Há eleições que parecem apenas realizar-se para cumprir mero calendário, quase como uma evidência pré-firmada ou um ritual previsível. Mas há outras em que o voto pesa diferente: mais do que escolher um executivo, é escolher um rumo. Em Viana do Castelo, a eleição que se aproxima carrega esse peso – o de testar se a cidade quer manter-se na cadência do que já conhece ou se está pronta a reclamar um horizonte diferente..
Durante anos, a política local viveu entre a estabilidade e a continuidade, como se a cidade tivesse aprendido a confiar na repetição. Havia obras, havia projetos, havia o conforto da rotina. Mas o tempo trouxe novas inquietações: a juventude que parte, a habitação que escasseia, a pressão do turismo sobre o espaço urbano, as promessas que parecem sempre a um passo de acontecer e, no entanto, tardam. Os vianenses, que sempre se orgulharam da sua terra, começam a perguntar-se se o futuro não precisa de outro tipo de energia.
As próximas autárquicas serão, por isso, menos sobre nomes e mais sobre sinais. Sinais de confiança ou de fadiga. Sinais de que o eleitorado ainda acredita que a estabilidade é a melhor garantia de progresso, ou de que chegou o momento de abrir espaço a novas formas de governar. É o género de eleição em que cada voto conta não apenas como escolha imediata, mas como recado para o futuro.
Ninguém deve esperar uma revolução eleitoral, mas também não se deve assumir a inevitabilidade da repetição. Há um rumor de mudança que se sente nas conversas de café, nas assembleias locais, nos bairros que se queixam de abandono e nas associações que pedem mais atenção. Esse rumor não garante viragem, mas garante escrutínio.
E talvez esse seja o maior ganho destas eleições: perceber até que ponto Viana está disposta a deixar de ser apenas governada e a tornar-se mais participante no seu próprio destino. Um concelho mais exigente, que cobra, que questiona, que não aceita respostas automáticas. Se o resultado traduzir confiança renovada, será também um voto de responsabilidade redobrada. Se traduzir equilíbrio ou fragmentação, será o sinal de que o tempo pede diálogo e partilha de poder.
O certo é que, no dia seguinte às eleições, Viana continuará a ser a mesma cidade entre rio e mar, com a sua história e o seu orgulho. Mas talvez já seja outra, no modo como se vê e no modo como se pensa. Porque às vezes, mesmo quando a mudança não se escreve nos números finais, escreve-se no espírito de um povo. E este é, acima de tudo, o espírito que estará em jogo no próximo outono eleitoral.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.