Edward W. Said alertou em 1978, no livro Orientalismo, para o risco de um retrato condescendente, clichê e maniqueísta, da nossa representação do oriente. Ao jornalismo não é permitido incorrer em vícios similares.
Rimsha Riaz é natural do Paquistão e estuda no IPVC. Não é a única estrangeira a estudar na instituição de ensino superior de Viana do Castelo, como tão pouco é seguro ter a certeza que a sua história é a mais inspiradora – se isso alguma vez for o mais relevante para o olhar jornalístico – mas tem estado no centro do radar da imprensa local.
Fala da terra natural como o seu “país amado”, no qual era “livre” e onde, afirma, “as mulheres têm liberdade” e podem “escolher se preferem estudar ou trabalhar”, muito embora, reconheça que “em certos elementos há limitações”.
Rimsha assume que não se interessa muito por política, daí não conseguir comentar com rigor a atual situação no médio oriente, como o conflito entre Israel e o Hãmas ou a presença devastadora para os direitos das mulheres dos talibãs no Afeganistão, daí assumir que o seu modelo não é nenhuma figura proeminente, como Benazir Bhutto ou Malala Yousafzai, também paquistanesa, Nobel da Paz em 2014, pela “luta contra a repressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”, dois anos após ser baleada pela defesa da mesma causa. A estudante afirma perentoriamente: “o meu modelo é a minha mãe”. “Ela disse-me ‘nós não somos ricos, por isso tu tens que te educar, porque se tu fores instruída vais poder ter um trabalho e vais poder ter um nome’”, sublinhando: “A minha mãe foi a minha melhor professora”.
Neste percurso teve a ajuda fundamental do irmão que, como conta com as suas próprias palavras, “deixo os estudos por mim”. Antes de Portugal, estudou na Suécia por oito meses. Mas os preços elevados fizeram com que equaciona-se desistir, chegando mesmo a parar os estudos. “Tu não me podes sustentar. A taxa é tão alta e tens outras responsabilidades com a mãe, o pai e outras irmãs”, conta que disse ao irmão. Mas ele insistiu, voltou a apoia-la e ela optou por Viana do Castelo, uma “uma cidade segura, onde se pode andar à vontade” e onde o irmão residia.
Acerca do IPVC fala de uma instituição indicada para estudantes internacionais destacando a generosidade dos professores. “Estão sempre a perguntar-me, uma e outra vez, se não percebi alguma coisa”. Questionada sobre o que tem aprendido em Portugal responde que aprende “como se tornar independente”, mas quando a pergunta é o que pode a sua experiência ensinar-nos demora um pouco mais na resposta. “Eu acho que quando tu percebes que há dificuldades, que há lutas, que há competições e tarefas complicadas e ninguém vem até ti, tu tens que dizer ‘sim, eu posso fazer’, mesmo que não saibas por onde começar, porque somos sempre iniciadores”.
Por isso, afirma que “não podemos esperar pela porta aberta. Temos que a construir”, mesmo que o tema seja perceber que oportunidade há no país natal para si. E ainda assim Rimsha tem um projeto: “Quero construir a minha empresa, oferecer serviços de ciberseguraça, mas quero oferecer também formação e ajudar outras jovens a estudar”.
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