O atual panorama civilizacional aparece como tremendamente rápido, sem oportunidades para refletirmos sobre o que se passa: somos envolvidos pela mudança repentina e não nos damos conta do ar movediço em que se vive; somos facilmente descartáveis, se não arriscamos a viver a um ritmo voraz.
Pensar/refletir é uma faceta do nosso “ser humano”: diminui, quando alienada. Cedo aprendi que a experiência humana integrava o pensamento e a reflexão.
Desde tenra idade via os mais velhos de lápis na mão (o lápis era utensílio usual, habitualmente pousado na orelha direita): faziam-se contas à vida, perspetivando oportunidades, iniciativas, quando os negócios a isso se prestavam. Os meus pais muitas vezes nos diziam que “era preciso pensar”: nos antípodas daquilo que hodiernamente se faz.
Na escola aprendi a refletir antes de fazer as coisas e era assíduo no estudo, que mais não era do que tempo de maturação para tudo o que ouvia dos meus professores e colegas. Antes de fazermos qualquer trabalho, tínhamos tempo para pensar, não fosse “a coisa sair errada”. De menino e moço aprendi a “fazer o exame de consciência” no fim do dia. Era assim pelos anos em que abrimos à democracia em Portugal, na década de 70.
A primeira lei de eleições livres em Portugal dava lugar ao pensamento, instituindo um dia de reflexão, sem barulhos, antes de nos dirigirmos às urnas. Na idade de exercer o voto, cumpri(a)mos este dever, pois era, e é, uma alegria dar o nosso parecer para o fluir do nosso próprio país: somos gente.
Vivemos hoje encostados à realidade que os nossos antepassados fizeram, e podemos sobrevoar aquilo que tanto custou a construir, dada a excessiva mobilidade que hoje nos fascina. Parece que parar é morrer e pretendemos fugir a isso de forma consistente. Podemos construir uma ditadura, sem nos apercebermos disso, “sem nisso pensarmos”. O que vivemos hoje foi penoso para tantos. A nossa própria atualidade deveria levar-nos a pensar nisto: o tempo é rico para pensar naquilo que nos “acontece”.
***
Este mês é importante para Portugal se tornar coeso nas suas vontades de aprimorar e consolidar o que tantos contribuíram para nos legar: abril é mês de progresso, de vitória, de sucesso, de democracia, de participação, de aniversário, de liberdade, de reflexão. Para todos os que gostam de honrar o seu País na liberdade, e de fomentar uma vida digna, aventureira, consciente para todos, com as iniciativas de hoje: o que a nossa História nos lega conta com muitos heróis nos seus anais.
Manifestemos a liberdade e edifiquemo-la com decisões coerentes e consistentes; ultrapassemos alienações de outrora, em que outros pensavam por nós. Da democracia à ditadura vai um passo: não andemos para trás, não recuemos. O caminho é para a Frente, com humana responsabilidade e genuína sensatez. Olhemos em redor e resistamos a autocéfalos atores: estão muito próximos. Refletir é também ponderar o que se passa na própria casa. O futuro também depende de nós, da nossa própria maturação, da nossa pensabilidade assumida.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.