Diocese de Viana despediu-se do Bispo Emérito, D. José Augusto Pedreira

No momento em que a Diocese de Viana do Castelo recordava ainda “de forma viva” a partida repentina do Bispo Diocesano D. Anacleto Oliveira, morria o seu Bispo Emérito, “fechando o ciclo dos seus primeiros quatro bispos residenciais”, conforme expressou Mons. Sebastião Pires Ferreira. D. José Augusto Pedreira, de 85 anos, faleceu no passado dia 14 de outubro, no Hospital de Braga, onde estava internado.

Notícias de Viana
23 Out. 2020 9 mins
Diocese de Viana despediu-se do Bispo Emérito, D. José Augusto Pedreira

“Temos também de acreditar que viemos do pensamento, do querer e do amor de Deus”

Os restos mortais de D. José Augusto foram acolhidos, no dia 15 de Outubro pelas 10:00, na Sé Catedral de Viana do Castelo, onde se realizaram todas as cerimónias fúnebres.  “Nós somos coetâneos de Deus. Vimos também de infinito e, no momento próprio, fomos concebidos e aí sim, entramos na biologia e no tempo, e começamos uma outra rota que tem um princípio, um meio e um fim, como agora assim constatamos”, começou por dizer Mons. Sebastião Pires Ferreira nesta ocasião lembrando as palavras dos profetas Isaías e Jeremias, retomadas, também, nos Evangelhos. “Com a mesma fé com que acreditamos que esta Vida biológica tem um termo e entramos numa vida, com letra grande, a Vida Eterna, vivendo-a nos esplendores da luz perpétua, nós temos também de acreditar que viemos do pensamento, do querer e do amor de Deus”, considerou.

O administrador diocesano referiu ainda que se trata de “retomar ao início e o início é o coração de Deus Pai”. “O Evangelho diz-nos que ‘não vos deixeis consternar, não se perturbe o vosso coração’. Estas palavras serenam-nos, mas, claro, apoiam-se numa fé firme e forte, que vem da Ressurreição de Jesus. Jesus Cristo encarnou. Ele era o Verbo. Ele é a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Ele veio de Deus”, disse, salientando que, se cada um viver constantemente no dia-a-dia esta fé, esta leva-os pela confiança à esperança e à comunhão. “Passa pela Terra e fez tanta coisa boa que, durante estes dias, vamos pôr em destaque. E, volta ao lugar e ao estado de onde veio porque Jesus disse ‘vou preparar-vos em lugar, em cada de meu Pai há muitos lugares’, e este lugar é o coração”, concluiu.

“Ao recebermos o batismo tornamo-nos santos plenamente identificados com Jesus Cristo”

No mesmo dia, pelas 21h30, realizou-se a Oração de Completas. Orientando-se pela carta de São Paulo, Monsenhor Sebastião abordou a Santidade que “abrange o espírito, a alma e o corpo”. “Também a nossa identidade precisa de uma lavagem através do sacramento da reconciliação ou da confissão, da penitência ou do abraço, manifestando-se assim a misericórdia infinita de Deus que perdoa sempre”, afirmou.  “Ao recebermos o batismo tornamo-nos santos plenamente identificados com Jesus Cristo, configurados com Ele e daí, que só do batismo já exulta para nós a sacralidade do ser que somos”, disse, salientando que o batismo “é a porta para entrar na Igreja”.

“Aqueles que morrerem em Cristo ressuscitaram como Cristo”

Já na manhã do dia 16, a Sé Catedral acolheu a Oração de Laudes que ficou marcada pelo apelo à fé: “Se acreditardes”. Monsenhor Sebastião frisou que “é necessário que a fé profunda e esclarecida seja também convicta”. “A fé está enraizada em cada um de nós. Isto é, que a nossa vida mostre e testemunhe aquilo em que acreditamos”, referiu, abordando a missão da Igreja: “Ide e testemunhai, disse Jesus”. “Nós, crentes, testemunhamos o núcleo da nossa fé e a ressurreição de Jesus. E, por isso, para quem tem fé, estes acontecimentos fúnebres não serão para um pesadelo. Claro que fica sempre a saudade porque deixamos de ver as pessoas queridas, mas torna-se também um dia “dies natalis”, o dia de nascimento para a eternidade, o coração de Santíssima Trindade e a bem-aventurança eterna”, disse, acrescentando: “Então, se a nossa fé for profunda e esclarecida, aqueles que morrerem em Cristo ressuscitaram como Cristo. D. José Augusto, pregou esta mesma doutrina e viveu-a a sério na sua vida de padre, de bispo e ainda no princípio do seu calvário quando apareceram estas fragilidades, que nos vão mostrando o caminho de transformação. A vida não acaba, apenas se transforma e, por isso, que bom é, no nosso interior, fazermos uma pausa e vê-lo através da nossa imaginação, e senti-lo já a gozar a visão própria dos santos.”

“A estrada não termina aqui, abriu-se já uma nova forma de existir”

Da parte da tarde, D. José Ornelas, bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, presidiu à celebração exequial de D. José Augusto Pedreira, que contou ainda com a presença de membros do presbitério, bispos e autoridades locais.

Na homilia, o bispo de Setúbal pediu que a Diocese de Viana do Castelo veja nos seus primeiros quatro bispos já falecidos “colunas” que a façam viver a fé e a esperança na vida de cada dia. “Ainda há pouco mais de três semanas estivemos aqui a celebrar as exéquias do D. Anacleto Oliveira e hoje reunimo-nos para dizer um adeus amigo, nesta terra, ao seu sucessor, D. José Augusto Pedreira. Esta proximidade da morte pode levar-nos a pensamentos pouco otimistas sobre a nossa existência, particularmente, neste tempo de pandemia em que o tema da fragilidade da saúde e da vida, está bem presentes”, começou por dizer, acrescentando: “Diz esta Carta aos cristãos de Éfeso que aquilo que aqui celebramos, não é o fim de um percurso de uma pessoa. A estrada não termina aqui, abriu-se já uma nova forma de existir.”

D. José Ornelas terminou a sua intervenção apelando a Deus que, “as sementes de Evangelho, de vida e de esperança que D. José Augusto foi semeando nestas terras do Minho e pelo mundo, possam crescer e dar fruto, nesta Igreja de Viana do Castelo e na sociedade a que ele decidiu a sua vida”. 

No final da eucarística, Monsenhor Sebastião Ferreira transpareceu “uma profunda dor” pela morte do bispo Emérito. “Vemos passar para a eternidade mais um bispo da nossa diocese e, com ele, constatamos uma diocese que, não tendo ainda 50 anos de existência, vê fechado um ciclo de quatro bispos residenciais, todos já na eternidade. Não nos sentimos órfãos, mas vemo-nos, como Maria, junto à Cruz de Jesus, pesarosos na Soledade”, notou, relembrado os quatro bispos diocesanos – D. Júlio Rebimbas, D. Armindo Coelho. D. José Augusto e D. Anacleto Oliveira – que deixaram “um valioso legado” na Diocese de Viana do Castelo. Sobre D. José Augusto, enalteceu a realização do 1º sínodo diocesano que “marcou e saturou a Diocese e lhe apontou rumos por onde, pastoralmente, devia seguir”. “Simultaneamente, mandou construir o auditório do Centro pastoral VI que, no uso pleno, comporta mais de 500 pessoas, e a Casa Sacerdotal, na qual, pós emérito, se recolheu e aí viveu até à morte”, adiantou, terminando: “Quero comunicar a todos os diocesanos que a nossa presente soledade será passageira e, em consequência, a fraqueza que inicialmente sentimos, passará, pois que, assim como pela ação do Espírito Santo, Deus Pai ressuscitou Jesus Cristo, também em breve, pelo conforto do mesmo Espírito, a Igreja que está em Viana do Castelo cantará o Aleluia da Páscoa Redentora, no acolhimento a um novo pastor”, terminou.

Após as exéquias, os restos mortais de D. José Augusto foram acolhidos na Igreja da ordem Terceira de São Francisco  seguiram para o cemitério da mesma ordem.

D. José Augusto lembrado como “um homem pacifico e pacificador”

A missa de 7º dia, que decorreu também na Sé catedral, teve início com a leitura da mensagem do Papa Francisco que recebeu “com tristeza” a notícia da morte de D. José Augusto Pedreira. “Encomenda a Deus este dedicado pastor, unindo-se aos sufrágios dessa comunidade diocesana, onde ele exerceu, por diversos anos, o seu ministério episcopal, deixando exemplo de uma vida devotada a Cristo na adesão coerente à própria vocação sacerdotal em plena fidelidade ao Evangelho e ao ensinamento da Igreja”, pode ler-se na nota, que deixa ainda “as condolências aos familiares e a toda a Diocese de Viana do Castelo”. “Que a fé em Cristo citada e ilumina de esperança, envia-lhes a bênção apostólica a quantos tomaram parte nas celebrações exequiais”, termina.

Na homilia, o administrador diocesano partiu do refrão do salmo – “O senhor abençoará o seu povo na paz” – que mostra o itinerário catequético dos discípulos. “Era uma comunidade dividida, mas São Paulo disse-lhes que como Cristo os chamou e os tocou, são agora um só povo. Um povo renovado”, recordou, salientando que Cristo “é de verdade a paz”. “Saber e perceber isto tranquiliza-nos porque não é uma paz que, não só nos pacifica como também nos une quando estamos divididos. Teremos uma fé viva que dê para testemunhar e mostrar que somos verdadeiramente filhos de Deus, e cumpridores configurados com Jesus Cristo. Portanto, habitantes do céu”, declarou.

Monsenhor Sebastião Pires lembrou ainda D. José Augusto enquanto formador dos seminários: “Era um homem que, quando sabia que algum seminarista tinha algum problema, ele estava ali para acariciar e animar”, contou, acrescentando que, quando foi pároco de Monserrate, o bispo Emérito ajudou-o a que os paroquianos aceitassem a divisão no Convento de S. Domingos, com a este acolher, também, os serviços da Diocese. “Foi ele que me deu posse como pároco de Monserrate e, portanto, tenho por ele uma estima muito grande. Já depois de ser bispo auxiliar do Porto, veio para a nossa Diocese e mantive o meu cargo como Vigário Geral. Estive a trabalhar muito intimamente e também aí, o D. José Augusto foi sempre um amigo. Um homem pacifico e pacificador”, afirmou.

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