Urgências do SNS registam procura mais do dobro da média da OCDE. Atendimentos no Alto Minho continuam a subir

Os serviços de urgência do Serviço Nacional de Saúde continuam a ser utilizados muito acima do padrão dos países desenvolvidos, mantendo Portugal entre os sistemas de saúde com maior pressão hospitalar. Entre 2022 e o primeiro semestre de 2024, as urgências do SNS registaram perto de 16 milhões de atendimentos, um volume que coloca o país mais de duas vezes acima da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Micaela Barbosa
17 Dez. 2025 4 mins
Morte hospitalar gera polémica. Afinal, como funciona o sistema de triagem?

De acordo com um estudo divulgado pela Entidade Reguladora da Saúde, em 2023 Portugal apresentou um rácio de 64 episódios de urgência por cada 100 habitantes, quando a média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico se fixou nos 26,6 episódios. O diferencial confirma uma forte dependência das urgências hospitalares, frequentemente associada à dificuldade de acesso a cuidados de saúde primários e a respostas atempadas fora do contexto hospitalar.

A análise do tipo de acesso mostra que a maioria dos atendimentos continua a ocorrer por autorreferenciação, apesar de uma tendência de descida. Em 2022, 71,8% dos episódios resultaram de iniciativa direta dos utentes, percentagem que desceu para 69,9% em 2023 e para 64,4% no primeiro semestre de 2024. Em paralelo, aumentaram as admissões referenciadas pela Linha SNS 24, que atingiram 11,4% em 2024, evolução associada à implementação do programa Ligue antes, Salve Vidas, que passou a privilegiar a referenciação prévia como regra de acesso às urgências.

A triagem clínica revela que a maior parte dos episódios corresponde a situações classificadas como “urgentes” ou “pouco urgentes”, enquanto os casos “emergentes” e “muito urgentes” representam apenas cerca de 11% do total. Para o regulador, este padrão indica que uma parte significativa da procura poderia ser resolvida noutros níveis de cuidados, aliviando a pressão sobre os serviços hospitalares.

O estudo identifica ainda sinais de utilização das urgências como via de admissão hospitalar, sobretudo nos serviços de urgência polivalentes, onde uma proporção relevante de episódios triados com prioridade reduzida acabou por resultar em internamento. A par disso, persistem problemas na cobrança de taxas moderadoras, só no primeiro semestre de 2024 foram identificadas 9.823 cobranças indevidas, e um elevado número de reclamações, centradas sobretudo nos tempos de espera, na qualidade dos cuidados e na segurança dos doentes.

Procura desigual entre regiões

Os dados do SNS, desagregados por região, mostram que a elevada procura pelas urgências se distribui de forma desigual pelo território, acompanhando a densidade populacional e a concentração da oferta hospitalar. A região de Lisboa e Vale do Tejo concentra o maior número de atendimentos, mantendo-se como a principal área de pressão sobre o sistema, seguida da região Norte, que regista igualmente volumes elevados e sustentados de episódios de urgência.

As regiões Centro, Alentejo e Algarve apresentam valores absolutos mais baixos, mas padrões semelhantes no tipo de atendimento, marcados pela predominância de casos urgentes e pouco urgentes. No Algarve, os dados evidenciam ainda oscilações associadas à sazonalidade, com picos de procura nos períodos de maior afluência turística.

Alto Minho acompanha tendência nacional

À semelhança do que acontece a nível nacional, o Alto Minho tem registado um aumento da procura por cuidados urgentes. Na área de influência da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, os atendimentos em urgência têm vindo a crescer de forma consistente.

Em 2025, o número total de atendimentos mensais subiu de 11.887 em janeiro para 110.174 em setembro, refletindo um crescimento expressivo ao longo do ano. A maior parte da procura concentrou-se nas urgências gerais, que passaram de 9.737 atendimentos mensais no início do ano para 90.480 em setembro, mantendo-se como a principal porta de entrada hospitalar na região.

As urgências pediátricas registaram igualmente um aumento significativo, evoluindo de 1.640 para 14.683 atendimentos, enquanto as urgências obstétricas passaram de 510 para 5.011 no mesmo período. Apesar de representarem uma fatia menor do total, estes serviços acompanharam a tendência de crescimento global da procura.

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