Depois de anos de promessas por cumprir, derrocadas recentes e uma via cada vez mais perigosa, quatro residentes da Estrada de Santa Luzia, em Viana do Castelo, levaram diretamente ao executivo municipal uma petição, com 276 assinaturas, a exigir a requalificação imediata dos 230 metros mais degradados da estrada que serve o Hospital de Santa Luzia. Confrontado com as críticas, o presidente da Câmara, Luís Nobre, pediu desculpa pela demora e comprometeu-se a lançar o concurso público em janeiro de 2026, após a conclusão da revisão do projeto em dezembro.
A primeira intervenção coube a Cristina Meireles que descreveu a situação da Estrada de Santa Luzia como “urgente e insustentável”, afirmando que não se trata apenas de um tema de acessibilidade, mas também de estacionamento, segurança e conforto.
A moradora insistiu também na necessidade de um prazo “objetivo e credível” e denunciou a “quase inexistência de passeios”, muitos substituídos por pilaretes, e o abandono visível junto ao escadório, onde recentemente ocorreu uma queda de terra. “Podia ter atingido alguém. O risco está lá todos os dias”, afirmou. Os moradores, sublinhou, “têm direito a viver numa zona com condições dignas”, sobretudo numa via que recebe diariamente um elevado fluxo automóvel associado ao hospital, incluindo ambulâncias e viaturas de emergência.
Cristina Meireles referiu que a zona “parece uma espécie de ‘Twilight Zone’ em pleno acesso ao hospital”, lembrando que as reclamações são antigas e que os moradores já viveram “este problema no passado”, sem que nada tivesse avançado.
A irmã Olinda Gonçalves, residente há 12 anos, descreveu o percurso como “penoso” para quem vive, trabalha ou se desloca ao hospital. “A inexistência de passeios obriga famílias com carrinhos de bebé e idosos com canadianas a caminharem na faixa de rodagem”, lamentou, relatando que, em dias de chuva formam-se verdadeiras “ondas de água” provocadas pelos camiões e carros pesados, devido à incapacidade de escoamento no piso deteriorado.
A moradora acrescentou que “a vibração diária causada pelo tráfego em paralelo tem provocado fendas tanto no exterior como no interior da sua habitação”, o que considera “insustentável”. “Esperamos com confiança que a obra avance. Não podemos continuar assim”, afirmou.
Ariana Pinto, empresária e moradora desde 2018, relatou episódios frequentes de quedas de idosos e situações de perigo envolvendo crianças que evitam a rua “porque têm medo de passar ali”. À semelhança das restantes intervenientes, afirmou ter visto carrinhas, carros e até ambulâncias evitarem o troço devido à sua perigosidade.
No momento em que adquiriu casa na zona, foi-lhe transmitido que a requalificação da estrada seria uma realidade iminente, algo que, oito anos depois, continua por cumprir. “São só 230 metros, mas parecem um mundo. Não podemos continuar a viver assim”, afirmou.
Já Diana Guerra, residente há 23 anos e trabalhadora no Hospital de Santa Luzia, testemunhou que a situação se arrasta desde o início dos anos 2000. A degradação intensificou-se, sobretudo devido às condições climatéricas e ao aumento de trânsito.
A moradora lembrou que “já houve tentativas pontuais de resolver problemas de escoamento, mas sem resultados eficazes”, contando que, muitas vezes, os moradores são obrigados a circular entre carros parados em fila, porque os passeios ou não existem ou estão inutilizáveis. A recente derrocada de terra foi, para si, mais um sinal de que a situação “não é apenas desconfortável, é perigosa”.
As queixas também chegaram à União das Freguesias de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela. A autarca Cláudia Marinho sublinhou que o problema “não é novo” e que já foi apresentado em reuniões de Câmara em mandatos anteriores, incluindo alertas dos bombeiros voluntários sobre dificuldades em manobrar ambulâncias no local.
O Notícias de Viana apurou, junto de fonte ligada ao processo, que, na altura da construção de novos apartamentos na zona, “a construtora disponibilizou-se para participar na obra, apresentando um investimento total estimado de cerca de 500 mil euros, estando disponível para suportar aproximadamente 200 mil euros desse montante”. Hoje aprovado, por unanimidade, o Relatório de Monitorização da ARU – Cidade Norte (2024) aponta um custo que ultrapassa um milhão de euros.
Em resposta à intervenção dos moradores, o presidente da Câmara reconheceu falhas na execução da obra. “Peço desculpa por não termos conseguido avançar esta obra. Tivemos um mandato muito exigente e não tivemos recursos humanos para colocar mais intervenções em marcha”, explicou, garantindo que a revisão do projeto fica concluída até final de dezembro. “A partir daí teremos todas as condições para, em janeiro, abrir o concurso público e arrancar com a obra no primeiro semestre de 2026. Este investimento já estava inscrito no orçamento deste ano e vai continuar no do próximo ano”, destacou.
De acordo com o relatório da ARU Cidade Norte, a requalificação da Estrada de Santa Luzia permanece, até à data, na fase de “estudo em elaboração”, apesar de ser uma das ações prioritárias identificadas na área de pavimentação e reperfilamento do espaço público.
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