As eleições autárquicas em Viana do Castelo não se disputam no vazio. Por detrás de programas e slogans, está um concelho com realidades complexas: uma população envelhecida, jovens em fuga, periferias marcadas por fragilidade social, um centro histórico em transformação e um tecido económico em mutação. Conhecer esta paisagem, ajuda a perceber as tensões que moldam o eleitorado e a forma como os candidatos procuram responder a problemas estruturais.
Envelhecimento acelerado
Com cerca de 85 mil habitantes, Viana do Castelo apresenta um índice de envelhecimento superior à média nacional. Nas freguesias rurais, a proporção de idosos chega a ultrapassar o dobro da de jovens. O concelho enfrenta o dilema clássico do interior português: população que envelhece sem reposição geracional, pressionando sistemas de saúde e apoio social.
Este peso demográfico traduz-se em comportamento eleitoral. Os mais velhos votam de forma mais consistente e tendem a valorizar estabilidade e serviços públicos básicos. Por isso, saúde, lares e transportes acessíveis são temas centrais na agenda política.
Saída de jovens qualificados
O envelhecimento é agravado por uma saída contínua de jovens em idade ativa. Muitos procuram emprego qualificado em Braga, Porto ou no estrangeiro. Outros enfrentam rendas altas e escassez de habitação acessível. A pressão imobiliária faz com que jovens casais olhem para freguesias limítrofes, perdendo ligação direta ao centro urbano.
Este movimento de êxodo reflete-se também no mercado de trabalho: menos população jovem significa menor renovação em sectores industriais e menor procura de bens e serviços locais. A retenção de jovens é, por isso, não apenas uma questão social mas um fator crítico para a sustentabilidade económica do concelho.
Rurais em declínio e urbanos em transformação
O concelho é marcado por um contraste nítido: freguesias rurais em declínio e centro urbano em reabilitação. Nas zonas rurais, a agricultura perdeu peso económico, restando pequenas explorações familiares e população envelhecida. A desertificação destas freguesias gera sentimentos de abandono, alimentando discursos de protesto e reivindicação de serviços básicos, como transportes regulares, farmácias ou médicos de família.
No centro histórico, pelo contrário, a reabilitação urbana trouxe vitalidade e atraiu novos residentes ligados a serviços, turismo e indústrias criativas. Mas também trouxe gentrificação: lojas tradicionais dão lugar a negócios voltados para turistas e as rendas afastam famílias locais. O resultado é um eleitorado urbano mais fragmentado, dividido entre os que beneficiam da modernização e os que se sentem excluídos dela.
Peso dos bairros sociais
Outra dimensão importante são os bairros sociais e as periferias urbanas. Nestes espaços, concentra-se parte da população com rendimentos mais baixos e, em alguns casos, comunidades imigrantes. A habitação é a questão dominante, que se junta a perceção de insegurança e a falta de oportunidades. É um eleitorado volátil, menos fidelizado, mas com peso simbólico: os debates sobre imigração, apoio social e habitação social ecoam diretamente nessas zonas.
Estrutura económica: do mar à indústria
A economia de Viana assenta em três pilares. O primeiro é o mar: porto de mar, estaleiros navais, pesca e logística fazem parte da identidade local. O segundo é a indústria automóvel e metalomecânica, que garante emprego a milhares de trabalhadores, mas enfrenta desafios de modernização tecnológica. O terceiro é o turismo, em crescimento, apoiado por eventos culturais, festas tradicionais e património natural.
Nos últimos anos, as exportações do concelho cresceram, sinal de dinamismo industrial. Mas a dependência de grandes empresas deixa Viana do Castelo vulnerável a oscilações de mercado. Por outro lado, o turismo cresce, mas levanta questões de sustentabilidade e de equilíbrio com a vida quotidiana dos residentes.
Serviços públicos sob pressão
O envelhecimento e a dispersão geográfica criam dificuldades acrescidas nos serviços públicos. Centros de Saúde com carência de médicos, escolas com turmas reduzidas em freguesias rurais e transportes pouco frequentes entre aldeias e a cidade. A rede de lares e de apoio domiciliário revela-se insuficiente para a procura.
Ao mesmo tempo, a pressão sobre o centro urbano exige novas respostas: mais estacionamento, mobilidade suave, melhor articulação entre transportes coletivos e acessos ao hospital. São tensões que atravessam os debates políticos, mas que têm origem na realidade social.
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.