Pe. Domingos Meira e Ricardo Fernandes: Organização da JMJ surpreendeu tudo e todos

Portugal recebeu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). A Diocese de Viana do Castelo mobilizou cerca de 1.250 jovens a participar em Lisboa e a previsão é que, em 2027, na Coreia do Sul, “a geração JMJ Lisboa 2023” dê continuidade a esta participação.

Micaela Barbosa
25 Set. 2023 8 mins
Pe. Domingos Meira e Ricardo Fernandes: Organização da JMJ surpreendeu tudo e todos

Sete semanas após a participação diocesana na JMJ, o Pe. Domingos Meira, ainda diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil e responsável pelo Comité Organizador Local (COL) e, Ricardo Fernandes, membro do Secretariado e do COL, descrevem a experiência como “única”. “Foi uma JMJ plena”, afirma o sacerdote, explicando que “tudo começou em janeiro de 2019”. “Foram quatro anos e meio a organizar tudo. No Panamá, quando nos disseram que a JMJ era para se realizar em Portugal, havia muito entusiasmo, mas a minha preocupação era perceber se as pessoas tinham noção no que se estavam a meter”, confidencia, relembrando uma conversa com o então Pe. Américo Aguiar, em que lhe disse que teria de convencer um país do que ia acontecer. 

O Pe. Domingos Meira assegura que ficou “surpreendido” com a organização. “Foi uma Jornada bem organizada, bonita, com momentos muito bons e artísticos, e uma enchente que não esperava”, especifica, embora a sua experiência tenha sido “diferente” do que todos os outros, uma vez que pertencia à organização. “Foi uma JMJ exigente. Nunca tinha vivido uma JMJ assim”, conta. No entanto, sente-se realizado por ter cumprido com o objetivo da sua equipa. “A minha função era garantir que os outros vivessem a JMJ em pleno. Conseguimos que os jovens estivessem no mesmo espaço e tivéssemos vários momentos juntos. Queria aproveitar a JMJ para crescer como Igreja diocesana. Os jovens, de todos os Arciprestados, contactaram entre si e estão conscientes de que têm uma imagem em comum”, salienta, exemplificando: “Abdicámos da Via Sacra. Na altura, comentei com o Ricardo que a nossa função não era lá estar, mas garantir que eles estivessem. E eles estiveram. Isso valeu por tudo. Permitir e fazer de tudo para que todos os jovens da Diocese pudessem lá estar.” 

De todo o programa, os dois destacam os momentos centrais da JMJ que mostraram que “Portugal é capaz de organizar bem”, passando uma boa imagem para os portugueses e estrangeiros. “Os eventos centrais com o Papa Francisco foram mágicos”, afirma Ricardo Fernandes, realçando a alegria e o entusiasmo dos jovens nas ruas. “Noto que as gerações mais novas não têm complexo de se aproximar dos outros mesmo arranhando na língua, interagem. Senti uma pré-disposição para tal”, refere. “O entusiasmo de ver o Papa foi uma das coisas que mais me marcou. Podia não acontecer e não contava que esta geração tivesse este grande entusiasmo por o ver, tocar e ouvir. A emoção era evidente”, frisa o Pe. Domingos Meira, confidenciando: “Sempre identificámos isso na JMJ, mas não era uma coisa que visse como adquirida, nesta geração”. Um dos outros momentos que marcou o sacerdote foi a confissão. “Estamos numa altura em que, infelizmente, há cristão que desvalorizam os Sacramentos, mas a JMJ proporcionou um ambiente propício para celebrar a Reconciliação com os jovens”, salienta, descrevendo as palavras do Papa Francisco como “não inocentes”. “Em algumas formações que fiz, muitos oradores afirmaram que ‘a revolução’ do Papa Francisco ainda não se vê. Só vamos começar a vê-la daqui a alguns anos. A mensagem «todos, todos, todos» tem a ver com esta revolução subterrânea para uma Igreja Sinodal, menos clerical, uma Igreja de todos e para todos. Só faz sentido assim. É o seu processo de revolução, renovação e mudança na Igreja”, atira o Pe. Domingos Meira. “A JMJ é um momento propício à escuta. Os jovens estavam ali à espera das suas palavras e a ouvi-lo. Aliás, eles orientaram as suas vidas para ver o Papa. Levantavam-se cedo para ir para a rua onde iria passar, e nos momentos mais centrais da JMJ. Depois disto, tivemos a reação. As palmas. Reagiam. E por isso, a mensagem foi transmitida porque já ouvi falar sobre as palavras pós-JMJ. Frases que ficam”, acrescenta Ricardo Fernandes, considerando que o tema da JMJ Lisboa 2023 “tem uma intenção” que “ainda não é totalmente entendida, mas será no futuro”. 

A Diocese de Viana do Castelo teve muita gente envolvida na organização da JMJ, fosse no coro, nas equipas de voluntários ou noutras dimensões que, de acordo com os dois responsáveis, justificam gratidão pelo trabalho desenvolvido pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil e pelo COL. “O que me faz sentir realizado e satisfeito é o reconhecimento e o agradecimento. Exemplo disso é que alguns membros do coro fizeram questão de mandar mensagem privada a agradecer a experiência única que viveram. Se não tivéssemos sido nós a motivá-los e ajudá-los, não teria sido assim. Há um feedback muito bom”, garante, defendendo que, mesmo as que trabalharam com as Forças de Segurança, não vão esquecer a experiência. “O nosso país deu imagem de empenho e maturidade como nenhuma Jornada em que estive. Não tenho dúvidas de que estas pessoas, mesmo com menos condições e descanso, não vão esquecer a experiência”, disse. “Tenho amigos que estiveram lá a trabalhar e vieram para casa felizes, porque foi um evento que os marcou. Aliás, comentaram o pouco que ganharam naquelas horas extraordinárias, mas asseguram que valeu a pena estar lá”, acrescenta Ricardo Fernandes, contando que os artistas, que tiveram a oportunidade de atuar na JMJ, também asseguram que presenciaram um momento “único”. O Pe. Domingos Meira confidenciou, ainda, que o momento em que lhe caiu a ficha foi no acolhimento dos Símbolos até ao altar-palco, onde todos os coordenadores de todas as Dioceses estiveram presentes. “Senti o entusiasmo de todos. Desde organização a autoridades civis. E, portanto, a JMJ foi uma surpresa muito boa. Surpreendeu-me. O Sr. D. Américo Aguiar insistia num milhão de participantes, mas eu temia. Ou seja, as previsões otimistas eram realidade”, admite. Na JMJ, Viana do Castelo teve ainda a oportunidade de confecionar o tapete de sal com o apoio da Câmara Municipal e da Viana Festas. “Era um momento que envolvia várias Dioceses e podia não acontecer, mas o COL permitiu-nos esta oportunidade”, agradece Ricardo Fernandes. “Num outro momento, estivemos com um grupo que ia estar lá e fizemos questão de lá ir. Ajudámos a equipa que estava responsável pelo tapete. Foi um momento belo e de manifestação porque se trata da nossa casa, da nossa terra e da nossa cultura. Foi mais um momento belo da JMJ e da participação de Viana”, afirma o Pe. Domingos Meira. 

Após a JMJ, Ricardo assegura que “as palavras do Papa Francisco despertaram os jovens”: “Já vejo jovens a falar do encontro europeu, em Roma, em 2025. Vejo intenções para 2027. Muitos dos nossos jovens, não estavam preparados para aquilo que viveram. Não sabiam o que era”, defende. “Com quem íamos contactando, tínhamos essa perceção de que a JMJ era uma descoberta. Daí, a nossa preocupação em promover atividades para explicar tudo”, acrescenta o Pe. Domingos Meira, reiterando: “Isto não foi um processo de inscrever e ir. Isto foi um percurso longo com fases boas e menos boas, difíceis e de superação. Isso refletiu-se no entusiasmo dos grupos, Paróquias e Arciprestados.”

Já sobre as polémicas, o Pe. Domingos Meira e Ricardo Fernandes dizem que “é normal” acontecer em todas as Jornadas, pelo seu mediatismo. “Passou ao lado de quem lá esteve”, garantem, elogiando D. Américo Aguiar por ser a “dianteira num país”. “Em conjunto com a sua equipa, ele conseguiu esta proximidade e compreensão das pessoas. Fez com que elas acreditassem que algo belo e grande ia acontecer. E aconteceu”, referiu o Pe. Domingos Meira. “Isto foi um momento marcante para todos os jovens. Vai nascer aqui uma geração JMJ Lisboa 2023. Já sentíamos as gerações de outras Jornadas, mas a sensação era reduzida porque, na Diocese, fomos 30 ao Brasil e 11 ao Panamá. Notamos que essas pessoas continuaram a participar na Igreja, mas, agora, falamos de um universo maior. São cerca de 1.250 jovens que vão levar isto para as suas Paróquias de todos os Arciprestados. Isto nunca aconteceu em nenhuma outra Jornada e, possivelmente, em nenhuma atividade diocesana”, concluiu Ricardo Fernandes.

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