Noite da Solenidade do Corpo de Deus. D. Anacleto Oliveira faleceu há 8 meses e 16 dias. Depois de um dia repleto de celebrações, leigos e presbíteros, junta-se na Capela do Seminário Diocesano de Viana do Castelo para uma vigília de oração.
Nesta medida, “reconhecendo que é a oração que constrói e sustenta a comunidade de fé”, os fiéis rezaram pela nomeação de um novo pastor “para que, à imagem de S. Bartolomeu dos Mártires, seja capaz de dar a vida” pela Diocese a que será chamado a servir.
“Entregamos-Te, nesta hora, a nossa Diocese com todas as suas comunidades, pedindo-Te, de modo especial, pela nomeação de um novo Bispo que, segundo o Teu coração, seja capaz de nos aproximar cada vez mais de Ti. Transforma a nossa expectativa em alegria, congrega os nossos desejos e orações, e une-nos, para, assim, recebermos quem nos envias. Acende em nós a audácia e o desassombro, a ousadia e a coragem, para Te seguir, com a ajuda do Pastor que Te pedimos com fé”, referia a oração inicial.
Afinal, segundo um dos presbíteros presentes a “sede vacante é um tempo de oração, expectativa e esperança”, assumindo, por outro lado, a ausência de “uma referência, figura do pai e Pastor da Diocese, seja para o presbitério, Paróquias e comunidades”. “Rezar é a arma que temos para que o Espírito Santo ilumine aqueles que têm de tomar uma decisão e possamos ter o mais brevemente e o quanto antes, nas palavras do nosso Administrador, o Bispo que a Igreja diocesana necessita”, afirmou outro sacerdote presente, que declara que “a ideia surgiu espontaneamente”. “Muitas pessoas perguntam-me quando vem um novo Bispo e a minha resposta é que ainda não rezamos o suficiente, e que temos de rezar mais”, referiu.
De facto, a urgência da chegada de um novo Bispo faz-se sentir a vários níveis. O Pe. José Domingos, Ecónomo da Diocese, confirma isso mesmo. “A nível económico, o contexto pandémico fez com que houvesse uma diminuição drástica de receitas e, provavelmente, haverá reformas e alterações a fazer, que só o Bispo diocesano tem competência para levar a cabo”. Já o Pe. Domingos Meira, realça o papel que um novo Bispo poderá ter na preparação para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). “Como responsável diocesano da Pastoral Juvenil e de organização da JMJ 2023, sentimos uma necessidade maior pelo caminho que ainda temos a fazer e que se vai tornando mais curto”, reconhece. No entanto, a ligação entre o incentivo aos jovens e a oração pela chegada de um novo Bispo não é exclusiva do Diretor do Secretariado da Pastoral Juvenil. Eurico Martins conta o caso da sua Paróquia, onde os jovens que já fizeram a caminhada de preparação para a Confirmação estão à espera da receção do Sacramento.
Em suma, todas as partilhas parecem testemunhar um grande sentimento de orfandade, que Mons. Fernando Caldas verbaliza de modo claro: “Acredito e penso que neste momento a Diocese de Viana, porque não tem Pastor, se sente órfã, pois não tem um guia a coordenar toda a Igreja diocesana”. Na mesma linha, situa-se outro sacerdote, ao reiterar que “a Diocese não existe sem Bispo, o Pastor que orienta, escuta, fala, guia e conduz. Um pouco à imagem, em dimensões mais pequenas, do que acontece numa Paróquia. Do mesmo modo que uma Igreja, no seu meio paroquial, sem orientação de um Pároco, sente a necessidade de um líder, também uma Diocese, e o próprio clero, sente a necessidade de um Pastor. Sem essa ligação…”, deixa em aberto o presbitério, ao passo que outro dos sacerdotes presentes reafirma: “Uma Diocese não existe sem um Bispo e, portanto, o Bispo é a cabeça da Diocese. É pensarmos num corpo sem cabeça, e a Diocese está sem cabeça. O Direito Canónico prevê um governo interino da Diocese, mas é sempre algo provisório e excecional, porque não existe Diocese a funcionar plenamente sem um Bispo e, por isso, a sua urgência para guiar os cristãos”.
“Sem um Bispo, a Diocese esmorece. Um Bispo tem uma função de assunção apostólica, liga-nos à missão confiada por Jesus aos Apóstolos e liga-nos de uma forma particular à Igreja de Roma, ao sucessor de Pedro e, por isso, é este mistério de comunhão que o Bispo tem e é essencial. Sem um Bispo parece-nos que nos falta aqui alguma ligação a alguém que nos conduz e guia”, salienta outro dos fiéis presentes.
Da mesma forma, Rosa Malheiro revela a ansiedade e a expectativa na chegada de um novo Bispo. “Não sei se a demora é longa, porque é uma situação nova para todos. Claro que nos está a fazer muita falta, que é importante, e que quanto mais rápido se conseguir melhor, mas a pandemia também atrasou o processo. Está nas mãos do Senhor”, reconhece.
Efetivamente, a união entre a identidade Diocesana e a figura do Bispo é tão forte que o próprio Código de Direito Canónico define Diocese como “a porção do povo de Deus que é confiada ao Bispo para ser apascentada com a cooperação do presbitério, de tal modo que, aderindo ao seu pastor e por este congregada no Espírito Santo, mediante o Evangelho e a Eucaristia, constitua a Igreja particular, onde verdadeiramente se encontra e actua a Igreja de Cristo una, santa, católica e apostólica” (cân. 369)
Neste sentido, perguntado pelas características que julga necessárias num próximo Pastor, Mons. Fernando Caldas admite que “um Pastor para uma Diocese tão diferente na realidade geográfica e humana é difícil”, mas foca a necessidade de alguém que seja “capaz de criar comunhão entre o presbitério, comunidades e os vários sectores da pastoral”. “Deve ter um perfil humano que seja cativante, de acolhimento; alguém que nos desafie a ir mais longe, porque, por vezes, nós próprios estamos acomodados aos estilos e maneiras de fazer pastoral, mas também que construa connosco aquilo a que o Santo Padre nos tem convocado desde o início do seu Pontificado: sinodalidade. Caminharmos em conjunto. Isto é, escutar toda a Igreja. (…) Que possa, também, acolher as problemáticas e desafios, e fazer ressoar, igualmente, os sinais do Espírito Santo no meio desta comunidade. Um Bispo que consiga pôr toda a gente a caminhar em conjunto, cada um a seu ritmo diferente, mas caminharmos em Igreja, seria um bom Pastor para Viana do Castelo”, afirmou.
De forma mais sintética, Rosa Malheiro destaca as mesmas características, confessando que aguarda alguém “ativo, que saiba ouvir e, acima de tudo, que esteja ao serviço da comunidade”, algo que o Pe. José Domingo aprofunda, expressando o desejo de “um Bispo que venha com vontade de conhecer os seus diocesanos e, sobretudo, animá-los na fé. Ser também um Bispo próximo e com vontade de apontar novos horizontes, para que os cristãos possam corresponder às necessidades atuais e, sobretudo, testemunhar uma fé rejuvenescida e adaptada às necessidades e expectativas dos fiéis”.
Já passou cerca de uma hora desde o início da oração. No final, quando foi anunciado que, passada uma semana, se iria realizar outra vigília, desta vez no Arciprestado de Caminha, os presentes fortaleceram o seu pedido de oração para que, o quanto antes, chegue à Diocese de Viana um Pastor “perfumado com o cheiro das suas ovelhas, cheio de mansidão e misericórdia, diligente no encontro e na amizade, pronto e disponível para a escuta, capaz de procurar e conduzir as ovelhas dispersas, de preservar o Vosso povo na unidade, de olhar com bondade para os mais pobres”.
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