UMA PARÁBOLA

Li com agrado em Contos, Fábulas e Parábolas – Braga, A. O., 2004, há bem pouco tempo, uma parábola que faz pensar. Aliás, é para isso que serve este género literário: cada um dos leitores pode retirar do que se conta lições pessoais inspiradas. Uma parábola é sempre interpelante, enriquecedora, geradora de sentidos múltiplos.

Notícias de Viana
29 Jul. 2022 3 mins
UMA PARÁBOLA

Em período de descanso, é importante que cada um possa pensar por si, longe talvez do seu banal quotidiano. A vida tem aspetos que muito podem saborear-se, quando se tem condições para alguma pausa.

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Um dia, um jovem judeu, bastante abonado, foi encontrar um rabino para lhe pedir um conselho para a sua vida. O mestre, experiente e sapiente, levou-o consigo até junto de uma janela de sua habitação e murmurou-lhe em surdina uma simples pergunta: “O que vês?” O jovem apressadamente respondeu sem hesitar: “Vejo gente que passa, uma rua em movimento e um pedinte sentado à beira da estrada”. O rabino deu-lhe de novo a mão e conduziu-o à sala de estar junto de um pequeno espelho, e voltou a perguntar: “E agora, o que vês?” O jovem, pasmado com a cortesia do mestre, disse-lhe: “Agora vejo-me só a mim”.

Sentados os dois, o mestre murmurou: “São apenas dois vidros: o da janela e o do espelho. Um é limpo e transparente, o outro tem um revestimento de prata por trás”.

O jovem agradecido ficou pensativo.

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Esta parábola recorda-me uma outra de Jesus com um “certo chefe” (Lc 18,18-23) que, no diálogo franco “se entristeceu, pois era muito rico”. Lembra-me também as “imprecações” contra os ricos (Lc 6,24), que se banqueteiam na “sua consolação” e podem cegar em face da míngua dos outros. A riqueza pode depauperar atitudes. 

Pouca coisa é precisa para encobrir tudo o que se passa na vizinhança, atolados que se vive com o rotineiro dia a dia. Onde está a autêntica riqueza para uma vida?

Importa seguir um itinerário de vida limpo e transparente, sem subterfúgios, numa total disponibilidade para o que nos vai moldando, sem peias ou camuflagens montadas pessoalmente, numa lógica concreta altruísta e gratuita. Ser correto consigo é fugir dos “espelhos” que nos podem enganar e entretecer na confiança de uma rota limpa.

Impõe-se fugir a inverdades que podem campear nas praças, encobrindo a realidade e fingindo verdades momentâneas e vazias, que atraiçoam e edificam um quadro de vida vazio, no qual as relações humanas são muito podres, paupérrimas e fictícias. O mundo é o que vamos edificando à nossa volta. Edifiquemos na verdade, na limpidez e na honestidade. Edifiquemos na verdade, unidade viva da palavra com a realidade.

Edifiquemos pessoas com interioridade dócil, segura, sensata, altruísta, de forma a habitar o mundo luzidio e transparente, humanista e compassivo. Com todos os outros, colegas e parceiros.

O problema nasce quando só nos vemos a nós; que a prata não nos empobreça!

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