Tempo de viragens e portas abertas!

Isabel Lemos
12 Nov. 2025 4 mins
Irmã Isabel

Hoje, mais uma vez, penso neste tempo, que nos é dado viver, com assombro e com a avidez de quem espera que esta mudança de época possa trazer-nos ventos novos através dos quais a humanidade consiga vislumbrar raios de luz envoltos em esperança. Que seja possível deixar zonas de conforto cómodas para sair ao encontro dos outros, iguais ou diferentes, e deixar-se embalar pelos sons da música que paira no ar convidando à dança, à festa, a dar as mãos e rodopiar qual criança a brincar no pátio da casa ou no átrio da escola.

Quem dera não fosse apenas um sonho, mas desejo possível de se tornar real… quem dera fosse possível deixar sorrir, dentro do coração, a criança que um dia se foi e, que no fundo ainda habita no interior de cada um…

Afinal um tempo de viragens arrasta consigo tanto que por vezes o peso do passado, mal vivido, não permite soluções novas e audazes, até proféticas, abrindo caminhos e mostrando que é possível avançar, deixando-se transformar e mudando tudo aquilo que parecia inamovível. Parece que não se quer aprender lições, todos sabem de tudo, ainda que não especializados, é tempo de opiniões (e por vezes de “achamos” ou “achados” no baú de quem não se dedicou a parar e refletir), do passado. E, este tem muito para nos ensinar (sim, ensinar), mas jugamos que lá “naqueles tempos”, os nossos antepassados fizeram isto ou aquilo que não faríamos, julgamos, condenamos, não poucas vezes, e esquecemo-nos, outras tantas, dos contextos, das circunstâncias a todos os níveis que os envolviam. E, isto não quer dizer que não possamos dizer como se poderia ter feito, depois de termos “viajado no tempo” e, procurar, em certa medida, com distância crítica analisar e, então, compreender com empatia, não para justificar, pois se fizer falta o pedido de desculpas e, para nós, de perdão, é importante.

Quem dera aprender a lição do passado, não para repetir, ou querer corrigir o que o tempo já não permite, mas para aprender (se disposição houver) e então poder construir um presente melhor e projetar o futuro, tal como nos é possível no presente.

Se não se pretender encontrar soluções globais idealizadas para a pessoa global, tal como encontramos tantas soluções para o “aluno médio” que não existe, apenas teoricamente, poderemos encontrar soluções para os espaços concretos, para as pessoas concretas, que estão condicionadas, queiram ou não, por uma história, um passado que se arrasta, maioria das vezes inconscientemente, nas representações culturais e outras, na mentalidade que acompanha, quer se tenha consciência, quer não se tenha.

Hoje é o tempo oportuno para embarcar nas viragens de pensamento e levá-las à prática e fazer a experiência que é possível como Abraão «Levanta os olhos para o céu e conta as estrelas, se fores capaz de as contar.» (Gn 15,5).

Viver de portas abertas deixará de ser sonho, mas realidade de uma humanidade que é capaz de dar as mãos e procurar soluções para as questões que envolvem a ecologia integral e, quem sabe escutar muito e dialogar.

Afinal é tempo de viragens…e portas abertas!

E, se ainda conseguirmos uns minutos na agenda, comecemos por ler a encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco[1].

[1] Papa Francisco, Encíclica Fratelli Tutti sobre a Fraternidade e a Amizade Social, in https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html

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