O dia histórico Momento alto da história da Igreja diocesana, a tarde daquele dia 13 de novembro de 1983 encheu-se de pompa logo que, pelas 15 horas, o Bispo de Viana do Castelo chegou ao recinto exterior do Seminário de São Teotónio, acompanhado pelos Monsenhores Carlos Francisco Martins Pinheiro (1925-2010), Vigário Geral, e José Maria […]
O dia histórico
Momento alto da história da Igreja diocesana, a tarde daquele dia 13 de novembro de 1983 encheu-se de pompa logo que, pelas 15 horas, o Bispo de Viana do Castelo chegou ao recinto exterior do Seminário de São Teotónio, acompanhado pelos Monsenhores Carlos Francisco Martins Pinheiro (1925-2010), Vigário Geral, e José Maria Costa Reis Ribeiro, Secretário-geral da diocese, que também foi professor no antigo Externato Liceal de Monção, a partir de 1962.
À espera, aguardavam a fanfarra dos Escuteiros da Meadela (Viana do Casteo), o Vice-reitor e alunos do Seminário, o Pe. Fernando Marques de Oliveira (1931-2015), ex-diretor do Externato, os Arciprestes, os Reitores dos Seminários de Braga e do Porto, o Governador Civil de Viana do Castelo, os autarcas de Monção e Viana do Castelo, entre outras autoridades civis, militares e académicas.
Enquanto os coralistas das Paróquias da vila, Bela e Pias, dirigidos pelo Pe. Manuel Bento Amoedo Afonso, executavam o hino prelatício, D. Armindo dirigiu-se para o palco erguido no exterior e em frente do edifício, onde presidiu a uma celebração da Palavra.
Após a saudação inicial, o Reitor do Seminário deu as boas-vindas a todos os presentes, inclusive, com particular ênfase, aos escuteiros e guias de Viana do Castelo, de quem foi assistente, e ao povo de Santa Marta de Portuzelo, sua primeira Paróquia.
Em pensamento, lembrou o Papa João Paulo II e também o papel de D. Júlio Tavares Rebimbas na crescente consciência diocesana em favor do Seminário Diocesano.
Publicamente, reiterou ao Bispo atual o propósito de «colaboração sincera na formação destes ‘longínquos’, mas possíveis sacerdotes, em pleno respeito pela sua liberdade e na ajuda ao crescimento equilibrado da sua personalidade».
De seguida, D. Armindo tomou a palavra para salientar que «inaugurar a instituição mais necessária à vida de uma Diocese e mais querida do Bispo (de qualquer Bispo), e uma instituição cuja existência nem a sociedade em geral nem as próprias autoridades do Estado podem ignorar, é motivo para que se fale de um dia histórico».
Nos agradecimentos sublinhou, primeiramente, a disponibilidade e o espírito de serviço da direção e agradeceu também a colaboração dos sacerdotes irmãos António e Fernando Marques de Oliveira, ligados anteriormente à dinâmica e direção do Externato, de que era testemunho a placa de homenagem no átrio do novo Seminário, realçando, em particular, o momento difícil por que o primeiro – António Marques de Oliveira (1958-1990) –, ausente do ato inaugural, passava numa cama do hospital e o seu gesto de entregar ao Seminário a medalha de ouro com que havia sido distinguido pela Câmara Municipal de Monção, não só pelo trabalho no Externato, mas também como Pároco da vila.
Mereceram também uma palavra de atenção os engenheiros José Teiga Mano e José do Lago Arrais Torres, os empreiteiros e operários, a «Comissão de urgência», constituída ad hoc, as senhoras Maria Olímpia Pinto da Rocha e Maria do Carmo Abreu Sotomaior, o corpo docente, o Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional e a LIASE, os sacerdotes em geral e as autoridades civis.
Após o rito de bênção, D. Armindo acolheu em mãos as ofertas em dinheiro, muitas resultantes de peditórios feitos nas Paróquias da Diocese, e em géneros – entre as quais, um cordeirinho transportado ao colo de uma criança –, todas destinadas a ajudar a suportar a despesa com as obras de requalificação do edifício, que ainda não estavam completamente concluídas.
Em falta estava a segunda fase das obras, que tornaria o edifício apto a funcionar na sua capacidade máxima de 56 alunos, tal como assim informou o Reitor do Seminário – entretanto Monsenhor desde 10 de abril de 1984 – aos 85 sacerdotes presentes no quinto encontro-convívio dos sacerdotes da Diocese, realizado em 21 de agosto.
No final das contas, a adaptação do edifício do antigo Externato Liceal a Seminário Diocesano representou para a Diocese um investimento na ordem de quase 30 mil contos.
Para mais tarde recordar
Para memória futura do acontecimento histórico da vida da Diocese de Viana do Castelo, Manuel de Jesus Gonçalves Ribeiro, licenciado em História pela Universidade do Porto, acatou o desafio lançado por D. Armindo no termo das cerimónias da bênção e inauguração e fez publicar, em 1984, com o patrocínio da autarquia monçanense, um opúsculo intitulado «Seminário Menor Diocesano de São Teotónio – Antecedentes, bênção e inauguração».
Entre a diversa documentação compilada, podem ler-se os testemunhos dos Arciprestes e de outras individualidades – como o Governador Civil, José Vítor de Oliveira Loureiro (1927-2016), o Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, Henrique Rodrigues da Mata, e o Pe. Fernando Marques de Oliveira, ex-diretor do Externato Liceal de Monção –, que aceitaram responder à pergunta do autor: «Que pensar, de um modo geral, da abertura do Seminário Diocesano de Viana do Castelo, em Monção?»
Segundo o Pe. Fernando Marques de Oliveira, «foi um gesto inteligente, ousado e muito feliz». Inteligente, porque D. Armindo descentralizou assim a vitalidade da pastoral por outras paragens. Ousado, porque correu «o risco de ser incompreendido e ter de enfrentar o peso das opiniões contrárias, que sempre lastimariam não ter sido a sede da Diocese, também, a sede do Seminário». Feliz, pois foi aproveitado um edifício de um prestigioso estabelecimento de ensino, sem funcionamento devido à criação do ensino oficial.
O ex-diretor do Externato Liceal de Monção lembrou que foi «o responsável pela sua construção, que tanto solicitei ao Sr. D. António Bento Martins Júnior e que, depois de criado o ensino oficial, consegui manter na posse da Diocese de Braga, apesar das opiniões contrárias de altos dignitários da Igreja bracarense, convencendo o Sr. D. Francisco Maria da Silva da minha posição. Com o vinte e cinco de abril, evitei a sua ‘ocupação’ selvagem, pela cedência feita por ‘comodato’ à Câmara Municipal, que teve, assim, de no-lo devolver, algum tempo depois».
A resposta dos Arciprestes de Monção, Melgaço, Paredes de Coura, Vila Nova de Cerveira e Ponte da Barca foi unanimemente favorável quanto à decisão de abrir o Seminário naquela vila raiana. No entanto, alguns testemunhos foram mais expressivos do que outros.
De acordo com o Pe. António Carvalho Peixoto, Arcipreste de Paredes de Coura, a inauguração do Seminário «foi um acontecimento que teve lugar em Monção e nesta hora por não ter surgido casa em Viana do Castelo. Foi, portanto, um aproveitamento dum lugar ou casa desaproveitada».
Por sua vez, o Pe. Eduardo Francisco Alves Ribeiro, Arcipreste de Ponte da Barca, referiu que, «o clero, mais atento aos problemas da Diocese e ao verdadeiro sentido do Seminário, concorda plenamente (por palavras, pelo menos); os leigos, se avaliarmos os mais conscientes e as suas preocupações, também concordam, e talvez de uma forma mais clara. Todavia não se consegue vislumbrar se a sua conceção de Seminário é a mesma que nós temos, e que se pôs em funcionamento».
Pois, acrescentou o Arcipreste barquense que «há os que põem em questão o internato total (com aulas no Seminário), como também os que não entendem (ou fazem que não) a multiplicidade de Seminários: Diocesanos, das Ordens Religiosas (para mais vazios), um novo edifício para os alunos do unificado. Enfim, seria muito difícil reunir e resumir as opiniões mais diversificadas, ainda que fruto de menos informação ou pouca formação».
Depois de considerar acertada a instalação do Seminário na vila de Monção, aproveitando uma casa que estava «quase abandonada e já era propriedade da Diocese», o Pe. Justino Domingues (1912-2004), Arcipreste de Melgaço, expressou o voto de que «agora outro que façam, que seja em Viana, que é a sede da Diocese, mas um dos centros da Diocese é Valença e o centro geográfico seria Paredes de Coura, mas acho que não tem condições de grandeza».
Acompanhado da mensagem de que a Diocese de Viana do Castelo tinha o Seminário a funcionar, o opúsculo foi remetido por D. Armindo ao Papa João Paulo II, em nome do qual respondeu o Cardeal Agostino Casaroli (1914-1998), Secretário de Estado do Vaticano, por carta com data de 21 de agosto de 1984.
Na carta, o Cardeal referia que «um Seminário interpela toda a Comunidade diocesana; é o interesse e o empenho desta pelo ‘seu Seminário’ que o fará singrar e fará com que surjam os restantes meios para ele realizar o seu objetivo primário: dotar a mesma Comunidade e a Igreja com os necessários ‘ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus’».
Lida em Conselho Presbiteral, na reunião de outubro de 1984, a carta terminava com uma saudação aos jovens alunos do Seminário de São Teotónio e uma propiciadora bênção apostólica a toda a Diocese.
(continua na próxima edição)
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