A habitação, em Portugal, é hoje uma das mais caras da Europa em relação ao rendimento disponível, revela um novo relatório da Comissão Europeia. O estudo, intitulado “Housing in the European Union: Market Developments, Underlying Drivers, and Policies”, aponta Portugal como um dos países onde os preços das casas mais dispararam entre 2014 e 2024, um aumento superior a 200%, apenas ultrapassado por alguns países da Europa Central e de Leste.
“Entre 2014 e 2024, os preços das casas em Portugal cresceram mais de 200% em termos nominais”, indica o relatório, sublinhando que “em termos reais, o aumento ultrapassou 50%, colocando o país entre os seis com maior valorização”.
A Comissão Europeia assinala que o ritmo de subida dos preços superou em cerca de 10% o crescimento médio dos rendimentos, agravando a perda de acessibilidade à habitação, especialmente para jovens e famílias de rendimentos médios. “Os preços das casas na UE cresceram cerca de 10% mais rápido do que os rendimentos, reduzindo a acessibilidade, mas em Portugal, essa diferença é muito superior à média europeia”, lê-se no documento.
Lisboa e o Porto são identificadas como áreas de “forte pressão urbana”, onde a escassez de novas construções, as restrições de solo e o aumento dos arrendamentos turísticos têm “empurrado a classe média para fora dos centros urbanos”.
O relatório aponta diretamente para a influência das plataformas de alojamento temporário e dos investidores institucionais. “Há preocupações crescentes de que os arrendamentos de curta duração estejam a reduzir a oferta de habitação permanente e a fazer subir as rendas nas zonas turísticas”, refere.
Segundo a análise, a oferta de novas casas em Portugal “tem ficado muito aquém da procura”, resultado de “regulamentação pesada, custos de construção elevados e escassez de mão-de-obra”.
A Comissão considera que os incentivos à compra, como deduções fiscais nos juros ou apoios diretos ao crédito, têm efeitos contraproducentes, por “alimentarem o aumento dos preços”. “As políticas do lado da procura, como subsídios ao crédito, tendem a inflacionar os preços ao longo do tempo”, alerta o documento, acrescentando que “as reformas do lado da oferta, como alterações no uso do solo, investimento em habitação social e melhoria de infraestruturas são mais eficazes.”
O relatório sublinha ainda que a redução do parque público de arrendamento em Portugal agravou a vulnerabilidade das famílias com rendimentos baixos e médios, notando que o país “segue a tendência europeia de declínio da habitação social”.
Os jovens adultos portugueses estão entre os que mais demoram a sair da casa dos pais. Segundo dados citados no relatório, quase metade dos jovens entre os 18 e os 34 anos vivem ainda com os pais, uma das taxas mais elevadas da União Europeia. “Os jovens têm dificuldades em obter crédito devido à falta de capital ou de estabilidade laboral”, conclui o documento, acrescentando que “as elevadas rendas nas principais cidades tornam difícil a emancipação”.
A nível europeu, o relatório indica que os preços da habitação quase triplicaram desde o ano 2000 e que o problema da acessibilidade “é agora uma prioridade política em quase todos os Estados-Membros”.
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