Viana do Castelo marchou contra a ideologia de género

Cerca de duas dezenas de pessoas participaram na marcha silenciosa pelas ruas de Viana do Castelo, que ocorreu em simultâneo em mais quatro cidades do país. O objetivo era exigir “a libertação da escola pública do jugo da doutrina de género”.

Notícias de Viana
4 Mar. 2024 6 mins
Viana do Castelo marchou contra a ideologia de género

A marcha deslocou-se até ao Parque da Marina como forma de “protesto contra a aprovação da lei de autodeterminação de género na escola pública, no final do ano passado, e vetada pelo Presidente da República”.

De acordo com a organização, a lei, “além de eliminar a segregação por sexo dos espaços de intimidade, como casas de banho e balneários, a favor do uso conforme o género sentido pelas crianças e jovens, promove transições sociais no seio da escola, com o desconhecimento ou à revelia da família, e com a consequente sinalização das famílias que não validam o género do menor às autoridades de proteção da criança”. 

Patrícia Pereira, membro do grupo cívico Assumir a Educação do Meu Filho, de Ponte de Lima, não poupa nos adjetivos. Fala em “comodismo”, “egoísmo” e “desrresponsabilidade” quando caracteriza o papel de muitos pais e das escolas. “O problema das casas de banho nem é o pior, porque a lei contemplava também a sinalização das famílias junto da Comissão de Proteção de Menores”, especificou, lamentando as outras questões “graves” que “não estavam a ser esmiuçadas”.

Para Patrícia, “isto é claro”. “A escola está lá para ter um papel neutro e, quando quer educar para o respeito, sim senhora, mas, então, que não faça lavagem ao cérebro das crianças, como tem feito nos últimos tempos com a contagem de histórias com drag-queens, enfermeiros a contar histórias que os meninos podem ser meninas e meninas podem ser meninos, sexo explícito e mostrar vídeos pornográficos nas salas de aula”, enumerou, defendendo que “os pais têm o direito de saber tudo aquilo que se passa dentro da escola”. “Esta coisa de barrarem os pais ao portão da escola, não é lei em lado nenhum. Isto é uma violação aos direitos dos pais e ao desenvolvimento saudável das crianças”, considerou, reiterando a neutralidade da escola.

Entre os participantes estava Paulo Ruivo. É de Famalicão, mas passou o fim-de-semana, em Chafé, e aproveitou para “defender a causa”. “É uma causa que, independentemente de onde vivemos, vale a pena abraçar, porque não podemos tolerar que as privacidades e as prioridades da família sejam violentadas”, afirmou.

Também Andreia Castro, do Porto, juntou-se à marcha silenciosa pelos direitos dos seus filhos. “Estão a sexualizar as crianças nas escolas, e isso não condiz com o bom desenvolvimento. A escola ensina. Os pais educam, e é esta educação que querem retirar aos pais. Não posso permitir e, por isso, temos de nos fazer ouvir”, disse.

De Viana do Castelo, sem querer ser identificado, um outro participante disse ser contra as aulas de cidadania. “A escola não é o lugar para ensinar ideologias e doutrinar os miúdos. A educação compete aos pais”, defendeu, frisando: “A escola tem o papel na formação para geografia, matemática, português e etc.. Isto das ideologias, mais concretamente do transgénero, não é assim. Alguém que nasça, é homem ou mulher. Isso está muito definido pela biologia e, portanto, acho tudo isto ridículo.”

“A relação que existe entre os pais e a escola tem de ser muito estreita”

Paralelamente, o Notícias de Viana entrevistou o diretor do Colégio do Minho, Ricardo Sousa, para perceber a realidade vivida naquele estabelecimento de ensino. “Não partilho da opinião de que a escola dá instrução e que a educação vem da nossa família. Na nossa tradição é muito isso, mas não é assim. Hoje, a escola ensina e educa, e a família educa e ensina. Estas duas coisas têm de estar muito interligadas. Aliás, a relação que existe entre os pais e a escola tem de ser muito estreita, para que, depois, as crianças possam crescer a todos os níveis”, defendeu, considerando que a escola não se esgota nos programas das disciplinas. “A questão dos valores e da educação, no nosso caso, recai na Educação Moral e Religiosa Católica, na Educação para a Cidadania, e num conjunto de coisas que fazemos para colaborar com os pais, ajudando as crianças e jovens a crescer”, salientou, acrescentando: “Hoje, um professor é muito importante na vida de uma criança a nível de formação de valores, e ainda lhe ensina português e matemática.”

Para o diretor, “é importante perceber” o contexto de cada criança ou jovem. “Hoje, temos outros contextos diferentes porque, hoje, as famílias já não são tradicionais. Aliás, o que são famílias tradicionais no séc. XXI? Aqui no Colégio, mesmo sendo católico, muitas famílias não são as tradicionais”, referiu, sublinhando que, no Colégio do Minho, “os pais sabem o que se passa na escola”. “A escola tem a necessidade que os pais venham cá para perceberem o que está a acontecer. Assim, é mais fácil trabalharmos em conjunto”, reforçou, reconhecendo que “há professores que ainda veem a escola muito confinada à sala de aula e ao espaço de recreio”. “Isso existe, mas os valores que se passam e as atividades que se fazem na escola, vão muito além do nosso tempo e ainda bem, porque, se não, só vamos saber português, matemática e etc.”, considerou.

Já sobre a lei, Ricardo Sousa considera ser “importante” trabalhar a igualdade de género “a todos os níveis”, porque “é um pilar fundamental para a sociedade”. “Temos de interpretar a lei. Temos de perceber que cada escola tem o seu projeto educativo e, a partir daí, tem de ensinar os afetos, a sexualidade, e adaptar àquele contexto muito específico, sem entrar com muitas extravagâncias, e muito naturalmente. E perceber que, desde a primária até ao ensino superior, tem de haver um plano de crescimento das crianças e dos jovens para que sejam, acima de tudo, instruídos”, argumentou, reconhecendo que “não faz sentido impor”. “A identidade de género é um outro campo e, neste momento, nem se trabalha, nem está imposto. Portanto, ainda temos de trabalhar na igualdade de género”, acrescentou, clarificando: “Embora haja uma imposição nos planos curriculares pelo Ministério da Educação, cada escola, perante o seu projeto educativo, define o que tem de fazer e escolhe um grupo de pessoas que faça esse trabalho, que são pessoas que devem estar formadas e informadas acerca disso.”

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