E não será um parque qualquer: será a “Fortaleza dos Pequeninos”! Diria que é a simbiose perfeita onde conjugaremos o bem-estar social, a promoção do tempo familiar, a valorização do território e a educação patrimonial.
Pelo que me foi possível perceber, Valença não teria no seu centro histórico um espaço dedicado às crianças ou um simples parque infantil há mais de 50 anos. Se assim é, não poderei deixar de enaltecer este tipo de investimento, fulcral na promoção do bem-estar social, da socialização e do desenvolvimento físico das crianças. Paralelamente, aumentará a dinâmica do território, atraindo famílias – de residentes ou de turistas – que por si só permitirão a criação de novas oportunidades para a comunidade.
Obviamente – e não obstante o facto do tempo de qualidade com as famílias, me dizer muito – não é a construção deste parque que me faz escrever este artigo de opinião. Nos últimos anos, tem vindo a ser criada uma dinâmica em torno da Fortaleza de Valença, na qual se incluirá até a construção deste parque infantil, relacionada com uma estratégia de salvaguarda, proteção, promoção e valorização de um dos Monumentos mais importantes da região Alto-Minhota. E é aqui, que eu gostaria de me focar.
Portugal possui, à data, dezassete sítios inscritos na lista de património Mundial da UNESCO, nenhum dos quais está localizado na região do Alto-Minho. Não será a nossa região detentora de património construído ou natural relevante, que permita a sua elevação a Património Mundial? De referir que o distrito de Viana do Castelo é a terceira região de Portugal (depois de Lisboa e Porto), com maior rácio por km2 de bens classificados como Monumento Nacional.
Com efeito, a Fortaleza de Valença – integrada na rede de “Fortalezas Abaluartadas da Raia” – tem sido nos últimos anos a representação que todos os Alto-Minhotos anseiam ver inscrita na lista de bens classificados da UNESCO. Durante mais de uma década, permaneceu na chamada “lista indicativa de Portugal” (uma lista que contém uma série de monumentos potencialmente elegíveis para tal classificação) sendo que, no passado mês de junho, a Fortaleza passou a ser oficialmente candidata a Património Mundial da UNESCO, através da candidatura conjunta dos Municípios de Valença, Almeida e Marvão.
Esta candidatura apresenta enormes oportunidades para a região, mas traz também um acréscimo de responsabilidade às entidades que em Portugal têm a obrigação de zelar pelo bom estado de conservação do nosso Património. Lembremo-nos, por exemplo, que em janeiro de 2023, em virtude do mau tempo, uma área considerável do pano da muralha ruiu. A estrutura está a ser agora recuperada de forma exemplar, respeitando o método construtivo e as características de construção originais. É este trabalho que permitirá devolver à estrutura toda a sua integridade e valor, mas também, e simultaneamente, a implementação em toda a sua extensão de um sistema de monitorização que permitirá de forma permanente detetar qualquer risco e/ou alteração à estrutura do Monumento: serão instalados uma série de sensores ao longo dos 5,5 quilómetros de extensão da muralha, com incidência para alguns locais onde o risco de instabilidade é maior, sendo enviados indicadores para uma central que monitorizará e detetará de forma imediata qualquer alteração desses parâmetros.
É este cuidado e responsabilidade acrescida – imposta a todos os Monumentos classificados pela UNESCO – que deverá ser replicada a todo o património da região, e que poderá em certa medida contribuir para a valorização do nosso território. Quando falamos de património, deveremos falar de trabalho de excelência, seguindo este tipo de orientação, que permite a sua valorização. De referir que, na nossa região, vários conjuntos (sejam de património construído ou de património natural), têm vindo a ser publicamente apontados, ou até mesmo estudados, como potencialmente candidatos a este selo da UNESCO: os “Caminhos Portugueses de Peregrinação a Santiago de Compostela – candidatura conjunta dos municípios da região e da associação Espaço Jacobeus”, o “Geoparque do Litoral – candidatura do Município de Viana do Castelo”, o “Estuário do Rio Minho – candidatura conjunta: municípios de Caminha e La Guardia”, ou a “Vila de Ponte de Lima – candidatura do município de Ponte de Lima”.
Para além da valia que, por si só, todas estas candidaturas possam ter, o trabalho iniciar-se-á sempre muito antes de qualquer tipo de apresentação. Um caminho longo, com muito trabalho de valorização, conservação e promoção. Esperamos, pois, para louvor e representação de toda a nossa região, que esta candidatura possa ser aprovada e que o Alto-Minho possa finalmente ostentar um reconhecimento mundial da importância e singularidade do nosso Património!
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