Elevadores Históricos: confiamos, e sempre confiaremos

Carlos Costa
30 Set. 2025 4 mins
Carlos Costa

Pelos piores motivos possíveis, os elevadores históricos foram o centro das notícias neste mês de Setembro. O trágico acidente ocorrido em Lisboa, no Elevador da Glória, tirou a vida a 16 pessoas e provocou inúmeros feridos, vários em estado grave.

Inaugurado em 1885, percorre uma distância de 276 metros, tendo sofrido várias alterações ao longo dos tempos. Foi completamente remodelado em 1944. É um elevador histórico – uma das principais atrações turísticas da capital, com uma utilização média de 3 milhões de passageiros/ano – que mantém a sua função e muitas das suas características originais. Uma verdadeira peça de Museu.

Em Viana do Castelo, no dia 2 de junho de 2023 celebrou-se o centenário do Elevador de Santa Luzia. Este elevador percorre o maior percurso de Portugal (650 metros – mais do dobro do seguinte, o da Nazaré) e vence o maior desnível (160 metros). Foram dias de festa, a celebração dos 100 anos de utilização (quase ininterrupta) deste elevador. Desde 2007 que possui carruagens novas e modernas, que passaram a realizar este serviço. Após essa data recebe uma média de 135 mil passageiros/ano.

Mas é no cimo do monte que nos é possível conhecer uma das carruagens históricas que, em tempos, realizou este serviço. Está inoperacional e apresenta-se, hoje, como uma peça de Museu. Perdeu a sua função, mas mantém a sua identidade, cativando o interesse dos visitantes.

As atuais carruagens do elevador de Viana do Castelo não necessitam de guarda-freio, estando todo o sistema automatizado a partir de um único operador. Podem transportar até 24 passageiros, cruzam-se a meio do trajeto e funcionam em contrapeso: a que desce ajuda a puxar a que sobe, existindo um motor elétrico (e um outro motor de emergência a diesel) que ajudam quando a diferença de carga nas cabinas é acentuado. Dispõe de 4 sistemas de travagem: travões de via hidráulicos, travão motriz elétrico, travões de serviço e travões hidráulicos de emergência.

Não faço ideia se são sistemas de travagem suficientes. Mas confio, tanto mais sendo um sistema moderno. Confio que tudo funcionará na perfeição, mesmo no caso de se verificar uma anomalia. Confio, e sempre confiarei. Seja no nosso funicular, numa viagem de ferryboat até ao Cabedelo, ou numa longa viagem de avião. A confiança é, de facto, uma das mais importantes características do Homem.

Ao longo dos últimos anos, tenho verificado que o principal serviço de transporte que serve o Monte de Santa Luzia, em particular a Basílica do Sagrado Coração de Jesus e o Albergue de Peregrinos, está frequentemente parado. Sem serviço. A razão é simples: existem avarias e o processo de manutenção/arranjo, realizado pela empresa gestora, é demorado. Na maior parte das vezes, o motivo da demora é a espera pelos componentes/peças. É óbvio que gostaríamos que estes arranjos fossem céleres. Não sendo possível, pedimos sempre que seja disponibilizada uma alternativa (rodoviária, por exemplo), para o transporte dos cerca de 12 mil passageiros que fazem, em média, este percurso por mês. Compreendemos que representa um custo acrescido à gestão deste serviço público, mas é um custo que deveria ser sempre equacionado. A bem do serviço e a bem da nossa segurança.

Agora imagino em Lisboa, num meio de transporte que desloca mais de 8 mil pessoas por dia, a pressão que deve existir para que tudo se mantenha em funcionamento, mesmo no caso de se verificar alguma anomalia…

A real fruição deste tipo de património está diretamente relacionado com a sua função. É a sua função que o carateriza e o torna único. Apesar de muitos estarem classificados, até como Monumento Nacional – como o caso do próprio Elevador da Glória – a solução passará certamente pela musealização do material centenário e a refuncionalização com novos equipamentos, seguros e modernos. É possível manter a função, o carisma e a mítica, sem colocar em causa a segurança. Viana do Castelo não perdeu utilizadores no seu funicular, após a modernização realizada em 2007. Antes pelo contrário.

Uma palavra final de conforto e coragem para os feridos e para os familiares das vitimas mortais e para todos os Lisboetas que, tal como eu, nutrem grande estima e carinho para com todo este tipo de vivências e memórias da nossa cidade de Lisboa.

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