Depois da turbulência de um Verão festeiro e festivo, já suspirávamos pelo regresso à calma, ao dia-a-dia da cidade. Mas, este ano, tal ainda não ia ser possível – tínhamos de votar. Para podermos escolher “em consciência” temos de ser importunados com cartazes, cartazinhos e cartazões em todas os postes, esquinas e rotundas. Nada tenho contra (esperamos 50 anos para podermos votar), para já (vamos ver daqui a uns meses, quando continuar essa poluição visual toda esfarrapada). Assistimos a autênticas digladiações entre candidatos. As promessas, em grande parte irreais, enchem-nos os ouvidos. Não serão cumpridas, mas não era essa a intenção? Pretendia-se, apenas, criar ilusões, atrair clientela, prometer, prometer. Conseguir votos a todo o custo. Copiam-se ideias “lá de fora”. Faz-se espectáculo. Tempos difíceis!
Outono – começo de aulas, começo de Escola. Como quando vai haver frio, calor, chuva, tornado, incêndio, praia encerrada, lá vem a reportagem do costume, a fazer as perguntas do costume aos incautos do costume – como se sentem? Como vão enfrentar este tempo? Quanto custam os materiais para a escola? E há sempre pais desgastados e filhos enfadados, por não poderem escolher a mochila mais cara, que vão dar as respostas do costume. É cíclico! Nenhum repórter, talvez por já pertencer a esta geração consumista, de desperdício, de desgaste rápido, faz a pergunta certa – o que aconteceu à mochila, lápis, régua, estojo, do ano anterior? Está tudo gasto, usado, ou apenas queremos tudo novo? Poderá ser que as mochilas, como são “voadoras” (atiradas pelo ar não duram muito), podem estar um pouco “cansadas”. Seria muito interessante saber quanto custou o telemóvel que a criança/adolescente utiliza…, ou o resto da indumentária…A decisão de proibir telemóveis na Escola, tomada há mais tempo, como deveria ter ocorrido, teria evitado situações muito difíceis e penosas.
Parece, segundo um artigo do Público, de 4 de Setembro, que “a Suécia, pioneira da digitalização da Educação está a voltar ao papel e à caneta” para desgosto de muito inovador, modernaço e seguidor do “lá de fora”. Sempre gostei de papel e lápis, mas estou no Outono da vida… Espero que ainda se vá a tempo de parar e reflectir. Sei o que lutei pelo livro na Rede de Bibliotecas Escolares. Sei como fui considerada retrograda – outonal. Estamos muito preocupados com as crianças viciadas em telemóveis e redes sociais. Quem lhes deu as ferramentas? Quem continua a calá-los com uns “bonequinhos” a correr? O telemóvel é útil, mesmo indispensável, mas com conta e medida.
No Outono, começa o balanço do ano. Os dias encurtam e já não apetece estar tanto tempo no exterior. O que lemos este ano? Mais, ou menos? Não importa a quantidade, claro, mas a qualidade, o que saboreamos, o ‘sumo’ que deles saiu. Falta-me ler tanto! Reler, nem pensar. É o Outono da vida!
Em Outubro, no Outono, vem sendo hábito o Núcleo do Arquivo Ephemera de Viana do Castelo organizar uma exposição. A deste ano, Aconteceu em Viana:1925-1950, que podem visitar até ao próximo dia 26, é uma mostra do que na cidade se passou nesses anos. Não podemos comparar com os nossos dias – não havia televisão e as pessoas deslocavam- se menos. E, acima de tudo, não nos podemos esquecer que apenas um grupo, uma elite, podia assistir a esses espectáculos. Se observarem bem, há pormenores deliciosos, havia muitas festas, muitos bailes de beneficência, organizados “pelas senhoras da nossa melhor sociedade”, em favor dos Bombeiros, Orfanato, Abrigo da Mendicidade e Socorro de Inverno. Vivia-se mal, muito mal. O dia-a-dia era penoso para muitos. O cinema, o teatro, as reuniões dançantes eram para uma minoria, convém não esquecer.
Este Outono não vai durar muito. Vai ser a estação mais curta do ano. Admirados? Então, não é que já vamos ter Natal a 8 de Novembro!? Natal não é no Inverno? (Enquanto escrevo, colocam as ornamentações. Quando vi o camião, pensei que estavam a levar as das Festas d’ Agonia…)
SUGESTÕES
Ler – Recordações e andorinhas, José Rentes de Carvalho (diário)
Seguir – Horas extraordinárias, blogue de Maria do Rosário Pedreira
**(Escrito de acordo com a ortografia antiga)
Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.
Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.