O Colégio do Minho, no Arciprestado de Viana do Castelo, está a celebrar 80 anos de “histórias e memórias”. Já o polo no Arciprestado de Monção, completa 8. Ainda a dar os primeiros passos na educação humana e cristã, já tem vindo a dar frutos. Com uma lista de espera “enorme”, o Colégio do Minho tem 642 alunos, 75 professores e 25 funcionários. Rege-se por valores como o respeito, a solidariedade e a amizade, que ainda se mantêm desde a sua formação, como asseguram algumas pessoas que por ali passaram e passam.
“O Colégio deu-me uma maior independência”
João Fernandes é aluno do 12º ano e frequenta o Colégio do Minho em Viana do Castelo, desde o 6º. “A escola onde andava fechou e a minha mãe decidiu meter-me aqui”, contou, admitindo que, no final, “compensou”. “No início, estava apreensivo porque não conhecia ninguém, mas correu tudo muito bem. Fiz amigos, os professores são fixes e a comida é boa”, disse, entre risos, garantindo que se adaptou “muito bem”. “O Colégio deu-me uma maior independência do que a antiga escola”, salientou, exemplificando: “Não há tanto controlo. O horário é mais flexível e permite uma melhor gestão do tempo. Dá para estudar e descansar.”
O jovem confidenciou ainda que “nunca” se sentiu discriminado por frequentar um Colégio católico. “Tenho amigos no ensino público. Quando éramos pequenos, gozavam comigo, mas agora isso não acontece, porque somos mais crescidos. Há mais compreensão”, afirmou.
“Os professores são bons”
Também Marta Barbosa e Enzo Santos, de 17 anos, são alunos do 12º ano no Colégio do Minho, em Viana.
Há dez anos a frequentar o Colégio, Marta confidenciou que o início foi “mais complicado”. “Houve momentos bons e maus, mas as coisas foram melhorando com o passar dos anos”, contou, assegurando que, para além de levar “grandes amizades para a vida”, leva uma “boa educação”. “Os professores são bons e sempre procuraram ajudar-nos”, salientou, adiantando que estudar Psicologia.
Ao contrário de João, Marta sentiu “alguma” discriminação por frequentar um Colégio católico. “Muitos pensam que somos mimados e ricos e, por isso, uns privilegiados. E, isso não é verdade”, lamentou.
Enzo também partilha da mesma opinião. “Não concordo com o que dizem, porque trabalhamos muito para os resultados que temos. O que existe é uma maior rede de apoio em relação ao ensino público”, defendeu.
Há 12 anos a frequentar o Colégio, o jovem descreve-se, entre risos, como um aluno “diferente” dos outros “porque estava sempre no gabinete do diretor a reclamar”.
Já sobre a importância de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), Enzo reiterou que é uma disciplina “abrangente” e não exclusivamente católica. “Há igualmente algumas falhas e, sobretudo, devido aos alunos que acabam por não tirar um bom proveito que se poderia tirar”, disse. “É uma disciplina boa de se ter, mas os conteúdos poderiam ser lecionados e explorados de uma outra forma. Não mais uma ida à catequese. Um olhar mais virado para a atualidade”, acrescentou Marta.
“Gosto muito do que faço”
Rosa Menezes, ou como é conhecida por todos, D. Rosa, é cozinheira há 31 anos no Colégio do Minho. Trabalhou 12 anos no Carmo de Viana e passou por um café e um restaurante. No entanto, os horários não lhe agradavam “porque não tinha os fins-de-semana para namorar” e, quando soube que havia uma vaga para cozinheira no Colégio, encontrou-se com o diretor, Pe. Miguel Moura, e aceitou o emprego. “Faço um balanço positivo porque gosto muito do que faço”, começou por dizer, contando, entre risos, que “já passou muita gente por aqui, desde médicos e engenheiros”.
Com mais de 30 anos de casa, D. Rosa acompanhou o crescimento do Colégio e a “maior e melhor mudança” foi nas instalações. “O Colégio cresceu muito, principalmente, nas instalações. A cozinha era ali ao fundo e cozinhávamos num fogão a lenha”, recordou, acrescentando que só em 1994 é que fizeram a atual cozinha.
A cozinheira tem uma ajudante e sobre o Colégio só tem “a dizer bem”. “A minha opinião sobre o Colégio é boa porque se fosse má, não estava aqui. Quando não me agrada, vou embora”, assegurou.
“O ensino é muito bom”
Vitor tem 13 anos e é aluno do Colégio do Minho, em Monção. “Não me recordo do primeiro dia, mas acredito que tenha sido um bocado difícil porque era tudo novo”, contou, assegurando que “correu tudo muito bem”.
Há oito anos em Monção, o jovem afirma que o que tem de “especial” o Colégio do Minho são as pessoas. “O ensino é muito bom. Os professores são muito bons”, frisou, acrescentando que fez “novos amigos”.
“Somos uma família para as crianças”
Raquel Gomes tem 42 anos e é, há oito anos, coordenadora do polo do Colégio do Minho em Monção.
A também professora do 1º Ciclo afirmou que a abertura deste polo foi um projeto “desafiante”, que está a dar frutos. “Tem sido gratificante ver o Colégio a crescer. A adesão dos monçanenses é enorme”, assegurou, enaltecendo as pessoas e os seus valores. “Ao longo destes anos, demos a conhecer o nosso trabalho e, hoje, há uma grande aceitação e, por isso, somos muito procurados e solicitados”, contou, acrescentando: “Somos uma família para as crianças.”
“Muitas famílias têm feito um crescimento ao nível cristão”
O Pe. Joel Rodrigues é professor de EMRC no polo do Colégio do Minho, em Monção, desde 2015. O “sim” foi dado a D. Anacleto Oliveira e ao diretor Ricardo Sousa para prestar um serviço “não remunerado”. “Disse ‘sim’ porque não sei dizer ‘não’”, disse, entre risos, salientando: “Se Deus me chama, procuro dizer ‘sim’. Faço a minha meditação e vejo até onde posso ir, até porque sou Pároco, pertenço à Vigararia do Clero, e sou responsável pela Pastoral Familiar no Arciprestado.”
Quando o Colégio começou a sua atividade em Monção, tinha apenas dez crianças. Hoje, são 160. “Ninguém dava nada. Pensavam que um Colégio em Monção, onde não há muitas crianças, não iria resultar porque os números apontam para uma diminuição na população, mas felizmente está a correr tudo muito bem”, assegurou, caracterizando a equipa formadora como “muito boa”, assim como a coordenação. “A diretora é uma pessoa muito respeitada e foi através dela que se conseguiu chegar onde estamos e, claro, também com muita oração”, acrescentou.
Com o aumento da procura das famílias em querer colocar os filhos no Colégio, a equipa docente pediu a colaboração do Pe. Arcélio Sousa. “Cerca de 80% das famílias que nos procuram são aquelas que não praticam a fé cristã. Não sabem o que é a Missa”, referiu, contando que, numa das celebrações com “os meninos do 1º ano”, foi questionado sobre o que era um padre. “Muitas famílias têm feito um crescimento ao nível cristão, para além do aspeto humano. Não iam à Missa e, hoje, já vão”, enalteceu, confidenciando que incentivam as famílias para que tenham uma “comunidade de referência”. “É na comunidade que cresce a fé”, afirmou, frisando que o” Colégio do Minho é uma presença da Igreja”. “O Colégio é uma oferta da Igreja para a Nova Evangelização de que tanto o Papa Francisco fala”, reiterou, considerando que as famílias procuram o Colégio porque “as crianças e jovens têm uma educação muito organizada”. “Isto é motivo de orgulho”, garantiu, adiantando: “Há pessoas em lista de espera. Aliás, este ano, entrou um menino para o 8º ano que já estava há dois/três anos à espera para entrar.”
Como Colégio católico, a disciplina de EMRC é obrigatória. “Uma mãe, que já tinha recebido as notas da filha, mandou um e-mail à direção a questionar o três que a filha teve a EMRC. Perguntei à diretora se a mãe tinha apenas questionado a minha nota e ela disse-me que sim. Com isto, fui ver as notas da menina e ela tinha três a todas as disciplinas e, por isso, entrei em contacto com a mãe para perceber a causa. Ela respondeu-me que era importante para ela que a filha tivesse bons comportamentos e o facto de ter tido um três a EMRC chamou-lhe a atenção”, contou.
“O Colégio sempre se conseguiu adaptar”
O Pe. Miguel Moura foi diretor de 1976 até 2009 e assegurou que se fizeram “coisas maravilhosas”. “O Colégio que está lá, deve-se muito às raízes. Sem elas, não era possível fazer-se e continuar”, afirmou, falando das “grandes” mudanças que vão desde as obras aos ministérios. “O Colégio sempre se conseguiu adaptar. Esteve sempre em cima dos acontecimentos, superando tudo isso”, frisou.
Com 33 anos de serviço ao Colégio, o ex-diretor enalteceu a importância que o Colégio teve no Alto Minho. “As pessoas tinham-no como recurso quando queriam mandar os filhos para estudar e, quando eram de longe, colocavam-nos como alunos internos”, contou, salientando que foi “um contributo fundamental para a cultura” daquela gente. “Houve uma altura que, entre os anos 70 e 80, os grandes quadros da função pública e outras instituições tinham passado todos pelo Colégio do Minho”, destacou, assegurando que o Colégio foi “muito importante” e era “reconhecido pelas entidades públicas”.
Entre risos, o sacerdote referiu ainda que veio para Viana do Castelo no mandato do D. Francisco Maria da Silva, Arcebispo de Braga, por “pressão” do D. José Pedreira, que era diretor e estava sozinho no Colégio. “Ainda não existia a Diocese de Viana do Castelo”, começou por explicar, acrescentando que, nessa altura, estava a iniciar as atividades como sacerdote. “Tinha-me ordenado em 1974 e, dois anos depois, fui para Viana. Fazia parte de grupos de estudantes que orientavam algumas coisas, desde o Centro de Preparação para o Matrimónio e a Pastoral Familiar, de modo a preparar a instalação da Diocese”, disse.
Relativamente ao convite para ser diretor, também não teve voto na matéria. “Nem sequer tive férias. Acabei o curso de Seminário em julho e, em agosto, tive de entrar. O meu superior saiu do Colégio para o Magistério Primário e o Bispo disse-me para ser eu a tomar conta”, recordou entre risos.
Já “fora” do Colégio, o Pe. Miguel vê com “muito otimismo” o trabalho desenvolvido. “O Dr. Ricardo tem feito um trabalho extraordinário. O Colégio mantém-se com grande pujança e estes 80 anos mostram essa vitalidade em todos os aspetos”, afirmou, desejando que se mantenha por “muitos e longos anos”.
“O Colégio é uma referência”
António Torrinhas foi aluno e prefeito durante seis anos no Colégio. Guarda “muitas boas memórias” de convívio “saudável” com dirigentes, professores e alunos. “O Colégio é uma referência de bem educar, servir, ensinar e formar”, afirmou, acrescentando: “É uma referência na educação e humanização.”
Natural de Esposende, chegou a Viana do Castelo com dez anos para frequentar o Colégio como aluno interno. “Estive nove anos no Colégio. Fiz internato nos cinco anos e depois, enquanto estudava, ainda prestava outros serviços”, referiu, contando que, em 1972, foi cumprir o serviço militar e, em 1973, foi para a guerra em Angola.
Já em 1975, regressou ao Colégio que o recebeu de “braços abertos”. “Como aluno, habituei-me bem às normas. Aceitei-as e cumpri-as”, garantiu, salientando o espírito de “normalidade, cooperação e bem-estar”. “É evidente que havia salões de estudo, timings para tomar banho, lavar e passar a roupa, mas foi muito benéfico porque nos formou e preparou para sermos homens independentes e livres na expressão”, frisou, enaltecendo ainda a espontaneidade. “O Colégio dava-nos liberdade para expressarmos aquilo que sentíamos”, disse.
António Torrinhas felicitou ainda o Colégio pela evolução “saudável” que tem vindo a ter ao longo dos anos, “sempre com os olhos postos no futuro”.
“O Colégio do Minho foi a minha segunda casa”
Maria Augusta tem 71 anos e foi professora de Inglês no Colégio do Minho durante 36 anos. É do Porto, mas a vida levou-a para Viana do Castelo aos 30 anos, onde começou por dar aulas apenas a três turmas. O horário era “reduzido” porque “a disciplina Inglês não tinha tanta importância como agora” e, por isso, também lecionou numa escola em Caminha. Mais tarde, dedicou-se exclusivamente ao Colégio.
O seu percurso pelo Colégio acompanhou a direção do Pe. Fonseca e do Pe. Miguel Moura. “Nessa altura, havia muito trabalho. Os professores faziam tudo”, começou por explicar, contando que montavam e desmontavam as salas de aula. “Ajudava ainda na montagem de placards na entrada do Colégio, organizava festas, ajudava na cozinha e, se fosse preciso, também costurava”, acrescentou, assegurando que o ambiente era “fantástico”. “Gostava muito de ser professora. Gostava de ensinar os alunos e, por isso, fui ficando. Ou seja, a minha vida foi passada ali. Aliás, eu reformei-me lá. Faço parte da mobília e, por isso, tinha muitas histórias para contar, mas não sairíamos daqui”, disse, entre risos, frisando: “O Colégio do Minho foi a minha segunda casa.”
A professora admitiu ainda que as coisas mudaram “muito” desde o seu tempo, mas há outras coisas que se mantêm, como as festas de Natal e a participação na Missa. “Havia meninos que não eram batizados e estavam lá bem, apesar de o Colégio pertencer à Diocese. “Ninguém se importava. Os miúdos gostavam porque não eram pressionados”, assegurou, descrevendo-os como “educados e amorosos”. “Os meninos aprendiam regras. Havia rigor, mas as asneiras também faziam parte e, por isso, procurávamos sempre estar atentos”, contou, acrescentando que, fora da porta, havia igualmente amizade. “Éramos amigos deles e dedicávamos tempo aos problemas deles. Na altura, não havia diretores de turma, mas nós fazíamos esse trabalho porque gostávamos de os ajudar”, salientou, referindo que ainda hoje mantém contacto com alguns dos seus alunos. “Quando terminavam o 9º ano, muitos deles iam para o Liceu e, muitas vezes, dirigiam-se a eles como os betinhos do Colégio. Não eram betinhos nenhuns. Simplesmente, os miúdos eram bem-educados”, acrescentou, continuando: “Os professores acabavam por chegar à conclusão de que os miúdos eram bem educados. Eram gentis. Eu era muito, muito firme nisso. Os miúdos não são como agora. Eles eram mais maduros e, por isso, tínhamos de estar ali para ajudar.”
O Colégio do Minho cresceu igualmente nas instalações e, para Maria Augusta, “o progresso é muito importante”. “Hoje era impossível que o Colégio se mantivesse em atividade se não houvesse as obras”, defendeu, recordando uma história com um encarregado de educação. “Estávamos na sala de informática e existiam fissuras nas paredes. Houve um pai que implicou e disse-lhe que não era importante, dando exemplo dos colégios ingleses que estavam igualmente velhos. Os pais estavam mais preocupados com a educação e a disciplina dos filhos do que propriamente com as instalações. São importantes sim, mas não são tudo”, contou, reiterando que “a disciplina fortalece a personalidade e não a repreensão”.
Por fim, a professora recordou com “muita saudade” o espírito de família e de solidariedade que os alunos viviam no Colégio do Minho. “Eles eram fantásticos. Não digo isto por ter sido professora lá. Eu vi e acompanhei-os. Era realmente importante que eles se sentissem bem, com disciplina. Eram castigados, mas com justiça”, terminou.
“Estive presente no lançamento da primeira pedra”
António Veiga tem 76 anos e foi aluno do Colégio, assim como dois irmãos, os seus três filhos e, agora, a sua neta. “A minha família podia ter uma percentagem de 100% no Colégio”, disse, entre risos, contando que entrou para o Colégio por opção do pai, por ser “muito reguila”. “Fiz o exame para a 4ª classe para o Liceu. Consegui e entrei, mas chumbei e, por isso, o meu pai decidiu colocar-me no Colégio do Minho. Andava a estudar pouco”, contou, referindo que D. José Pedreira foi seu diretor e professor. “Tenho ótimas recordações. Foi a melhor coisa que me ensinou: a ser menos reguila”, salientou, entre risos.
Entre 1966-1967 deixou o Colégio para ir para a tropa e, mais tarde, decidiu colocar os seus três filhos no Colégio. “Antes de mais, tinha lá andado e também conhecia o exterior e, por isso, optámos pelo Colégio”, contou, acrescentando que “o Colégio cresceu muito”. “Ainda não tive a oportunidade de conhecer as instalações do Seminário. Não conheço o interior, mas estive presente no lançamento da primeira pedra. Aquilo era tudo monte”, disse.
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