José Borlido, de 74 anos, vive na freguesia de Meadela, em Viana do Castelo, e foi técnico de eletricidade e eletrónica. Cresceu no seio de uma família cristã, realizando um percurso “natural” na catequese e sendo “sempre fiel” aos princípios cristãos. No entanto, só mais tarde é que se apercebeu da presença de Cristo na sua vida através da Eucaristia. Enquanto cristão, sente-se “muito agradecido” e “recompensado” pela sua vida pessoal e profissional. Hoje, faz parte da equipa de Liturgia da Paróquia de Meadela, pertence ao Conselho Pastoral Paroquial, é secretário do Movimento dos Cursilhos de Cristandade (MCC) e presidente das Festas de Meadela em Honra de Santa Cristina.
Notícias de Viana (NdV): Qual a primeira memória que tem da sua relação com Cristo?José Borlido (JB): Já em idade adulta, comecei a ser membro da Liga Eucarística dos homens. Aí, senti mais de perto esta vocação de Igreja e proximidade com Cristo porque a Liga Eucarística mostra-nos o amor à Eucaristia, o amor de Cristo na hóstia consagrada.
Esta caminhada fez-se sempre ao longo da minha vida, embora houvesse algumas fases em que a minha prática religiosa esteve um menos ativa, mas dou graças a Deus por este amor que foi crescendo e prolongando. Na altura em que fui militar em Angola, por exemplo, frequentava a Eucaristia na igreja de São Paulo, onde pela primeira vez vi o coro paroquial de jovens a tocar guitarra. Ou seja, mesmo com a minha vida militar não me afastei da Igreja e até cheguei a cantar publicamente na Igreja, por sugestão do Capelão.
Pouco tempo depois de ter regressado de Angola, casei e senti necessidade também de me aproximar da minha Paróquia, participando nas Eucaristias e, mais tarde, desempenhando algumas funções na Equipa de Liturgia como comentador e leitor.
Frequentei reuniões de liturgia e, paralelamente, fui convidado a frequentar o grupo de reflexão cristã, na Cúria Diocesana, que era constituído por um conjunto de pessoas que estavam em “lugares-chave” da vida laboral da cidade, desde a área da saúde até à empresarial. Aqui, tomei consciência de que temos Alguém que está acima de nós e, para mim, esse Alguém é Cristo. Temos que estar envolvidos em Igreja, mas também fora dela, vivendo à luz do Concílio Vaticano II, que aborda a missão dos leigos na Igreja e nos aponta os ambientes, onde o nosso testemunho de vida é importante e insubstituível para a sua cristianização.
(NdV): De que modo surgiram os Cursilhos de Cristandade na sua vida?(JB): Depois desta experiência de Cristo, os Cursilhos de Cristandade foram o verdadeiro impacto que tive com Cristo. Como levava (e ainda levo) uma vida paroquial bastante intensa, fui convidado a participar num Cursilho. No entanto e antes disso, fui convidado para o compasso em Meadela, em que quem é chamado são os leigos e isso tocou-me muito, desde logo, por estar a representar o Pároco nas visitas. Aí, senti mais de perto este ministério da Morte e Ressurreição de Cristo e toda aquela mística da Semana Santa. Então, este episódio da minha vida levou-me a refletir se deveria ou não dar um passo em frente no conhecimento. Portanto, o Cursilho foi a pedra de toque no meu impulso como cristão no meio da sociedade e do mundo.
Estávamos em janeiro de 1990 quando fui fazê-lo no Centro Pastoral Paulo VI e aí, sim, senti Cristo perto de mim. Nunca O tinha sentido assim… Sou do tempo em que os sacerdotes estavam de costas para nós e Cristo estava lá em cima, longe e afastado. Quase ausente, em que não dávamos por Ele. No Cursilho, senti-O. Quase que O podia apanhar e trazê-Lo comigo. São e foram emoções muito fortes que, por vezes, podem dar a ideia de um sentimentalismo passageiro, mas não foi e não é. Quem vive a experiência de um Cursilho de Cristandade e se deixa guiar no coração por Cristo, nunca mais na vida deixa de viver/sentir estes sentimentos de que Ele está connosco porque O sentimos no sacrário e tão perto. E é por isso que me atrevo a dizer que todo o cristão devia passar por esta experiência. Não para dizer que é um cursilhista, mas para viver mais intensamente o cristianismo, não como padre “dentro da Igreja”, mas fundamentalmente no mundo, na vida e nas famílias, que hoje carecem de Cristo. Já quase não se termina as catequeses, nas famílias. Todo o homem, toda a sociedade e todos os media apontam no sentido contrário e, portanto, cada vez mais é necessária esta vivência forte de Cristo que leva os nossos cristãos a serem testemunhas no meio do mundo. Ser testemunha significa mostrar que a vida não é apenas o que se vê ou que se vislumbra. Por detrás disto está a necessidade de cristianizarmos o mundo, tornando-o mais fraterno.
Hoje, o que se verifica no mundo é esta ausência de Deus. Se tudo aquilo que nós fizermos for feito à luz da Palavra do Evangelho, tem muito valor porque vem de dentro.
(NdV): Que experiência é esta do Cursilho da Cristandade?(JB): Frequentar um Cursilho é como um namoro antes do casamento. Nós não podemos amar quem não conhecemos verdadeiramente, e foi no Cursilho de Cristandade que eu conheci verdadeiramente Cristo e que eu senti um impulso para O conhecer cada vez melhor e vivenciar aquilo que Ele diz através da Palavra do Evangelho.
(NdV): Piedade, estudo, ação, são as bases do tripé da vida do cursilhista. De que modo dá corpo a estes três horizontes na sua vida?(JB): Começando pela piedade, vivo-a através da oração, que é a base da vida de um cristão. Sem oração, não há uma vida cristã autêntica. Portanto, a oração é um pilar para se ter uma vida cristã de verdadeira Piedade. A frequência dos Sacramentos é dar corpo à piedade, como a Eucaristia, sacramento fundamental da Igreja, onde tudo se renova: a morte, a crucificação, a ressurreição de Cristo e, naturalmente, na oração do terço porque amar O filho, esquecendo a Mãe, que pelo Seu sim, no lo deu; não seria uma piedade perfeita.
Já quanto ao estudo, foi sempre uma perna forte do meu viver e a minha casa é prova disso. Lá encontram livros que integram cartas, encíclicas, reflexões espirituais e a Bíblia que é a carta magna do Cristão. Além disso, frequento a Escola do MCC, onde enriquecemos o nosso conhecimento e aprendemos a estar atentos à mensagem da homilia, levando reflexões importantes para casa.
Por fim, a ação. Para realçar este valor, Santo Agostinho diz-nos que “sem obras a Piedade está liminarmente morta”. Eu vinha do cursilho com fogo, que pode às vezes estar um bocado mais apagado, mas que graças a Deus se mantém vivo na minha vida. No domingo seguinte, fui falar com o meu Pároco e acabei por perceber o verdadeiro significado de renunciar. E, a minha ação no pós-Cursilho foi fundamentalmente disponibilizar mais do meu tempo aos meus, aprendendo a geri-lo. Com o trabalho, não tinha muito tempo, mas ao final do dia conseguia algum tempo com o meu filho de seis anos, naquela altura. Li-lhes a Bíblia em banda desenhada. Ou seja, partilhei o meu conhecimento com a minha família e, mais tarde, foi a minha esposa a fazer o Cursilho e o meu filho integrou os Convívios Fraternos. E, portanto, defendo que todos podemos disponibilizar um bocado do nosso tempo à comunidade e à sociedade em geral, onde a ação/missão do leigo tem lugar privilegiado. Foi para isto que fui chamado, para com a minha vida ser testemunho de Cristo e ajudar a cristianizar os ambientes tão necessitados dos verdadeiros valores cristãos.
(NdV): Algo também importante no cursilhista é a busca de um ideal “perfeito, elevado e acessível”. Qual é o seu ideal?(JB): Eu resumiria isto numa única palavra: Cristo. O cristão tem que ter um ideal, um rumo. O meu ideal é a busca de fazer do mundo um lugar melhor, estar atento ao outro, não olhar para o lado quando eu sei que precisam de mim, e estar atento à família.
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