A VianaCon 2025 voltou a encher o Centro Cultural de Viana do Castelo, provando que, na era pós-digital, crianças e adultos ainda sabem divertir-se sem telemóveis. A edição deste ano, organizada pela associação ArtMatriz e com entrada gratuita, reuniu milhares de visitantes numa ludoteca com mais de 700 jogos, além de workshops, torneios, lançamentos exclusivos e encontros com criadores, ilustradores e editores internacionais.
Criada em 2020 com 750 participantes, a VianaCon ultrapassou os 3.000 visitantes em 2024 e voltou este ano a esgotar mesas, alojamentos e atividades paralelas. “Todos os anos pedimos mais mesas, e mesmo assim enchem”, comentou o responsável pela organização, Ricardo Ferreira.
Para o responsável, os jogos vão muito além do entretenimento. “A maior parte das vezes, estamos a treinar competências sem dar por isso”, explicou, argumentando: “Há jogos que trabalham memória, pensamento crítico ou destreza. Nos party games, estamos a treinar outras habilidades. Isto torna-os uma ferramenta útil para escolas, lares ou contextos de aprendizagem.”
A Associação nota diferenças claras entre crianças habituadas a jogar e outras que não tiveram contacto regular com jogos de mesa. “Vemos miúdos que não conseguem estar sentados cinco minutos ou ouvir regras simples. Depois, vemos os que jogam em casa ou na escola. Focam-se, esperam pelo seu turno, jogam uma ou duas horas. É um contraste enorme”, sublinhou.
Ricardo Ferreira destacou que muitos jogos também exercem funções de literacia histórica, social e mediática. “Há jogos sobre a Guerra Fria, sobre acontecimentos históricos, e até jogos que vão abordar o 25 de Abril. Outros treinam matemática sem darmos por isso, outros trabalham português com jogos de palavras. É uma aprendizagem disfarçada de diversão”, explicou.
Com o aumento de jogos em que o jogador joga sozinho, tendência reforçada pelos confinamentos, o foco da convenção permanece na vivência coletiva. “É muito melhor jogar em grupo. Estar à mesa obriga ao diálogo, à negociação e ao pensamento crítico”, salientou, referindo que a procura crescente por jogos de mesa está ligada ao desgaste provocado pelo uso constante de ecrãs. “Vivemos uma era pós-digital. Trabalhamos nos telemóveis, nos computadores, e depois do trabalho muita gente procura precisamente o oposto: algo que não envolva ecrãs. Os jogos trazem de volta o convívio à mesa. Durante quatro horas ninguém pega no telemóvel a não ser para tirar uma fotografia”, acrescentou.
A pandemia, defende o responsável, acelerou este regresso. “As famílias voltaram a estar juntas à mesa. Muita gente redescobriu o jogo físico”, garantiu.
O evento, que decorre no inverno, também gera impacte turístico e económico. “Nesta altura, o alojamento local esgota”, nota, especificando: “Temos pessoas de todo o país e algumas de fora, que fazem uma paragem em Viana porque coincide com o evento.”
Além do entretenimento, a VianaCon tem reforçado a ligação ao sector profissional dos jogos. Em 2024 recebeu um dos maiores ilustradores de jogos da atualidade, oriundo da Macedónia, e este ano contou com a presença de uma revista internacional dedicada ao design de jogos. “É importante mostrar que isto também é um campo profissional, que envolve desde ilustradores, designers, editores, criadores. Há quem viva disto”, referiu.
Fora da convenção, a ArtMatriz tem sido convidada para dinamizar atividades em escolas, bibliotecas, lares e empresas. “Há bibliotecas q
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