Gir Gir é um projeto inovador e sustentável que surgiu em Viana do Castelo pelas mãos de Ana Rita Pires, André Teoman, Ângela Costa Leal e Filipe Meira. Uma união de diversos talentos com um propósito: “transformar desperdícios industriais em objetos decorativos e sustentáveis”.
André Teoman de 34 anos, é designer e explica que o coletivo trabalha em parceria com indústrias locais, dando um novo propósito aos resíduos que, de outra forma, acabariam em aterros. “O maior objetivo do coletivo é alcançar um impacto positivo e sustentável, tanto do ponto de vista ecológico, quanto económico”, afirmou, especificando: “Procuramos unir estas duas dimensões frequentemente vistas como opostas, repensando a utilização de materiais em fim de vida. Desafiamos a conceção sobre o que é lixo e o que é luxo, mantendo um compromisso inabalável com o uso de matérias-primas, sejam elas processadas ou não, apesar dos desafios que isso possa apresentar em termos de custos”.
Embora o coletivo não tenha sido pioneiro nesta missão, o designer acredita que “é uma causa que merece ser continuamente promovida e persistida, não apenas para educar a indústria, mas também o público-alvo”.
Inovação e sustentabilidade são as palavras-chave deste projeto. “Como entusiastas da inovação, temos o objetivo de educar tanto as indústrias quanto os consumidores. Esta visão estende-se além-fronteiras, capacitando um movimento global em direção a um equilíbrio sustentável entre os aspetos económicos e ambientais”, reitera, salientando que “a inovação desempenha um papel crucial, ao encontrar maneiras criativas de otimizar recursos, reduzir resíduos e minimizar o impacto ambiental, tornando-se um componente essencial para a promoção da sustentabilidade”. “A inovação reside mais na forma como abordamos os ‘desafios’ da indústria, do que apenas na tecnologia. Trabalhando em parceria com essa indústria, tiramos proveito da sua tecnologia e esforçamo-nos para criar soluções sustentáveis e viáveis dentro do contexto industrial”, acrescentou.
Segundo André Teoman, a essência das criações reside na beleza da reutilização, que se alinha “perfeitamente” com as tendências do mercado, tornando-as “desejáveis e procuradas” não só pelo seu aspeto, como também pelo significado do que representam. “Cada objeto nasce da reutilização de materiais que já cumpriram o seu ciclo de vida, resgatando-os de um destino certo no fluxo de resíduos”, conta, frisando que as suas criações “celebram a beleza da reutilização, combinando estética com funcionalidade”.
Para além da sustentabilidade ecológica e económica, Gir Gir demonstra um compromisso em incorporar materiais de luxo em objetos do quotidiano, através da utilização do excedente de uma fábrica que produz chapas de mármore em favo de mel para projetos de luxo, que normalmente acaba em aterros. Exemplo disso é a sua primeira coleção intitulada “Honey”. “Apresenta um visual industrial, destacando, de forma harmoniosa, o aspeto ‘técnico’ do favo de mel de metal, que geralmente fica escondido. O contraste entre o luxuoso mármore e o metal texturizado cria uma dicotomia visual e conceptual, em que o resultado é uma coleção verdadeiramente única”, assegura, enaltecendo a exclusividade de cada peça da coleção. “Como a coleção é criada a partir de desperdícios, não conseguimos garantir que o mármore disponível de hoje seja o mesmo de amanhã, o que torna cada peça especial”, afirma.
A coleção “Honey”, que tem apenas três meses, é fruto de uma parceria com a Darkstone, uma fábrica localizada em Neiva que produz chapas de mármore em favo de mel, uma técnica que combina uma fina placa de mármore com uma textura metálica que parece um favo de mel. “Em setembro, estivemos presentes na Paris Design Week e recebemos um feedback muito positivo, o que proporcionou um ótimo impulso inicial para a marca. Além disso, a atenção da imprensa internacional e os convites para outros eventos, são indicativos de que estamos no caminho certo”, confidenciou, revelando que o coletivo está a trabalhar numa outra coleção que será lançada em 2024.
André Teoman assegura, ainda, que todas as peças são projetadas e produzidas de forma a serem enviadas para qualquer parte do mundo. “Sabemos que são valores que, para o comum cidadão em Portugal, com um ordenado mínimo, são complicados de priorizar quando chega o momento de tomar a decisão de adquirir uma peça destas, por muito que se identifique com ela”, reconheceu. No entanto, a designer garante que a abordagem pode variar de coleção para coleção, dependendo das parcerias e indústrias com as quais trabalham. “A coleção ‘Honey’, por exemplo, pode estar mais voltada para o mercado internacional do que para o nacional, mas oportunidades podem surgir para criar objetos com um foco específico em Portugal”, referiu, destacando: “O coletivo tem orgulho em representar o ‘Made in Portugal’ no cenário internacional e servir como embaixador, não apenas da indústria com a qual a coleção é feita, mas também do talento e excelência da produção nacional, levando-o para fora do país”.
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