Mais um verão, mais uma época dura de incêndios. Ano após ano assistimos a este descalabro e ficamos com a sensação de que pouco ou nada é feito para inverter esta tendência.
“Portugal Chama” é a campanha nacional que apela ao envolvimento de todos na missão de proteger o país dos incêndios rurais, no entanto, passados vários anos desde o seu lançamento, parece que continuamos sem escutar verdadeiramente esse chamamento.
Muitas “soluções” têm sido discutidas: repovoar o interior, diversificar a floresta, apostar na agricultura ou descentralizar serviços. Estas soluções podem demorar décadas a dar frutos e exigem uma vontade política consistente e corajosa. A curto prazo, sobra apenas uma opção: prevenir.
Neste ponto, além da limpeza de matas e manutenção de faixas de segurança, a tecnologia também pode desempenhar um papel fundamental.
Recentemente, a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) e a Earth Fire Alliance (EFA) assinaram um Memorando de Entendimento para promover a colaboração no âmbito do programa de adoção do sistema FireSat, um sistema financiado pela Google.
O FireSat consiste num sistema de satélites colocados em órbita, equipados com sensores capazes de identificar rapidamente sinais de fogo, como calor intenso ou colunas de fumo. Em vez de depender apenas da vigilância em terra ou de quem, por acaso, avista um incêndio, este sistema funciona como uma rede de “olhos no céu”, sempre alerta, capaz de observar vastas áreas, incluindo zonas remotas onde não existe presença humana nem meios de vigilância tradicionais.
O primeiro satélite de testes foi lançado em março deste ano, e a rede contará com mais de 50 satélites até 2030.
Estas parcerias são, sem dúvida, relevantes, mas não podemos continuar a depender quase exclusivamente de soluções externas para enfrentar um problema tão enraizado no nosso território. As estratégias nacionais tendem sempre a avançar a um ritmo lento, quando simplesmente não ficam no papel.
Por isso, é cada vez mais relevante reforçar o papel das autarquias, que conhecem de perto a realidade local e podem implementar soluções adaptadas a cada território de forma mais rápida e eficaz. Sempre que dispomos de ferramentas que nos podem auxiliar, como sistemas de deteção precoce, monitorização remota ou análise de dados, capazes de antecipar riscos e permitir respostas mais céleres, vale a pena aproveitá-las, sem esquecer que a ação local continua a ser essencial.
Portugal chama, e está na altura de todos nós ouvirmos.
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