Verão, sinónimo de festas, festivais, romarias. Em todas as cidades, vilas e aldeias há um santo, uma efeméride, festival ou feira a realizar.
Em Viana do Castelo, não há uma festa, é a FESTA, a ROMARIA, mas já lá vamos.
Comecemos pela Volta a Portugal – não estava cá, logo não sei bem como foi. Não deve ter sido muito diferente de outras provas de duas rodas – trânsito cortado, agitação, música bem alta, muita assistência, e lá passaram os ciclistas. Mas sempre é uma prova nacional, importante! O problema são, ao longo do ano, as corridas, corridinhas, a pé, marcha ou de bicicleta.
É vê-los, logo pela manhã, em bandos, qual andorinhas, pegas ou corvos negros a regressar ao acampamento, depois de uma noite de NEOPOP. Outros há que regressam de TVDE ou táxi ao hotel. Não incomodam. Não pensaria o mesmo se ouvisse o som que é destilado horas e horas a fio. Felizmente, não me chega a casa.
E chegamos à Grande Festa, nos últimos anos dilatada nos dias.
Como não tenho redes sociais, não pude acompanhar a saga da Mordomia. Fiquei no diz-se que disse. Gosto que as pessoas se indignem quando creem ter razão, mas vejamos: 1000 mordomas já não é muito!? É um desfile que pretende mostrar o melhor que têm, todo o orgulho que as vianenses têm, vamos lá, toda a chieira, ou é uma tentativa de superar qualquer recorde do Guiness?
Quando quero ir a um espectáculo reservo/compro, logo que possível, os bilhetes para os garantir. É pena que tudo seja aproveitado politicamente para empolgar, prometer, ser populista.
O direito à indignação, à contestação são muito legítimos, mas é pena que não o façam, também, noutras circunstâncias. Na mesma altura desta polémica começou a circular a notícia de uma nova lei que, a ser aprovada, por aqueles que agora prometem tudo, para o ano, podem desfilar todas, mas, algumas delas, estarão a desfilar já despedidas por “justa” causa … Isso, sim, indigna!
Aguentei estoicamente, ao sol, à espera do desfile, que sempre me encanta. Muita, muita gente a assistir. Muitas, muitíssimas, participantes (mais setenta e tal conseguiram um lugar), muito, em alguns casos demasiado, ouro, as individualidades e a banda, valeu a pena, apesar da extensão.
Com um dia para descansar, chegámos ao esperado Cortejo histórico e etnográfico. À sombra, em cadeira antecipadamente comprada e devidamente numerada, como há anos venho defendendo para as bancadas para não ser a confusão e tudo ao molhe, assisti ao passar de lavradeiras com cesto de … e de… e de… Bonito, mas extenso. Claro que, para quem vem de fora, é excepcional; para os de cá, sempre se vai vendo e comentando quem vai desfilando e vai-se comendo alguma coisita que vem nos cestos de…
Para grande alegria minha, tive a sorte de assistir a uma actuação, mesmo à minha frente, dos bombos de Vairiz, Baião – não saltam, não dão espectáculo, não usam óculos de sol, mas … tocam! Tocam e bem. (Será razoável que, em outros grupos, crianças bem pequenas sigam junto à porta-estandarte, ou, maiorzinhos, a rufar com toda a força que têm. Não será prejudicial para os ouvidos e para os membros dessas crianças? Ninguém pode actuar?)
Em alguns dias, e para ocupar a programação, inventaram um sunset cheio de “animação” e barulho. Muito próprio deste género de Romaria (Será que o NEOPOP e o BATE FORTE vão começar a ter um sunset folclórico? Haja pachorra!). Constou-me que, na Ribeira, na noite dos tapetes, alguns espaços improvisados, e não só, debitam música do género, apesar de já não ser sunset. Como é que as pessoas da Ribeira, tão cheia de tradições, compactuam com este disparate?
De manhã bem cedo, tapetes lindíssimos, igrejas bem ornamentadas, janelas e varandas bem decoradas com todos os objectos simbólicos encheram-me a alma. Perfeita Romaria!
Sempre muito, muito mau, o estacionamento completamente anárquico que se prolongou já a Festa tinha terminado. Um abuso, uma falta de civismo, um descartar das autoridades competentes, uma falta de consideração pelo peão, por quem tem mobilidade reduzida, um perigo em caso de e uma emergência. Festa/Romaria não é sinónimo de vale tudo.
Para o ano, há mais! Serão 1000? 1500? E os cestos de…
Não matem a galinha dos ovos de ouro!
Um aparte:
No Verão, há sempre falta de sangue nos hospitais. Não há dadores suficientes. `Dador`, como a palavra indica, é que ou quem que dá. É um acto voluntário, altruísta. Ouvi, há dias (e não há dias atrás), na rádio, que, para aliciar os jovens a dar sangue vão ser recompensados com vouchers (talvez quisessem dizer “vales de desconto”) para as Pousadas da Juventude. Que tal a recolha, ao fim da tarde, com um sunset…
Triste! Muito triste!
SUGESTÕES
Ler – Fascismo e populismos Mussolini hoje, Antonio Scurati
Ouvir –A beleza das pequenas coisas, podcast do Expresso (recomendo a conversa com Helena Roseta)
**(Escrito de acordo com a ortografia antiga)
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.