Com 90% do comércio mundial a passar pelo mar e a economia azul a expandir-se para além da pesca e transporte marítimo, Viana do Castelo procura consolidar-se como polo de inovação e crescimento sustentável ligado ao mar. Este foi o tema central da conferência “Cidades Portuárias e a Economia Azul”, realizada no Teatro Municipal Sá de Miranda.
A conferência, organizada pela Câmara Municipal e pelo Centro de Excelência Jean Monnet – Europa Azul Sustentável (OCEANID +) da Universidade Nova de Lisboa, reuniu especialistas e representantes de entidades públicas e privadas para discutir o papel das cidades portuárias na economia azul.
Durante a mesa redonda dedicada às cidades portuárias, especialistas enfatizaram o caráter multifacetado da economia azul. João Neves, presidente da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL), apontou que “hoje em dia, a economia azul já não é só a pesca ou o transporte marítimo; é também biotecnologia marinha, tecnologias em torno do mar e energia das ondas”, acrescentando que os portos se tornaram instrumentos de inovação e desenvolvimento económico.
Um exemplo concreto é o investimento no estaleiro WestSEA, que vai transformar a doca atual em uma nova doca seca de 220 metros de comprimento e 45 metros de largura. O investimento de mais de 24 milhões de euros permitirá receber navios maiores, ampliar a capacidade de reparação naval e abrir novos mercados internacionais.
Do ponto de vista energético, Ricardo Simões, diretor da Unidade de Inovação da CCDR Norte, lembrou que a região Norte representa 50% da produção nacional de energias renováveis, colocando Viana do Castelo na linha da frente da transição energética. “Viana do Castelo tem tido um crescimento económico muito positivo; em 2024 registou o maior crescimento do Norte. Tem mesmo a meta de se tornar neutra em carbono, o que poderá acontecer na próxima década”, acrescentou.
O diretor do SUSTEMARE, Jorge Delgado, lembrou que o mar representa uma “oportunidade de transição energética ligada às offshore”, reforçando a importância de uma abordagem integrada entre ciência, tecnologia e tecido empresarial para o desenvolvimento da economia azul em Viana do Castelo.
O turismo náutico também foi abordado, com José Sampaio, CBO do Feel Viana Sport Hotel, a sublinhar que o desafio atual não é colocar Viana do Castelo no mapa, mas “gerir o crescimento sustentável e responder à procura crescente”.
Emma Cobos, diretora de Inovação e Estratégia de Negócios do Porto de Barcelona, abordou a experiência de Portugal como referência na economia azul e destacou a importância da digitalização, da transição energética e da inovação aberta para a competitividade portuária. “Um porto não pode ser medido em toneladas, mas sim pelo peso que representa para a economia local, seja em termos de PIB ou de emprego”, afirmou.
Já Regina Salvador, coordenadora da OCEANID +, destacou que “90% do comércio mundial é já marítimo”, lembrando que os portos da União Europeia empregam mais de três milhões de pessoas em 22 Estados-membros.
Para o município, a maritimidade continua a ser um fator diferenciador, mas o foco da estratégia não é apenas institucional. Luís Nobre, presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, destacou a “absoluta determinação” em reafirmar o papel do mar como força do território, sublinhando a “enorme vontade de afirmar-se através do mar e da inovação, particularmente no domínio da energia, que é um dos grandes desafios da atualidade”.
O autarca salientou ainda que as infraestruturas portuárias são “um fator de diferenciação e de afirmação de qualquer território” e defendeu a criação de um ecossistema capaz de proteger as atividades existentes e fomentar novas oportunidades ligadas à economia azul.
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