A inteligência artificial sob o olhar Papal

A inteligência artificial continua a marcar a agenda global, e a prova disso é, em parte, a escolha do nome Leão XIV pelo novo Papa.

Antes de abordar a escolha do nome, recuemos até 2024. Nessa altura, o Papa Francisco já tinha manifestado os seus receios quanto aos riscos associados à inteligência artificial, em particular quando “a inteligência artificial é utilizada em campanhas de desinformação que espalham notícias falsas”. Segundo Francisco, “a grande quantidade de dados analisados pelas inteligências artificiais não é, por si só, garantia de imparcialidade. Quando os algoritmos extrapolam informações, correm sempre o risco de as distorcer, replicando as injustiças e os preconceitos dos ambientes onde têm origem. Quanto mais rápidos e complexos eles se tornam, mais difícil é compreender porque produziram um determinado resultado”.

Ainda assim, Francisco não tinha uma visão exclusivamente negativa desta tecnologia. Pelo contrário, sublinhou também o seu potencial transformador: “Numa ótica mais positiva, se a inteligência artificial fosse utilizada para promover o desenvolvimento humano integral, poderia introduzir inovações importantes na agricultura, na instrução e na cultura, uma melhoria do nível de vida de inteiras nações e povos, o crescimento da fraternidade humana e da amizade social. Em última análise, a forma como a utilizamos para incluir os últimos, isto é, os irmãos e irmãs mais frágeis e necessitados, é a medida reveladora da nossa humanidade”.

Com a chegada do Papa Leão XIV, este tema ganha um novo impulso. Num discurso recente ao Colégio Cardinalício, o novo Papa revelou que a escolha do seu nome foi fortemente influenciada pelo legado de Leão XIII – autor da histórica encíclica Rerum Novarum, que respondeu aos desafios sociais da primeira revolução industrial. Leão XIV reconhece que vivemos hoje uma nova revolução, marcada pelos avanços da inteligência artificial, e que, tal como outrora, se impõem respostas claras em defesa da dignidade humana, da justiça e do valor do trabalho.

Se Francisco preparou o terreno, Leão XIV dá sinais de querer tornar este debate uma das marcas do seu pontificado.

Mais do que uma tendência tecnológica, a inteligência artificial tornou-se um tema transversal, que atravessa fronteiras políticas, sociais e espirituais. Que a inovação seja um caminho de inclusão, e que saibamos guiá-la com responsabilidade, consciência e ética.