O Centro Pastoral Paulo VI, em Darque, no Arciprestado de Viana do Castelo, acolheu as Jornadas Diocesanas de Pastoral, que visaram “renovar a Igreja diocesana" pelo "caminho que verdadeiramente responda à evangelização dos homens e mulheres do mundo atual". Sob o tema «Igreja de todos para todos», a iniciativa contou com a participação de mais de duas centenas de pessoas dos dez Arciprestados da Diocese de Viana do Castelo.
“A renovação da Igreja” com “o olhar no futuro”, foi o que motivou D. João Lavrador, Bispo diocesano, a concretizar as Jornadas Diocesanas de Pastoral, que também acontecem no âmbito do 50º aniversário da Diocese. “As Jornadas partiram do sonho de D. João Lavrador. Ele chegou há quase dois anos e, talvez, impulsionado e cativado pelo pensamento e pelo modo de ser do Papa Francisco, sentiu a necessidade de haver, na Diocese de Viana do Castelo, esta renovação sinodal, de escuta e discernimento dos sinais, e de uma necessidade de uma Igreja para hoje”, contou Mons. Fernando Caldas, Vigário-geral.
O programa das Jornadas Diocesanas de Pastoral contou com a participação de pensadores teólogos que refletem sobre o Papa Francisco e com ele privam todos os dias, “fazendo uma linha eclesiológica atual”: Pe. Rossano Sala e Irmã Nathalie Becquart.
O Pe. Sérgio Leal, da Diocese do Porto, também foi um dos oradores, porque está a realizar a sua tese de doutoramento sobre a Sinodalidade da Igreja.
“Uma pessoa encontra-se a si mesma, precisamente no momento em que se perde através do dom de si”
Sob o tema “Interpelações do Papa Francisco para a Igreja de hoje”, o Pe. Rossano Sala iniciou as Jornadas confidenciando que “a maior lição”, que aprendeu com o Papa, foi que “antes de falar com Deus, é preciso falar com Deus”, reconhecendo que “é um modo de vida que é um desafio para todos”.
O teólogo frisou que “o discernimento é uma necessidade epocal” e, por isso, “é preciso escutar, dar a palavra ao outro e a Deus”. “Um dos desafios da Sinodalidade é de que modo podemos caminhar juntos”, apontou, defendendo o acolhimento dos migrantes, que são “um grande desafio para o mundo globalizado e também para a Igreja”. “Uma pessoa encontra-se a si mesma, precisamente no momento em que se perde através do dom de si. É precisamente ao sair de si mesma, que a Igreja reencontra a sua identidade mais profunda”, afirmou, acrescentando: “Cabe hoje pensar na educação neste sentido: sair de nós próprios, mais do que fazer sobressair o melhor de nós próprios.”
“A proximidade de Cristo revela-se na proximidade das pessoas”
A Irmã Nathalie Becquart abordou o tema “Centralidade da Pessoa de Jesus Cristo no Magistério do Papa Francisco em ordem à renovação da Igreja”, refletindo sobre o pensamento do prelado que “coloca a relação (pessoa) no centro”.
O pontificado do Papa Francisco é centrado em Cristo. A Sinodalidade significa “caminhar juntos ao encontro de Cristo”, em que “todos são responsáveis”. “A unidade e a riqueza em Cristo está na diversidade”, salientou, afirmando que “Cristo não só vive na oração e na Igreja, como também no mundo”. “A proximidade de Cristo revela-se na proximidade das pessoas”, frisou, acrescentando: “A presença de Cristo vê-se na alegria que nos renova sem cessar, e ninguém está excluído desta alegria.”
A subsecretária do Sínodo dos Bispos referiu ainda que a chave das reflexões do Papa Francisco está na “verdadeira mudança”, que “é a do coração”. “O reencontro com Cristo transforma-nos. Renova a humanidade”, sublinhou.
“Uma linguagem verdadeiramente missionária é capaz de transformar tudo”
Já o Pe. Sérgio Leal apresentou o tema “A Caminhada da Igreja Conciliar na promoção da participação ativa de todos os batizados”. “Nesta caminhada sinodal, precisamos de todos, integrando e acolhendo”, afirmou, apelando à “corresponsabilidade”. “Uma linguagem verdadeiramente missionária é capaz de transformar tudo”, frisou, referindo que “quem se coloca a caminho, abre o coração”. “O Espírito Santo tem de ser o motor da Igreja”, sublinhou.
“O Espírito Santo está para os mais frágeis”
O primeiro dia terminou com três testemunhos cristãos. Fátima Ramalhosa, Álvaro Campelo e António Faia falaram sobre a sua experiência de fé e a importância de pertencer a uma comunidade. “Sou uma privilegiada. Sinto que o que surgiu no meu caminho é uma dádiva de Deus”, admitiu Fátima Ramalhosa, defendendo a inclusão de quem está na periferia “porque isso faz diferença na vida das pessoas”. “O Espírito Santo está para os mais frágeis, incluindo aqueles que erram”, defendeu Álvaro Campelo, apelando para a necessidade da alegria do testemunho de Jesus Cristo “porque cativa as pessoas e fá-las regressar”. “Tive um problema de saúde. Encarei-o como um desafio do Senhor. Abrandei devido às dificuldades físicas, mas continuei a trabalhar, porque não tive lesões cerebrais. Isto para dizer que, durante todo o processo, confiei n’Ele. Ele sabe o que fazer e, por isso, não temamos. Não tenhamos medo.”, apelou António Faia, referindo que “uma das riquezas do cristianismo é o desconhecido”.
“Para pôr em ação uma verdadeira corresponsabilidade, é necessário alimentar, ao nível da mentalidade, a confiança e a esperança uns nos outros”
Já no dia 2 de dezembro, o Pe. Rossano Sala apresentou o tema “Igreja, comunidade de discípulos missionários, em saída, de portas abertas e acolhedoras”. “Ajudar os jovens a unificar as suas vidas continuamente ameaçadas, é decisivo”, alertou, frisando que “a nova evangelização deve implicar um novo protagonismo de cada batizado”.
O teólogo defendeu ainda que “é necessário espírito contemplativo” e que “toda a evangelização está fundada sobre a palavra escutada, meditada, vivida, celebrada e testemunhada”. “A evangelização requer familiaridade com a Palavra de Deus e isto exige que as Dioceses, Paróquias, e todos os grupos católicos, proponham um estudo sério e perseverante da Bíblia e promovam igualmente a sua leitura orante, pessoal e comunitária”, afirmou, corroborando as palavras do Pe. Sérgio Leal sobre a corresponsabilidade. “Jesus quer verdadeiros corresponsáveis”, reiterou, salientando: “Para pôr em ação uma verdadeira corresponsabilidade, é necessário alimentar, ao nível da mentalidade, a confiança e a esperança uns nos outros”.
“A Sinodalidade é uma experiência de reconciliação e de perdão”
A Irmã Nathalie Becquart abordou o tema “Ecos do Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade e o que se espera em ordem ao futuro da Igreja”, descrevendo o processo do Sínodo, que “não é só um momento/ocasião”. “O Sínodo é uma experiência de encontro, escuta e diálogo que acolhe a diversidade”, afirmou, exemplificando com a presença do Bispo de Moscovo e do Bispo da Ucrânia. “Apesar das guerras de mais de 100 países, é possível ouvir-se e criar-se diálogo”, referiu, continuando: “A Sinodalidade é uma experiência de reconciliação e de perdão”.
A subsecretária do Sínodo dos Bispos frisou, ainda, que “o Sínodo, em contexto de crise, é um caminho de esperança para a construção da paz”. “A riqueza da Igreja está na diversidade que dá frutos de discernimento como a alegria, o impulso missionário, a consciência de ser Povo de Deus e o aprofundamento da sua vocação”, especificou, enaltecendo a questão central da Igreja. “É necessário colocar os pobres no centro, aprendendo com eles”, apelou, referindo: “A experiência de unidade e diversidade pode ser um dos preciosos contributos para a compreensão e prática da Sinodalidade.”
Por fim, falou da importância da participação das mulheres em processos de decisão, da corresponsabilidade dos Diáconos e Presbíteros, do papel dos Bispos e do Colégio de Bispos.
“Uma Igreja de todos para todos”
D. João Lavrador encerrou as Jornadas Diocesanas de Pastoral sintetizando algumas propostas que lhe surgiram. “Olhar o futuro exige a centralidade na pessoa de Jesus Cristo. Isso exige que nos coloquemos mais em adoração do Verbo Encarnado, descobrindo em todas as suas formas de presença – na Eucaristia, nos pobres, na comunidade, no grito dos injustiçados… e, provavelmente, menos nas nossas devoções particulares”, apontou, defendendo “a experiência comunitária centrada na Eucaristia, na partilha fraterna e na participação ativa”. “A realidade de Igreja, Povo de Deus que fundamenta a atual exigência de Igreja de rosto sinodal, na qual se descobre que cada um dos batizados é igual em dignidade, se exprime na diversidade de carismas e vocações e se reconhece portador de Boa Notícia de Jesus Cristo, em ordem à missão evangelizadora da Igreja”, argumentou.
A terceira proposta passa por uma “Igreja alicerçada no Evangelho e aberta ao mundo, em atitude de diálogo”, convocando “todos os batizados para a formação que capacite a comunidade e cada cristão, para serenamente poder dialogar com o mundo de hoje”. “Termino, convidando à esperança e à alegria que têm o seu fundamento no amor vivido e convivido, e se expressa em duas coordenadas: adoração e serviço”, referiu, apelando “a não ter medo e a abandonar as resistências à renovação pessoal e comunitária”.
Como última proposta, o Bispo diocesano defende uma “profunda reflexão teológico-pastoral” porque se vive “em tempos de crise da verdade e da falta de aprofundamento dos conceitos e das linhas condutoras da vida humana”. “Este Sínodo, pela sua profundidade e abrangência, o que ele se propõe e o seu alcance, exigem reflexão teológica séria e discernimento pastoral iluminado pela ação do Espírito e com projeção renovadora”, referiu, salientando: “Exige-se, nomeadamente, uma profunda reflexão e um aprofundamento teológico no âmbito da antropologia cristã, capacitando-a, deste modo, para o diálogo para outros modelos antropológicos.”
“A caminhada sinodal também é escutar os que estão mais distantes e fora”
As Jornadas Diocesanas contaram ainda com o apoio do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil. “Estou certo de que isto será o início de um percurso de reflexão que se quer para a Diocese de Viana do Castelo”, confidenciou Mons. Caldas, enaltecendo “a envolvência e o dinamismo sinodal” diocesano desde o clero, agentes pastorais e leigos. “Também desperta a reflexão, não ficando no teórico, mas depois poder implicar as pessoas na conversão pessoal, espiritual, pastoral e eclesial.”
O Vigário-geral confidenciou ainda que, numa próxima vez, é preciso envolver mais os jovens, uma vez que a sua participação foi “pouca”. “Para sermos Igreja em saída, temos de escutar e envolver outros, incluindo-os”, defendeu, concluindo: “A caminhada sinodal também é escutar os que estão mais distantes e fora.”
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