Jesuítas identificam “desencontro geracional” e falta de propostas para jovens adultos. Estudo pede pastoral mais flexível e próxima da vida real

A Companhia de Jesus divulgou um estudo sobre a geração dos 24 aos 35 anos, onde conclui que muitos jovens adultos católicos sentem “falta de espaço na Igreja” e descrevem um crescente desencontro entre as propostas pastorais existentes e a sua fase de vida. O relatório “Escutar para Acompanhar 2025” resulta de 95 entrevistas e questionários realizados ao longo de vários meses e aponta para uma necessidade urgente de reformulação da pastoral dirigida a trabalhadores jovens, casais e famílias.

Micaela Barbosa
24 Nov. 2025 3 mins

A maioria dos participantes, altamente escolarizados, com vida profissional ativa e maioritariamente residentes em grandes cidades, afirma sentir-se feliz e apoiada por redes de suporte. Mas o cenário muda quando o tema é a prática religiosa: os horários rígidos, a oferta pouco adequada à idade e o cansaço decorrente de rotinas exigentes são os fatores mais mencionados para a quebra de participação em iniciativas da Igreja.

Apesar disso, os jovens adultos escutados confirmam ter “sede de mais”. O estudo mostra que 83% se sente feliz ou muito feliz, mas lida com “uma vida acelerada”, instabilidade económica, sobrecarga profissional e dificuldade em integrar a fé no quotidiano. A fé continua, para muitos, a ser um elemento importante de sentido, mas precisa de formatos novos, conteúdos relevantes e espaços de comunidade ajustados ao ritmo real da idade adulta.

Quando questionados sobre o que ainda os prende à espiritualidade, os participantes são claros: a comunidade, as relações humanas e a proximidade dos religiosos são os principais fatores de fidelização. A proposta espiritual inaciana surge logo a seguir, destacando-se pela linguagem acessível e pelo foco no discernimento aplicado à vida real.

Ainda assim, a adesão a atividades pastorais é baixa. A falta de tempo é o obstáculo mais transversal, seguida pela sensação de que muitas iniciativas “parecem feitas para universitários ou para pessoas mais velhas”. Jovens pais referem ainda a inexistência de eventos que incluam crianças ou que ofereçam apoio logístico básico, como babysitting.

O estudo recolhe dezenas de sugestões concretas, entre as quais atividades flexíveis, híbridas ou online para quem trabalha ou cuida de filhos; retiros curtos, simples e ajustados ao ritmo laboral; grupos de partilha sobre fé, trabalho, decisões profissionais e parentalidade; formações sobre temas atuais, desde a fé e sociedade, política, ética no trabalho; melhor comunicação, mais clara e com programação estável; iniciativas familiares, incluindo missas adaptadas e acompanhamento matrimonial; e apoio para emigrantes, através de grupos online e ligações à diáspora.

Segundo os autores, estas propostas revelam um desejo real de pertença e de uma fé vivida em comunidade, mas pedem também uma mudança estrutural. “Os jovens querem viver a fé, mas não encontram sempre portas abertas na fase adulta”, sintetiza o relatório.

O documento termina com um alerta: há uma geração de jovens adultos católicos “disponível e motivada”, mas que precisa de acompanhamento próximo e propostas adaptadas aos seus horários, interesses e circunstâncias de vida. Mais do que reformar atividades, o estudo pede uma mudança de postura: escutar, acolher e acompanhar, com autenticidade e com a liberdade de adaptar formatos, linguagens e prioridades.

A Pastoral Juvenil e Vocacional dos Jesuítas afirma que este é apenas “um ponto de partida”, mas deixa claro que, se nada mudar, o risco é perder uma geração inteira no momento em que mais procura integrar fé e vida.

Tags Religião

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