Sou o Padre Alexandre, natural de Cabinda, e padre incardinado na diocese de Créteil, em França. Depois de muitos anos em França, verifico que o olhar dos franceses está mais colocado nas suas antigas colónias. Desta feita, para persuadir os nossos irmãos portugueses que conhecem melhor a história de Angola, com a permissão do meu […]
Sou o Padre Alexandre, natural de Cabinda, e padre incardinado na diocese de Créteil, em França. Depois de muitos anos em França, verifico que o olhar dos franceses está mais colocado nas suas antigas colónias. Desta feita, para persuadir os nossos irmãos portugueses que conhecem melhor a história de Angola, com a permissão do meu bispo, estou a exercer o meu ministério na Suíça, junto dos emigrantes Portugueses. Ao falar do projeto da construção da igreja em Cabinda, um casal amigo da zona de Viseu que trabalha na Suíça aceitou o convite de ir até Cabinda onde ficou surpreendido pela miséria que assola aquele povo. O casal, que esteve em Cabinda de 31 de dezembro de 2019 a 9 de janeiro 2020, escreve o seguinte:
“Importa deixar por escrito momentos marcantes ao longo da nossa estadia em Cabinda. Um território tão rico mas ao mesmo tempo de extrema pobreza que não se pode imaginar. Em Cabinda os meus olhos viram a grande miséria. Um povo com recursos incalculáveis, mas privado de tudo o que um ser humano precisa para viver com dignidade, até mesmo os ditos bens de primeira necessidade. A nossa ida a Cabinda tinha como objetivo ajudar. Ao chegarmos a Cabinda, o Padre Alexandre levou-nos à aldeia de TANDO-ZINZE, onde decorre a obra da construção da igreja.
No primeiro dia do ano, fomos à missa na referida aldeia onde, sinceramente, não sei bem com que comparar aquela estrutura tão perigosa onde durante duas horas assistimos à Eucaristia. Ao logo da Eucaristia, o povo manifesta a sua fé com muito cântico e dança, uma característica linda destas gentes. A minha indignação é de ver gente debaixo duma estrutura tão degradada. Tenho a certeza que na Europa não seria permitido a entrada de pessoa alguma. Mas o povo ali continua a celebrar a cada domingo pois é a única solução, sabe-se lá até quando!
Atrás dessa estrutura está a igreja em construção. Encontramos paredes ao alto, mas garanto que aquele povo por si só não tem como contribuir para o fim da obra. É um povo simples e humilde sem possibilidades financeiras. O pouco que já foi feito foi com a ajuda de pessoas generosas, mas a obra ainda está longe de ser concluída. Por isso, como disse alguém: a caridade não tem dia nem hora. Eu imploro às pessoas de boa vontade que não se cansem em fazer o bem. Todos de mãos dadas, cada um segundo as suas possibilidades, os habitantes de Tando-Zinze podem um dia ter uma igreja digna para louvar e bendizer o Senhor. A única esperança deste povo somos nós, os que vivemos do outro lado do mundo. Atualmente, os trabalhos estão parados pois sem dinheiro não se faz nada. Eu e o meu marido ficámos muito indignados ao vermos gente daquela aldeia com tanta fé mas sem estrutura digna. Cruzar os braços é faltar à caridade para com quem sofre”. (Maria Dos Anjos)Povo santo de Deus, depois deste testemunho, limito-me a agradecer a todos quantos, num olhar de misericórdia, farão aquele gesto simples e humilde como a viúva nos Evangelhos de Marcos 12, 41– 44, e de Lucas 21, 1 – 4. A pobre viúva queria ofertar, podia, mas não devia, só que mesmo assim o fez. A missão de Jesus exige de nós muita abnegação! Doação total de nossos dons para a construção do Reino de Deus.
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