Pe. José Domingos: “A principal preocupação é discernir e orientar os sinais vocacionais e o desenvolvimento de uma personalidade equilibrada e saudável”

Há quanto tempo está como reitor do Seminário e que balanço faz? Há dois anos. Na altura era Pároco de Barroselas e de Carvoeiro, neste Arciprestado de Viana do Castelo. Em maio de 2018 o sr. Dom Anacleto chamou-me e disse-me que precisava de mim para Reitor do Seminário. Foi um período com algumas conversas, […]

Micaela Barbosa
6 Nov. 2020 7 mins
Pe. José Domingos: “A principal preocupação é discernir e orientar os sinais vocacionais e o desenvolvimento de uma personalidade equilibrada e saudável”

Há quanto tempo está como reitor do Seminário e que balanço faz?

Há dois anos. Na altura era Pároco de Barroselas e de Carvoeiro, neste Arciprestado de Viana do Castelo. Em maio de 2018 o sr. Dom Anacleto chamou-me e disse-me que precisava de mim para Reitor do Seminário. Foi um período com algumas conversas, mas, em julho, em espírito de obediência, aceitei o que o meu Bispo me pedia. 

Tenho dificuldade de fazer um balanço, sobretudo porque este é um trabalho cujos frutos se colhem a muito longo prazo. No entanto, no final de cada ano, habitualmente no encontro de férias, fazemos uma avaliação do ano com a equipa formadora e os seminaristas. Mediante o que tem sido referido nesses encontros, sou levado a concluir que ainda há um longo caminho a percorrer para que o Seminário Menor de Viana continue a crescer e a tornar-se, cada vez mais, a comunidade que desejamos e que a Igreja espera. 

Qual a importância dos encontros do pré-seminário? Que caminho é que se começa a fazer com os candidatos ao pré-seminário?

O pré-seminário é o tempo e o caminho que o candidato ao Seminário percorre antes de ingressar no Seminário, normalmente de 1 ou 2 anos, habitualmente com um encontro mensal durante um sábado ou fim de semana. Estes encontros são importantes porque permitem acompanhar e discernir os sinais vocacionais, as verdadeiras motivações e razões pelas quais o adolescente se sente chamado por Jesus e a fazer uma opção por Ele. Por outro lado, o pré-seminário, através do contacto e convívio com os seminaristas, permite um ligeiro e gradual conhecimento e adaptação à vida do Seminário.

O caminho que se faz com os candidatos ao Seminário está adaptado à idade de cada um. Com os adolescentes, consiste em acompanhar e orientar o chamamento de Deus que cada um sente dentro de si. Desenvolvem-se atividades, reflexões, partilhas e momentos de oração que permitam, quer à equipa formadora, quer aos adolescentes, discernir se o que sentem como chamamento de Deus está enquadrado com a vocação sacerdotal, ou se não passam de motivações e expectativas pessoais desenquadradas com a vida sacerdotal. Uma das atividades apreciada pelos adolescentes era a prática de desporto com os seminaristas, mas que este tempo de pandemia não permite desenvolver.

Quais são os principais objetivos da formação do Seminário Menor? A entrada para o Seminário Maior é a única preocupação?

O primeiro e principal objetivo da formação é conhecer cada seminarista, e sem que cada um perca a sua identidade, fazer do Seminário uma comunidade e uma família. É cada vez mais frequente chegarem ao Seminário adolescentes e jovens das mais diversas realidades sociais e familiares. Um dos conceitos de educação que temos presente é que “cada um é como cada qual, e que deve ser tratado em consonância”, pois é fundamental conhecer as virtudes e fraquezas de cada seminarista, propor-lhe um caminho de crescimento e levar a que o seminarista seja o primeiro interessado e empenhado em percorrê-lo.

Também temos consciência que, na prática, a formação do Seminário Menor incide sobretudo na formação académica, pois grande parte do tempo dos seminaristas é vivido em ambiente escolar com outros rapazes e raparigas e em tempo de estudo. Contudo, o Seminário não é, nem pode ser, apenas uma residência ou colégio de estudantes. Paralelamente à formação escolar, proporciona-se uma formação espiritual e humana. Neste sentido, além da equipa formadora que reside no Seminário, fazem parte desta equipa o Diretor Espiritual, um professor de música e canto coral e uma psicóloga. A formação espiritual incide na iniciação e prática da oração que conduz a uma vivência litúrgica e sacramental, favorecendo o conhecimento e encontro com Jesus Cristo. A música e o canto coral também contribuem para o desenvolvimento de capacidades artísticas orientadas para a beleza da liturgia.

A formação humana, alicerce de toda a formação, tendo em consideração a idade e individualidade de cada seminarista e o dinamismo do crescimento, incide na promoção de uma saudável vida comunitária e na gestão de emoções e conflitos próprios do crescimento humano. No seio desta vida em comunidade, o objetivo é cultivar e desenvolver valores e princípios como a responsabilidade relativa aos deveres pessoais e comunitários, o justo uso da liberdade, a capacidade de cultivar amizades fraternas, a confiança, a lealdade, a sinceridade e transparência de vida, entre outros. A constituição de equipas de trabalho e o desporto, são meios para consolidar e vivenciar estes princípios.

Como acabei de referir, a principal preocupação é discernir e orientar os sinais vocacionais e o desenvolvimento de uma personalidade equilibrada e saudável. A passagem para o Seminário Maior será a consequência deste discernimento e desenvolvimento. Costumo dizer e repetir muitas vezes aos seminaristas, que o Seminário Menor cumpre a sua missão quando os ajuda a seguir para o Seminário Maior e também cumpre a mesma missão quando aconselha ou diz a um jovem que, mediante a ausência de sinais vocacionais e testemunho de vida, não reúne as condições para transitar para o Seminário Maior.

Que diferenças existem entre o seu tempo de Seminário e o de agora?

A primeira e principal diferença tem a ver com o número: no Seminário Menor de Monção chegamos a ser cerca de 60, e no Seminário menor de Braga chegamos a ser mais de 200 seminaristas. O facto de ser um grupo tão numeroso não permitia um acompanhamento de proximidade e personalizado que o processo educativo exige. Nesse contexto, o método educativo era mais punitivo, ao passo que hoje é mais pedagógico e estimulativo.

Outra grande diferença consiste em que, no meu tempo, o Seminário Menor era em regime total de internato, ou seja, as aulas eram dentro do Seminário, só para os seminaristas. Hoje, os seminaristas frequentam a escola pública ou o Colégio do Minho, num ambiente escolar de convivência com outros adolescentes e jovens não seminaristas.

O seminário é um casa de formação dos futuros sacerdotes da Diocese de Viana do Castelo. Para além deste fator, o que mais destaca do projeto educativo do seminário? 

O Seminário, mais que um espaço, é um tempo e um caminho, pois o Seminário deve caracterizar-se como uma comunidade em caminhada. O Seminário não é uma meta, nem o sacerdócio é uma meta. A meta é a permanente identificação e configuração com Jesus Cristo, isto é, formar jovens verdadeira e constantemente enamorados por Jesus, e no serviço à Igreja e à humanidade, ou seja, nas palavras do Papa Francisco, formar pastores com cheiro das ovelhas às quais são enviados a amar, a conduzir e a servir.

Neste sentido, o projeto educativo do Seminário procura concretizar as orientações dos documentos da Igreja sobre a formação nos seminários, assente em quatro pilares, alguns já referidos nas respostas anteriores. São eles a dimensão humana, a dimensão espiritual, a dimensão intelectual e a dimensão pastoral. No Seminário Menor preocupamo-nos em trabalhar e cuidar sobretudo da dimensão humana e espiritual, uma vez que a dimensão intelectual é trabalhada no colégio e a dimensão pastoral é aprofundada no Seminário Maior.

Sem uma cuidada formação humana, toda a formação sacerdotal ficará privada do seu essencial e necessário fundamento

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