No passado sábado, o ocidente parece ter sido surpreendido por uma clara escalada do conflito israelo-palestiniano culminado nos ataques perpetuados pelo Hamas sobre cidadãos israelitas. Este conflito remonta a tempos bíblicos, mas agravou-se a partir de 1948 com a criação do estado de Israel e com a definição de novas fronteiras e territórios.
Palestinos e Israelitas não interpretam o espaço geográfico onde vivem da mesma forma, o que dá origem a duas realidades que por serem extremamente contrárias se alimentam e originam radicalismos. Muito deste conflito está fortemente relacionado com Jerusalém. No lado judaico, o que restou do segundo templo, o Muro das Lamentações, é considerado um espaço sagrado, sendo fulcral o seu controlo. Por outro lado, os palestinos (93% dos quais muçulmanos) entendem que o Domo da Rocha onde foi contruída a mesquita de Al-Aqsa, e que ocupa uma parte do Muro das Lamentações, é sagrada, sendo a 3ª mesquita mais importante para o islamismo.
Jerusalém tem mais de 7 mil anos. Os primeiros povos a habitá-la foram provavelmente os cananeus. Ao longo dos séculos, foi dominada por romanos, bizantinos, muçulmanos, cruzados e otomanos. Por volta de 1000 a.c, o rei David estabeleceu Jerusalém como capital do Reino de Israel, expandindo depois o seu domínio por grande parte da Síria e Cisjordânia. Salomão, seu filho, contruiu o 1º Templo Sagrado, e a cidade tornou-se assim o centro do pensamento e religião judaica. Os judeus viviam no reino de Israel, dominado pelo império romano a partir de 37 a.c. Em 70 d.c houve uma rebelião contra Roma por parte dos judeus, sendo estes derrotados e forçados a se exilar e abandonar a sua terra. O então imperador Adriano determinou assim a destruição da identidade de Israel. No século IV, o imperador Constantino mandou contruir a Igreja do Santo Sepulcro no local onde Jesus teria sido crucificado e sepultado. No seculo VII os muçulmanos tomam a cidade, e sob as ruínas do templo contruem o domo da rocha.
Durante o período de domínio árabe, todos foram forçados a se converter ao islamismo, e como relatado por vários peregrinos, esta zona estava praticamente abandonada. No século XX dá-se uma movimentação dos países islâmicos da região para a criação de um denominado estado Palestino, devido a migração em massa de judeus que fugiam da perseguição na Europa e Ásia. Nesta altura é criado o movimento sionista, fundamentado no livro de Theodor Herzl-Judenstaat, que tinha como objetivo o retorno de todos os judeus à sua terra, bem como a criação do seu próprio estado. Esta região, que pertencia ao império otomano, passa a ser controlada por França e Inglaterra após a vitória dos aliados na 1º Guerra Mundial, estabelecendo-se um acordo onde a Síria seria controlada pelos franceses e a Palestina pelos britânicos.
Após a 2º Guerra Mundial (1939-1945) é fundado, em 1948, o estado de Israel com uma divisão territorial aprovado por judeus, mas não pelos árabes em Assembleia Geral da ONU. Países Árabes tentariam, a partir daí, invadir e derrotar Israel tanto em 1948-1949 como na guerra Yom Kippur(1963).
Em ambas as ocasiões a vitória sorriu sempre aos israelitas e a Palestina foi consequentemente perdendo cada vez mais território culminando nas atuais fronteiras, claramente desfavoráveis em relação as definidas pela ONU em 1947. O ataque e assassinato de atletas israelitas debaixo dos holofotes mundiais durante os Jogos Olímpicos de Munique (1972), por parte de radicais palestinos, além de uma tragédia, foi extremamente prejudicial para a causa palestiniana.
Ao longo do tempo, Israel desenvolveu-se e atingiu dimensão de potência não só militar, bem como em ramos de tecnologia nas mais variadas áreas, evoluindo num “sentido” ocidental com uma democracia consolidada, bem como o reconhecimento dos direitos das mulheres e LGBT, enquanto que a zona afeta à Palestina tomou um caminho de desenvolvimento demasiado moroso e ténue, muito pelo embargo económico de que é alvo, aumentando a revolta nas mais variadas camadas da população, mesmo entre os que outrora defenderam soluções pacíficas como a “Solução dos Dois Estados”, o que culminou na entrega do poder a grupos radicais.
Ao contrário do que aconteceu nos anos 90, onde se vislumbrava um desfecho para o conflito partindo da “Solução Dos Dois Estados”, onde cada lado reconhece a existência do outro, bem como a sua integralidade, hoje cada um destes países é governado e controlado por extremistas e radicais que nada mais são do que uma consequência da demora e violência anteriores. Benjamin Netanyahu apoiado por judeus ultraortodoxos de extrema direita, e a Palestina controlada, em grande parte das suas instituições governamentais, por radicais como o Hamas, que em nada ajudam a causa palestiniana, que é por mais motivos justa, devido à clara diferença territorial face à definida pela ONU no século passado.
O Hamas não é a Palestina.
Israel não é Netanyahu e seus aliados.
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