aceitamos, mas a nossa força é angariar Lobitos e Exploradores”, explicou, referindo que dão workshops nos ATL’s e nas escolas primárias, fazem vídeos promocionais e entregam flyers. “Já quando achamos que estamos bem, baixamos o esforço no recrutamento e isso sente-se logo. Este ano, não fizemos grande esforço porque estávamos com as secções quase cheias. Felizmente, mesmo sem esforço, as pessoas procuram-nos porque nos conhecem”, enalteceu, admitindo “alguma” dificuldade nos dirigentes. “Somos exigentes com os dirigentes que escolhemos. Isso reflete-se no número de pessoas que fazem parte dos nossos quadros. A pergunta que fazemos, quando temos que escolher, é se queríamos aquela pessoa a tomar conta do nosso filho. Se não dissermos logo sim é porque não serve”, disse.

Escutismo 396 Vila Nova de Muía

“A sede tem de ser a nossa casa”

Já há alguns anos à frente do Agrupamento, Abílio destaca o efetivo “estável”, os dirigentes “bem” formados, as obras que fizeram na sede e a aquisição de uma Escola Pré-Primária, onde se reúnem os Lobitos e os Exploradores. “O nosso lema é que a sede tem de ser a nossa casa e, por isso, há uns anos, fizemos umas obras. Terminamos com o café e criamos o Abrigo. Ou seja, temos um salão em cima, onde são realizados os Conselhos de Agrupamento e as reuniões de pais e, em baixo, o Abrigo, onde se reúnem os Pioneiros. Depois, pressionamos a União de Freguesias e a Câmara Municipal para nos fornecerem uma escola. Conseguimos e, neste momento, temos duas salas adaptadas para o Covil e para a Base, locais onde se reúnem os Lobitos e os Exploradores”, especificou.

“Fazemos tudo para participar e colaborar nas atividades regionais”

Com as condições “muito boas” e dirigentes formados, o Agrupamento tem participado em várias atividades nacionais e regionais, entre elas, o Acanac, o Tecoree, o Acareg e o Challende. “Ao longo destes 20 anos, fazemos tudo para participar e colaborar nas atividades regionais”, frisou, acrescentando: Nós procuramos estar e levar os nossos rapazes e raparigas às atividades, dando-lhes oportunidades para os engrandecer.”

“Temos saúde financeira”

As atividades (e outras despesas) exigem um esforço monetário que, no caso de Vila Nova de Muía, é repartido em três. “Um terço das despesas tem de ser financiado pelo Agrupamento. O segundo terço é financiado pelos pais e o terceiro terço é da responsabilidade dos bandos, patrulhas, equipas e tribos, com campanhas de angariação de fundos”, enumerou, enaltecendo a campanha dos calendários, no qual o Agrupamento é dos que vende mais a nível nacional. “Temos saúde financeira, mas não temos muito dinheiro no banco. Tudo o que angariamos é para gastar no imediato com quem está. Se tivermos uma obra, o Agrupamento tem de procurar uma forma de financiar. Não usa o trabalho que eles têm nesse tipos de despesas. Evitamos ao máximo”, afirmou.

“Celebrar os 50 anos com a região”

Depois destes anos no escutismo, Abílio destaca a saída do assistente, Pe. Miranda, como um dos momentos que “vincou a história do Agrupamento”. “Ele saiu devido à idade, mas esteve sempre presente desde o dia 0”, referiu, salientando ainda a participação de todo o Agrupamento (lobitos, exploradores, pioneiros e caminheiros, e dirigentes) no Acanac deste ano. “A Alcateia não participou no primeiro ano e, este ano, o Agrupamento esteve todo. Faltaram apenas três pessoas”, contou, considerando que o trabalho “árduo” durante o ano, “valeu a pena”. 

Outro dos momentos “marcantes” da história do Agrupamento será a celebração do 50º aniversário. “Este ano, a nossa prioridade para o ano escutista 2022/2023 é celebrar os 50 anos do Agrupamento, que até calhou bem porque não há nenhuma atividade de relevo a nível nacional e regional”, disse, referindo que as celebrações iniciaram-se em agosto com o Acanac. “A nossa participação no Acanac foi dedicada àqueles que criaram o Agrupamento. Fomos à missa e inauguramos uma tarja alusiva ao 50º aniversário. Depois disso, entramos no autocarro e fomos para Idanha-à-Nova”, contou.

O segundo evento aconteceu no dia 08 e contou com a participação de “todos os agrupamentos” da região de Viana do Castelo. “A Abertura do Ano Escutista realizou-se em Ponte da Barca. Foi proposital e ainda bem que a Junta Regional aceitou o nosso pedido para que pudéssemos celebrar os 50 anos com a região”, destacou, revelando que, no final do ano, irão realizar uma exposição fotográfica sob o mote “50 anos, 50 memórias”. “O nosso objetivo é que a exposição representa o percurso do Agrupamento ao longo dos 50 anos”, explicou, acrescentando que, em maio, vão lançar um álbum de fotografias com comentários dos protagonistas. 

Em julho, o Agrupamento vai recriar o primeiro acampamento. “Vamos acampar no mesmo local. Vai ser desafiante”, contou, desvendando que, em agosto, vão realizar um jantar com os fundadores e inaugurar um mural com todos os chefes do Agrupamento, na sede. “Em setembro, terminamos as festividades com um arraial para a comunidade”, adiantou.

Fotografia em destaque: Escutismo – Viana do Castelo

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