João Rodrigues: Alimentação desempenha papel importante na prevenção do cancro

Um estudo sobre o estado atual da saúde em Portugal, promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e pelo Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde, em cooperação com a Comissão Europeia, revela que “o cancro foi a segunda causa de morte mais comum, representando 23 % das mortes”. 

Em 2022, “Portugal registou cerca de 66 600 novos casos de cancro”. “(…) os cancros da próstata (21 %), colorretal (17 %) e do pulmão (12 %) foram os mais comuns entre a população masculina, enquanto os cancros da mama (31 %), colorretal (14 %) e da tiróide (7 %) representaram mais de metade dos novos cancros entre a população feminina”, especifica o estudo.

E, de acordo com as previsões do Observatório Mundial do Cancro, através do projeto “Cancer Tomorrow”, “Portugal poderá enfrentar um aumento de 17% nos casos de cancro até 2045, resultando em mais de 81 mil novos diagnósticos, sendo que os cancros da próstata, mama e cólon deverão continuar a ser os mais prevalentes”, refere um artigo da Associação Vegetariana Portuguesa. “Em termos de mortalidade, prevê-se um aumento de mais de 30% no número de óbitos até essa data”, conclui.

João Rodrigues é natural de Viana do Castelo e, desde 2017, com o seu blog “Mundo da Nutrição”, tem partilhado dicas, estudos científicos recentes, receitas, e muito mais que deram ainda origem a dois livros: “Duelos de Alimentos” e “Tradicional e Saudável”. 

Para o nutricionista, “a alimentação pode desempenhar um papel particularmente importante na prevenção do cancro” porque “existem vários nutrientes e compostos bioativos que parecem contribuir para uma diminuição significativa do risco de vários tipos de cancro, nomeadamente, os do sistema digestivo”. “A alimentação pode ser um importante aliado em casos de enjoos associados aos tratamentos oncológicos”, salienta, ressalvando que é igualmente “importante” para “garantir que os pacientes oncológicos não apresentem nenhum tipo de desnutrição”, “sendo por isso um fator determinante para a melhoria do prognóstico dos mesmos”.

João Rodrigues defende que o acompanhamento nutricional é “muito importante” no antes, durante e pós o tratamento para “garantir um aporte de nutrientes adequado, num período particularmente exigente em termos de manutenção da funcionalidade e saúde do seu corpo”, e para “a recuperação e reparação dos tecidos afetados”. “É igualmente importante para minimizar o risco de enjoos, caso existam. E, por último, num cenário onde existe grande vulnerabilidade emocional, a alimentação pode ser um aliado imprescindível para trazer algum conforto e bem-estar”, acrescenta.

Apesar de ainda não existir conhecimento suficiente sobre a importância de adaptar a dieta ao tipo específico de cancro, João Rodrigues acredita que, no futuro, será uma “situação frequente”. E, em relação aos suplementos nutricionais, vinca que “deve ser prescrita por um nutricionista ou outro profissional devidamente qualificado para o efeito”, tendo em consideração cada caso em particular. “De uma maneira geral não há suplementos indicados para este tipo de contexto, mas em casos particulares podem ser uma mais-valia”, esclarece.

No que diz respeito à alimentação, mais concretamente aos alimentos mais recomendados para os pacientes e tratamento, o nutricionista afirma que a alimentação deve ser “variada, saudável e adequada às suas características”. “Devem ser evitados alimentos potencialmente perigosos, como alimentos fumados, bebidas alcoólicas, carnes gordas, enchidos, fumados, e alimentos ultraprocessados”, alertou. No entanto, por outro lado, deve-se privilegiar o consumo de alimentos ricos em vitaminas e minerais, tais como frutas e legumes, e em gordura ómega-3, tais como os peixes gordos. 

Já a hidratação é “fundamental”, não só para os pacientes oncológicos como para todos. “Se estivermos desidratados, o nosso corpo vai funcionar pior a todos os níveis”, explicou, especificando que, no caso dos pacientes oncológicos, que apresentam uma doença complexa, “um correto estado de hidratação vai ser fundamental, por exemplo, para o funcionamento do sistema imunitário, para a remoção de agentes de quimioterapia (quando aplicável), para a reparação e renovação dos tecidos, para a regulação do apetite, entre tantos outros processos”.

Os efeitos secundários da quimioterapia e radioterapia também podem ser ultrapassados, segundo João Rodrigues, com alimentos como o gengibre, a menta ou a hortelã, que ajudam a minimizar os enjoos. No entanto, os alimentos ricos em proteína, e/ou em zinco são “muito importantes para a reparação dos tecidos afetados” e “a gordura ómega-3, por causa do seu potencial anti-inflamatório, deve ser também valorizada”.

Para a perda de apetite, João Rodrigues aconselha “tentar comer menos quantidade de cada vez, e de forma mais frequente”, sugerindo opções de “comidas mais frias, e com maior teor de água”.

Após o tratamento, a alimentação também pode impactar a prevenção de recidivas porque “fornece todos os nutrientes indispensáveis para o funcionamento do corpo”. Como exemplo, o nutricionista destaca a ingestão de alimentos ricos em antioxidantes. “O importante é arranjar alternativas que permitam aos pacientes terem uma relação positiva com a comida, para se alimentarem corretamente”, conclui.