As eleições autárquicas em Viana do Castelo trazem à mesa sete candidaturas, refletindo não apenas a diversidade partidária nacional, mas também leituras muito distintas sobre o futuro do concelho. O denominador comum é claro: habitação cara, transportes insuficientes, envelhecimento populacional e saída de jovens. As soluções, contudo, dividem-se entre continuidade, rutura e propostas alternativas de vários matizes ideológicos.
A continuidade socialista
Luís Nobre, do PS e atual presidente, apresenta-se como garante da estabilidade. Reclama resultados concretos — exportações em alta, investimentos em saúde, habitação e infraestruturas — e pede mais tempo para concluir projetos de grande escala, como a nova ponte sobre o rio Lima. O seu discurso sublinha que “a cidade está a crescer” e que interromper esse ciclo traria riscos.
A rutura social-democrata
Paulo Morais, candidato do PSD, oferece uma narrativa oposta. Critica a Câmara Municipal por atrasos no pagamento a fornecedores e acusa-a de falta de transparência. Defende normas anticorrupção internacionais, prazos rígidos de licenciamento e uma “revolução” na mobilidade urbana, com autocarros elétricos, ferrovia noturna e funicular a funcionar até mais tarde. A rutura, neste caso, não é apenas política, mas também institucional: reorganizar para atrair confiança e investimento.
Alternativas à esquerda
O Bloco de Esquerda, com Carlos Torres, centra a campanha na “emergência habitacional”. Propõe canalizar o IRS municipal para construir habitação pública e defende transportes acessíveis em todas as freguesias, além de reforço da cultura como serviço público. A CDU, liderada por José Flores, segue linha semelhante no diagnóstico, mas com ênfase maior na intervenção direta do município: construção de fogos sociais, levantamento de devolutos, transportes integrados com zonas industriais e descentralização cultural. Ambos colocam a habitação e os serviços públicos no coração do debate, defendendo que o mercado não resolve os problemas sozinho.
Alternativas à direita
Eduardo Teixeira, do Chega, aposta em aliviar impostos municipais (IRS, IMI, derrama) e em gestão “empresarial” da autarquia. Critica a rede de transportes atual por falta de modelo económico e propõe revisão acelerada do PDM para responder à classe média. Já Duarte Antunes, da Iniciativa Liberal, parte de um diagnóstico semelhante, mas privilegia a eficiência administrativa: acelerar licenciamentos, publicar contratos online e articular mobilidade com tecnologia (autocarros elétricos com informação em tempo real, ciclovias interligadas). Ambos procuram captar o eleitorado que mede a política pela carteira e pela eficácia da máquina pública.
A proposta do ADN
Luís Arezes, candidato do ADN, diferencia-se, ao colocar a imigração no centro do debate local. Defende prioridade de apoios para residentes de longa data e associa a pressão migratória ao acesso à habitação social e à segurança. Complementa o discurso com propostas de desenvolvimento no turismo, no mar e no desporto, rejeitando o que considera dependência excessiva da indústria pesada.
Um eleitorado fragmentado
Entre sete visões distintas, os vianenses terão de escolher. Entre a continuidade socialista, a rutura social-democrata, a intervenção pública defendida à esquerda, as soluções liberais e conservadoras à direita, e a crítica identitária do ADN, o concelho encontra-se perante um leque de alternativas raramente tão amplo. A decisão dirá não apenas quem governa, mas também que caminho se considera mais adequado para travar a perda de população, garantir habitação acessível e responder às expectativas de um território que procura equilíbrio entre tradição, modernidade e futuro.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.