Subida Infinita: Contramão à flor da pele

João Basto
20 Dez. 2024 2 mins

Enquanto as salas vão esgotando com os nossos artistas da praxe, outras coisas acontecem. Lá pelo meio, não tem havido dúvidas. Não passam nas grandes rádios, não tem letras usadas como declarações de amor, mas os Capitão Fausto são a melhor banda pop dos últimos 15 anos de música em português. Distantes do paroquialismo. São imunes ao bolor da nova canção ligeira refém de melodias de catálogo e rimas de infantário. 

No panorama musical português, existem os consagrados imemoriais que percorrem o país para deleite da nossa meia-idade. (Vai-se a um concerto do Rui Veloso como se vai a um jardim zoológico). Ou, então, temos a vasta oferta de Carolina Deslandes e seus colones – as nossas seletas meninas de coro – que vão já em número suficiente para encher a sala dos banquetes de Estado no Palácio Nacional da Ajuda. Tudo o resto é de difícil procura e digestão trabalhosa para tão suave paladar. 

2024 trouxe Subida Infinita. Nela há o “Na na nada”, o “Nada de mal”, o “Nunca nada muda”. A seguir da Invenção do Dia Claro segue-se a “nuvem negra, nuvem carregada, emancipada”, onde “há-de haver festa, até se for para estar a chorar”. 

Em todos os álbuns, há uma pergunta e uma promessa. Em Subida Infinita, a pergunta é “qual dos nossos sonhos vai ficar de fora?”. A promessa: “onde eras tu ninguém se vêm sentar”. Subida Infinita é a celebração “das que passam devagar”, do canal, à margem da ria, “que arrasta para longe o corpo da cria enquanto dormia descansada”. É a Primavera que “morre sem ninguém notar”, a festa “fachada dessa nossa tristeza”, a mão “sem polegar”. Difícil? “Disso eu sei, meu amor, há uma forma do futuro ser na mesma um bom lugar”. 

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