O stress financeiro e a precariedade económica estão a afetar o sucesso académico e o bem-estar psicológico no ensino superior. O alerta foi deixado no primeiro webinar do ciclo “Pobreza e as suas diversas dimensões”, organizado pelo Núcleo Distrital de Viana do Castelo da EAPN Portugal e pelo Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC), dedicado ao tema “Pobreza e Saúde Mental”.
O encontro contou com as intervenções das psicólogas Daniela Ferreira, dos Serviços de Ação Social do IPVC, e Maria João Vargas Moniz, docente e investigadora do ISPA – Instituto Universitário, que destacaram a necessidade de compreender as causas e consequências psicológicas da pobreza entre os jovens. “O stress financeiro é silencioso, mas tem efeitos profundos nas pessoas que o vivem”, sublinhou Daniela Ferreira, defendendo que investir no bem-estar financeiro é investir no sucesso académico e na redução da pobreza.
A especialista apresentou a comunicação “Do sonho às contas: o impacto do stress financeiro em estudantes do ensino superior”, onde explicou que a transição para o ensino superior é muitas vezes marcada por um choque entre as expectativas e a realidade económica. “Os estudantes começam com o sonho de conquistar um futuro melhor, mas rapidamente entram na fase de fazer contas à vida”, descreveu.
De acordo com os dados apresentados, o custo médio mensal de um estudante ronda os 903,90 euros, e mesmo os bolseiros deslocados enfrentam despesas superiores a 200 euros por mês. Para muitos, estas dificuldades geram sentimentos de ansiedade, frustração e isolamento.
A psicóloga alertou ainda para fenómenos que passam despercebidos, desde “a erosão lenta”, em que o estudante vai abandonando unidades curriculares aos poucos; o “abandono silencioso”, quando deixa de frequentar aulas sem formalizar a desistência; e o “desvio da rota”, quando muda de curso apenas para reduzir custos. “O abandono académico não é uma escolha, é a continuação de um ciclo de necessidades financeiras”, afirmou.
Já Maria João Vargas Moniz, na sua intervenção, reforçou a importância de as instituições conhecerem melhor o perfil dos estudantes e os múltiplos fatores de risco que os afetam. “É fundamental percebermos quantos e quem são os estudantes em risco de stress financeiro, para desenhar respostas ajustadas e políticas eficazes”, defendeu.
A docente revelou que “35% dos estudantes do ISPA são trabalhadores-estudantes”, um grupo que enfrenta desafios próprios. “O stress financeiro tende a afetar mais os mais novos, mas o estudante-trabalhador, muitas vezes mais velho, lida com o cansaço, os horários noturnos e o peso da conciliação entre emprego e estudos”, alertou, destacando também a importância de reforçar fatores protetores que mitiguem os efeitos da pobreza, desde apoios diretos como transportes gratuitos, refeições subsidiadas ou bolsas complementares, até medidas institucionais, como flexibilização de horários, acesso a equipamentos e reforço das bibliotecas. “As universidades estão a acordar para a necessidade de se reinventarem. Não podemos olhar para os estudantes apenas como números. São pessoas, com contextos diferentes, a quem temos de nos adaptar”, acrescentou.
A especialista defendeu ainda que o ensino superior deve apostar em estratégias inovadoras de promoção do bem-estar e de acompanhamento próximo, “aproximando os estudantes dos serviços da escola e fortalecendo o espírito de missão de toda a comunidade académica”.
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