Quantos de nós já não ouvimos, sobretudo na época de inverno, algum familiar ou amigo a dizer “já me está a doer a garganta, acho que vou ter que tomar algum antibiótico”. Pois bem, este mês é Chamado ao Consultório para discutirmos se será que, na maioria das situações, precisa mesmo de um antibiótico e se tomar antibióticos sem indicação não acarreta outros riscos para a sua saúde.
Nesta altura do ano, é habitual haver um aumento das infeções respiratórias: dor de garganta, dor de ouvidos, tosse, etc. Quando decide ir a uma consulta médica, uma das tarefas do clínico é tentar perceber se é mais provável essa infeção ser causada por um vírus ou por uma bactéria. Para isso, é necessário ter em conta alguns fatores, como a duração e intensidade dos sintomas, a resposta ao tratamento dos mesmos ou os fatores de risco de cada pessoa. Considerando tudo isto, é que ele vai ponderar se são necessários exames adicionais ou se há indicação para tratamento com antibiótico. (E não, não basta ter febre ou pontinhos brancos na garganta para ter, só por isso, indicação para tomar antibiótico.) Isto explica, também, o motivo pelo qual, muitas vezes, o médico apenas lhe dá indicação para esperar e vigiar os sintomas.
Se por vezes esta tomada de decisão pode parecer exagerada ou desnecessária, a verdade é que tomar antibióticos sem que haja indicação para tal acarreta riscos. Primeiro, porque estes medicamentos são feitos para tratar infeções causadas por bactérias e não atuam nas infeções causadas por vírus. Aliás, as infeções víricas são, na sua grande maioria, autolimitadas, o que significa que ao final de alguns dias acabam por se resolver, mesmo sem tratamento dirigido. Segundo, porque tomar antibióticos sem necessidade leva ao aparecimento de resistências. Mas porque é que isto pode ser perigoso? Com o uso sistemático de antibióticos, as bactérias vão-se tornando cada vez mais resistentes, perdendo o seu efeito terapêutico e acabando por sobreviver e multiplicar-se, mesmo na presença do antibiótico. As infeções podem tornar-se mais graves, mais prolongadas e mais difíceis de tratar, exigindo outros tipos de antibióticos, habitualmente com mais efeitos adversos. No futuro, isto acabará por limitar as opções de tratamento e, em última instância, poderá fazer-nos recuar à era pré-antibióticos, na qual uma infeção bacteriana comum, podia ser mortal, por não haver tratamento eficaz.
Assim, para evitar o problema das resistências, deve sempre ser avaliado por um médico antes de se automedicar com um antibiótico. Por muito boa vontade que a sua vizinha tenha em lhe dar o antibiótico que o médico lhe receitou quando ela teve uns sintomas iguais aos seus, não o tome. Marque uma consulta no seu médico de família. Cumpra o tratamento que lhe for prescrito, nas horas certas e durante os dias indicados. Não guarde antibióticos para usar no futuro; caso sobrem, entregue-os numa farmácia. Fazer um uso racional e adequado dos antibióticos protege a sua saúde e a saúde de toda a população.
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