S. Bentinho

D. Pio Alves de Sousa
16 Jul. 2024 3 mins
D. Pio Alves

Durante todo o ano, particularmente por estes dias, o nome e a figura de S. Bento são recordados e celebrados um pouco por todo o lado.

Quem foi este homem?

Nasceu na Núrsia, perto de Roma, na penúltima década do século V, no seio de família nobre. Morreu em meados do século VI (550-560). Santa Escolástica é sua irmã gémea.

A grande marca da sua vida é a vida monástica, que viveu intensamente e de que foi grande impulsionador. A Regra Monástica, da sua autoria, foi e continua a ser um escrito de referência para a história da literatura cristã e da vida monacal.

A sua fama de santidade, que o acompanhou já em vida, atravessa os séculos. Os mosteiros que levam o seu nome, as igrejas e capelas que lhe são dedicadas, as paróquias que o têm como padroeiro, as imagens presentes em incontáveis igrejas são a prova indesmentível da enorme influência na Igreja e na Sociedade.

O admirável é que uma personagem com estas caraterísticas – longínquo no tempo, austero, que não é um modelo cor de rosa – arraigue de modo tão significativo nos mais variados ambientes culturais, com uma particular predominância no povo mais simples. A religiosidade popular, à volta de S. Bento, arrasta multidões e tem manifestações muito próprias. Bastará pensar na naturalidade com que é tratado pelo seu diminutivo. Provavelmente, haverá casos em que o povo comum não saberá quem é S. Bento mas não ignora quem é S. Bentinho.

Outro exemplo significativo é a quantidade de romeiros, de diferentes composições e caraterísticas que, particularmente nestes dias, rumam aos seus santuários.

Não se me apagou da memória a música e a letra, que ouvia à distância, na minha juventude, dos romeiros a S. Bentinho do Hospital (Braga, antigo Hospital de S. Marcos):

Oh meu S. Bentinho / velinhas (aa)rder/ se elas (se as velas) se apagarem / tornai-as (aa)cender. Tornai-as (aa)cender, / tornai-as (aa)cender, / oh meu S. Bentinho / velinhas (aa)rder.

A profundidade desta letra ingénua é todo um compêndio de fé e devoção.

Habitualmente, o povo situa o poder intercessor dos santos em alguma especialidade concreta, com conexão com facetas da sua biografia. Também acontece o mesmo com S. Bento, ainda que com um espectro muito alargado.

Uma nota final. Os Papas, nas últimas décadas, confiaram, sucessivamente, à proteção de vários santos a identidade cristã da Europa.

  1. João Paulo II nomeou padroeiros da Europa, em 1980, os santos Cirilo e Metódio; em 1999, Santa Catarina de Sena, Santa Brígida da Suécia e Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein). Mas a primeira nomeação é de S. Bento, feita por S. Paulo VI, em 1964.

A influência religiosa, social e cultural do monaquismo está entre as raízes cristãs que marcaram e ainda marcam, hoje infelizmente menos, a identidade da Europa. Será bom, contudo, que, aproveitando a prece dos romeiros, S. Bentinho acenda e reacenda a velinha, sinal da devoção de um Povo.

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